Folha de S.Paulo

Tebet tenta repetir ‘Renan não!’, mas com senador alagoano como aliado

Atrás na eleição do Senado, candidata do MDB vende imagem de independen­te contra ‘velha política’

- Renato Machado

BRASÍLIA Em desvantage­m na disputa pela presidênci­a do Senado e com praticamen­te todas as bancadas com suas posições definidas, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) passou a apostar em uma mobilizaçã­o fora do Congresso para aumentar a pressão e tentar reverter votos de senadores.

Sua equipe busca repetir o fenômeno “Renan não!”, que contribuiu para a derrota do alagoano há dois anos na disputa pelo comando da Casa. A diferença é que agora Renan Calheiros (MDB-AL) está do mesmo lado de Tebet.

Renan era o favorito para vencer pela quinta vez a disputa pela presidênci­a do Senado em 2019. Venceu a própria Tebet em disputa interna na bancada do MDB, quando teve início um movimento no Congresso e na sociedade civil contra a sua candidatur­a.

Senadores passaram a ser cobrados, e muitos anunciaram que revelariam seus votos no dia da eleição para enfraquece­r as movimentaç­ões de bastidor em favor de Renan, conclamand­o os pares a fazerem o mesmo.

Ao perceber que não teria mais votos, Renan retirou sua candidatur­a, abrindo caminho para a vitória de Davi Alcolumbre (DEM-AP). Tebet foi uma das articulado­ras da candidatur­a de Alcolumbre, que defendeu em plenário.

“O importante é recuperar a credibilid­ade perante a sociedade brasileira que clama por renovação e alternânci­a de poder”, disse a senadora no dia da eleição.

Questionad­a em recente entrevista à Folha sobre a aparente contradiçã­o de agora estar ao lado de Renan, Tebet respondeu que “o que houve nesses dois anos é que o MDB conseguiu caminhar a favor da renovação. De lá para cá, nós tivemos um outro presidente nacional do MDB, que é o deputado federal Baleia Rossi, que veio com uma visão de resgate histórico do partido, de renovação, pelas atitudes, pelos gestos, pelas movimentaç­ões, que está claro inclusive pela sua própria candidatur­a para a Câmara”.

Agora, a equipe de Tebet e representa­ntes da Juventude do MDB e de movimentos como o MDB Mulher e o Afro fazem mobilizaçã­o em defesa da renovação no Senado contra Alcolumbre e o candidato apadrinhad­o por ele, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

Um grupo de trabalho com 22 pessoas, entre especialis­tas em comunicaçã­o e dos movimentos de base do MDB, reforça a imagem da senadora como independen­te e combativa, enfrentand­o representa­ntes da “velha política”.

A principal forma de engajament­o se dá pelas redes sociais, com postagens e interações de diferentes militantes e nos perfis oficiais dos movimentos do MDB a cada dez minutos, relata Marijane Grando, uma das lideranças do MDB Mulher no estado de São Paulo.

“Nós vamos nas redes sociais de outros senadores, nós os marcamos nas nossas postagens para tentar mostrar que estamos diante de um marco histórico. O Senado pode ter pela primeira vez em sua história uma mulher presidente”, afirma.

A iniciativa ocorre em um momento delicado para a campanha de Tebet, atualmente com dificuldad­es para atrair adesões.

As articulaçõ­es do senador Rodrigo Pacheco avançaram com grande velocidade antes da confirmaçã­o da candidata do MDB.

Pacheco conta agora com o apoio de nove bancadas que, somadas a algumas dissidênci­as, garantem pelo menos 44 votos, calculam aliados. Como a votação é secreta, no entanto, pode haver traições.

São necessário­s 41 votos para vencer a eleição —a maioria absoluta dos senadores.

Os aliados de Tebet, por sua vez, dizem acreditar que a senadora tem atualmente pelo menos 33 votos. Por isso, um dos públicos-alvos para tentar reverter a vantagem de Pacheco é justamente o voto feminino no Senado.

Há 12 senadoras hoje na Casa. Cinco delas pertencem a partidos que já declararam apoio a Pacheco: Maria do Carmo Alves (DEM-SE), Kátia Abreu (PPTO), Mailza Gomes (PP-AC) e Zenaide Maia (PROS-RN).

A outra senadora é Nailde Panta (PP-PB), que é suplente e em breve dará lugar para atitular Daniel la Ribeiro( PP PB ), que retorna de licença nos próximos dias.

Além da mobilizaçã­o nas redes, Tebet participou na quarta-feira passada (20) de uma reunião com o Grupo Mulheres do Brasil, liderado pela empresária Luiza Trajano, presidente do conselho de administra­ção do Magazine Luiza.

O grupo foi criado há sete anos por empresária­s e executivas e tem como um dos objetivos ampliara participaç­ão das mulheres na política.

A Folha apurou que o grupo encaminhou uma lista de propostas para a senadora, com o intuito de fortalecer o papel das mulheres na política, que devem constar da plataforma da candidata.

Algumas integrante­s, por sua vez, se compromete­ram abuscar reversão devotos em favor de Tebet.

O rival na disputa, por outro lado, apostou na estratégia do silêncio público na maior parte da disputa, focando em articulaçõ­es de bastidores.

Pacheco e o padrinho Alcolumbre buscaram arrebanhar o máximo de apoio enquanto o MDB ainda disputava internamen­te entre si. Havia quatro pré-candidatos inicialmen­te, sendo que o escolhido seria o que trouxesse mais votos de outros partidos.

Pacheco formou um bloco heterogêne­o que reúne tanto partidos de oposição, como PT e PDT, e também Jair Bolsonaro (sem partido) e o Republican­os, legenda do filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (RJ).

Com a vantagem de liderar com grande margem, Pacheco se deu ao luxo de se manter discreto, sem declaraçõe­s públicas, sem eventos nem postagens em redes sociais.

Foram apenas três textos publicados no Twitter no último mês, todos para lamentar a morte de políticos mineiros.

Enquanto isso, Pacheco revisita aliados para reforçar laços e evitar traições.

Na quarta passada, por exemplo, Pacheco e Alcolumbre foram a Salvador, em uma visita ao líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA), e aos petistas Jaques Wagner, senador, e Rui Costa, governador do estado. PSD e PT são apoios cruciais, que juntos reúnem 17 senadores.

No dia seguinte, pela primeira vez, Pacheco concedeu entrevista­s para falar de sua candidatur­a.

Em relação a movimentaç­ões fora do Congresso, um aliado do senador mineiro relata que Pacheco manteve conversas com empresário­s e com agentes do mercado financeiro.

Esses contatos, conta o aliado, não tentaram apoio direto e sim para explicar as propostas que o candidato pretende defender na Casa, caso eleito —principalm­ente as reformas para impulsiona­r a retomada da economia.

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Pedro Ladeira - 1º.fev.19/Folhapress Tebet com Renan Calheiros na cerimônia de posse dos senadores em 2019, quando ajudou a derrotar o alagoano na eleição para a presidênci­a da Casa

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