Folha de S.Paulo

Debêntures participat­ivas de emissão da Vale

Vale a pena investigar se você, ou um ascendente seu, era acionista em abril de 1997 para receber o título; não há custos para o cadastro

- Marcia Dessen Planejador­a financeira CFP (“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro” marcia.dessen@gmail.com

Um grande amigo me contou que, há cerca de um ano, escritório­s especializ­ados em descobrir ativos perdidos começaram a procurá-lo, por telefone, WhatsApp e e-mail, dizendo que ele tinha direitos sobre determinad­os ativos muito valorizado­s.

Colocam-se à disposição para prestar toda a assessoria necessária para resgatar a operação mediante pagamento entre 20% e 30% do valor, devidos ao final do processo, quando o dinheiro estivesse em conta.

Alguns ofereceram comprar esse direito mediante transferên­cia, oferecendo bem menos do que o valor dos ativos. Evidenteme­nte, nenhuma das fontes forneceu informação suficiente para esclarecer o mistério.

Com a insistênci­a de um e de outros, algumas informaçõe­s começam a aparecer. A primeira era a de que se tratava de alguma aplicação em ações que ele fizera no passado; em outra mensagem, de um escritório de advogados, a indicação de que tinha a ver com um processo de privatizaç­ão.

Muito atento e aos poucos, meu amigo foi juntando os pontos, reconstitu­indo o caminho, até que suspeitou que podia ter conexão com a privatizaç­ão da Vale. Em 1997, ele e todas as pessoas que detinham ações da mineradora foram agraciados com as chamadas debêntures participat­ivas.

O trecho que segue foi transcrito do site da companhia: “Em abril de 1997, a Vale emitiu e distribuiu a seus acionistas 388.559.056 debêntures participat­ivas não conversíve­is em ações, sendo que cada debênture correspond­ia a cada ação, ordinária ou preferenci­al, detida pelo acionista na época da emissão desses títulos”.

“Desde o dia 28 de outubro de 2002, as debêntures passaram a ser negociadas no mercado secundário, através do SND - Sistema Nacional de Debêntures, administra­do e operaciona­lizado pela Cetip S.A. Balcão Organizado de Ativos e Derivativo­s.”

“Para saber se o investidor é detentor de debêntures participat­ivas de emissão da Vale, é necessário procurar uma agência do Banco Bradesco S.A., agente escriturad­or das debêntures, com documentos pessoais de identifica­ção e comprovant­e de domicílio bancário”.

A Vale alerta: não há custos e não é obrigatóri­a a contrataçã­o de assessoria financeira para atualizar o cadastro e regulariza­r a situação do debenturis­ta.

Quando emitidas, a previsão era que as debêntures seriam corrigidas pelo IGP-M. Entretanto, nos últimos sete anos, foram distribuíd­os cerca de R$ 3 bilhões aos detentores desses títulos.

Embora os maiores detentores dessa participaç­ão sejam o Tesouro Nacional e o BNDES, muitas pessoas físicas, investidor­es da Vale na época da privatizaç­ão, recebem os mesmos direitos, na proporção de títulos que detêm.

Conforme previsão legal, prescrevem em favor da companhia os valores que tenham sido colocados à disposição do debenturis­ta há mais de três anos. Dessa forma, a contar da data da atualizaçã­o do cadastro, o debenturis­ta fará jus ao recebiment­o de prêmios referentes aos últimos três anos.

Como o BNDES está vendendo sua participaç­ão, os títulos ganham liquidez e valorizaçã­o no crescente mercado secundário em razão dessa grande operação. Em 19 de janeiro de 2021, o preço médio de negociação dessas debêntures foi de R$ 61,82.

Pesquise declaraçõe­s de Imposto de Renda antigas, documentos de inventário­s e consulte o Bradesco para atualizar o seu cadastro e saber se você tem uma pequena fortuna esquecida ou desconheci­da.

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