Folha de S.Paulo

AFordeo Befiex

- Antonio Delfim Netto Economista e ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici). Escreve às quartas

Depois de décadas, a Ford decidiu sair do Brasil. É uma notícia triste, com um ar de melancolia. Alguns jornalista­s lamentaram a saída, mas lembraram os subsídios que a empresa recebeu. Não mencionara­m que alguns destes, em geral concedidos a todas as empresas de um setor, foram necessário­s para compensar o “custo Brasil”: emaranhado de tributos, inseguranç­a jurídica, ambiente ruim de negócios, infraestru­tura deficiente e burocracia excessivam­ente lenta.

Mas o desenho do subsídio importa. No início dos anos 70, o grupo Ford-Philco propôs que o país participas­se da produção do “carro mundial”. A ideia era fabricar partes dos veículos em países de menor custo para depois fazer a montagem final no local mais vantajoso. Esse modelo de fragmentaç­ão da produção evoluiu muito nas últimas décadas, dando forma às cadeias globais de valor que atualmente ocupam enorme espaço na produção e no comércio global.

O projeto incluía uma fábrica nova de motor, destinado parte ao mercado local e parte para exportação, e uma fábrica nova de autorrádio­s totalmente para o mercado externo.

O objetivo do grupo era exportar em larga escala. Dispôs-se a assumir um compromiss­o de dez anos de exportação desde que o país garantisse os incentivos fiscais vigentes. Duas condições foram impostas pelo governo:

1) o valor dos bens importados anualmente com isenção de tributos (máquinas, equipament­os, aparelhos, ferramenta­s e produtos intermediá­rios) não poderia ser superior a um terço do valor líquido da média anual da exportação de produtos manufatura­dos; e 2) os bens importados sob isenções do programa, somados às importaçõe­s sob regime de “drawback” ou outro regime especial não poderiam ultrapassa­r 50% do valor total exportado.

Essa era a estrutura do Befiex (Programa Especial de Exportação). O país visava, além do fortalecim­ento do balanço de pagamentos, dar um salto qualitativ­o na sua pauta de exportação, até então dominada pelo café, têxteis, calçados e mobiliário. A negociação do acordo foi longa e difícil. O presidente Lee Iacocca esteve várias vezes no Brasil. Na formalizaç­ão do compromiss­o compareceu o “chairman”, Henry Ford 4º.

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Fonte: Anfavea

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