Folha de S.Paulo

São Paulo não faz bem coisas que melhor sabia fazer

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O futebol no tempo das redes sociais vem em ondas, como o mar. Produzem repetições de verdades absolutas que nem sempre são tão definitiva­s. Abel Braga que o diga. O início de 2021 criou também a certeza de que Fernando Diniz não tem alternativ­as táticas e, por isso, o time despenca na briga pelo troféu do Nacional.

Mas o São Paulo liderou por oito rodadas e fechou 2020 com o melhor ataque do campeonato, defesa menos vazada, único invicto como mandante e com apenas um gol sofrido pela pressão em sua saída de bola.

Em vinte dias do novo ano, tem a segunda pior campanha do Brasileiro, só dois pontos ganhos, à frente apenas do Botafogo. Não é falta de alternativ­a tática. O São Paulo parou de fazer bem o que fazia de melhor.

Não se trata da saída de jogo, que sempre foi um risco. A obsessão por fazer os lances se iniciarem pela faixa central do campo de defesa, abrindo os zagueiros pelos dois lados, sempre assustou. Mas o que havia de melhor era a capacidade de inversões de posições, agrupar os dois meias do mesmo lado, concentrar mais jogadores para ter superiorid­ade numérica do lado onde está a bola e surpreende­r com infiltraçõ­es em tabelas rápidas.

O São Paulo não está conseguind­o fazer.

E, mesmo assim, sempre se fala da tal saidinha.

O Fluminense entregou um gol ao Coritiba em erro de saída de bola. O Palmeiras entregou com Émerson Santos, contra o América-MG. Mas a discussão sobre a saída curta é sempre no São Paulo.

Há dois fatores que podem contribuir para a crise. O primeiro é o fato de não repetir o time que alcançou a liderança desde 23 de dezembro, quando perdeu para o Grêmio por 1 x 0 em Porto Alegre. Mesmo com o resultado ruim, foi sua última boa atuação.

O outro fator é a juventude. Você já leu aqui sobre os cinco meninos de Cotia, titulares durante boa parte da campanha, que tornaram a equipe de 2020 mais jovem do que os Menudos de 1985. Brenner, Gabriel Sara, Igor Gomes, Luan e Diego Costa têm 21 anos —Diego voltou à reserva.

Dos cinco Menudos de Cilinho, o mais novo era Muller (19 anos), o mais velho era Márcio Araújo (25), Nelsinho tinha 23, Sídnei 22 e Silas estava com 20. Aquele time não sentiu nenhum peso. O São Paulo era campeão de 1980, 1981, não tinha jejum de troféus e os jogadores eram extraordin­ários.

Os de hoje ainda têm de se provar.

Fernando Diniz será o técnico contra o Atlético-GO. Não será demitido antes da partida do domingo (31) e terá tempo para recuperar a formação titular e a tranquilid­ade de um elenco, agora também vítima de atentado por criminosos que atacaram o ônibus a caminho do Morumbi, com paus e bombas.

Em vez de ajudar, os vândalos tornaram mais difícil a situação, porque nos grandes momentos da equipe, os sorrisos estavam estampados nos rostos de seus meninos. Agora, as expressões são tensas, como as de Tiago Volpi e Reinaldo discutindo logo após o apito final.

O São Paulo dá todos os sinais de que não será campeão brasileiro. Mas sua única chance é voltar a jogar feliz.

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