Folha de S.Paulo

A triste piada do chanceler

Ele é ótimo contando anedotas, mas quem ri por último são os indianos e os chineses

- Claudia Tajes Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de ‘Macha’

Agora que ficou definitiva­mente provado que a política externa do Brasil é tudo, menos política, e que o chanceler é tudo, menos chanceler, o governo Bolsonaro vai ter de arrumar alguma desculpa para manter no cargo o pateta olavista. Perdão pelo pleonasmo.

As desculpas, como a gente já se acostumou a ouvir, não precisam fazer sentido. É tipo fritar hambúrguer para virar embaixador nos Estados Unidos, ou ser terrivelme­nte evangélico para merecer uma indicação ao STF. A desculpa é livre, mera formalidad­e quando o secular conceito da cara de pau não existe mais.

É o método de quem diz que não disse o que disse e apaga vídeos e fotos como se apagasse junto as bobagens que comete. Sobre isso, um chiste.Não parece que a capacidade de expressão do presidente está mais rudimentar a cada aparição?

É o que dá a pessoa só se comunicar com os aduladores do cercadinho. Nunca a necessidad­e de um exercício argumentat­ivo, nunca uma contraposi­ção fundamenta­da, nunca a citação de qualquer livro que não sejam as sagradas escrituras. O vazio, o vazio.

Voltando ao chanceler, que um dia comparou Bolsonaro a Jesus Cristo, talvez um dos problemas para sumir com um colaborado­r tão dedicado seja onde pôr tamanha inépcia.

Existem milhões de profission­ais mais qualificad­os para qualquer cargo em que decidam enfiar o borra-botas. Assim como existem milhares de candidatos infinitame­nte mais capazes para ocupar o lugar que ele ainda degrada.

Mas não se pode perder a esperança. Alguém com o rabo muito preso conseguiu asilar o Vai, Traub no Banco Mundial. É a única explicação possível. Vai que um coitado com a batata assando consiga realocar o chanceler também?

Arruma uma boca bacaninha para ele ou o que você fez em algum verão passado vai surgir nas redes com todos os detalhes mais sórdidos.

Até a entrega desta coluna, mesmo com sua vergonhosa atuação nas tratativas das vacinas, o chanceler continuava firme no posto. Se o governo precisar de desculpas para justificar o injustific­ável, aqui vai uma: ele é ótimo contando piadas de português. De povos asiáticos, também. Só que quem ri por último são os indianos e os chineses.

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Cynthia Bonacossa

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