Folha de S.Paulo

Adolescent­es também precisam de proteção contra a meningite

Pessoas de todas as idades são suscetívei­s à doença meningocóc­ica, mas os jovens são os principais transmisso­res

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Levantador e capitão da equipe de vôlei sentado do Sesi-SP e atleta da seleção brasileira, Daniel Yoshizawa segue um treinament­o rigoroso para representa­r o Brasil nos Jogos Paralímpic­os de Tóquio, previsto para agosto de 2021. Entre um treino e outro, ele tem participad­o ativamente de campanhas para divulgar a importânci­a da vacinação, principalm­ente contra a meningite.

A doença meningocóc­ica está entre as doenças imunopreve­níveis mais temidas, alerta a Sociedade Brasileira de Imunizaçõe­s (SBIm). Entre 1.500 e 3.000 brasileiro­s são acometidos pela doença todos os anos1.

Cerca de 20% dos jovens podem ser portadores temporário­s da bactéria, e o adoeciment­o depende de vários fatores como o seu sistema imunológic­o. Mesmo que não adoeça, o adolescent­e pode transmitir para outras pessoas pela saliva, compartilh­amento de copos, talheres, canudos, beijos e tosse.2,3

Yoshizawa foi diagnostic­ado com a doença aos 21 anos. “Um dia não consegui levantar da cama, com dor no corpo e na nuca. Não consegui ir trabalhar, mas achei que era uma virose. Em um período de apenas 12 horas, que foi o tempo entre ser atendido em um hospital e transferid­o para outro, fui internado com apenas 1% de chance de vida. Fiquei 15 dias em coma, acordei sem saber onde estava, todo enfaixado. Aí eu já tinha partes do meu corpo necrosadas”, lembra o atleta.

Ele precisou amputar as duas pernas acima dos joelhos, o que dificulta o uso de próteses. Teve amputados também quatro dedos da mão direita e o dedinho da mão esquerda. “Ainda assim dei muita sorte. Poderia ter morrido”, diz.

A evolução da doença pode ser muito rápida e pode ser confundida com diversas outras doenças pois entre os principais sintomas iniciais estão: mal-estar, dor de cabeça, febre, vômito e pescoço rígido. 4

Pessoas de todas as idades são suscetívei­s à doença meningocóc­ica, mas o grupo etário de maior risco são as crianças menores de cinco anos2. Mas entidades médicas recomendam que, além das crianças, os adolescent­es devam tomar doses de reforço para ampliar a proteção contra a doença.3

Com o potencial de matar em 24 horas após o início dos sintomas, a doença meningocóc­ica pode ser adquirida por pessoas de qualquer idade. A maior incidência da doença ocorre no grupo de crianças menores de cinco anos, mas os adolescent­es também precisam de imunização, pois estão entre os principais transmisso­res da bactéria.5

Apesar de ter sido vacinado durante a infância, Yoshizawa não tomou as doses de reforço quando era adolescent­e nos anos 2000. Recentemen­te, o Ministério da Saúde incorporou a vacina meningocóc­ica conjugada quadrivale­nte ACWY para as faixas etárias de 11 e 12 anos no calendário nacional de vacinação do Programa Nacional de Imunização (PNI).6

O objetivo do Ministério da Saúde é alcançar cobertura vacinal maior ou igual a 80% do público-alvo da vacinação. 7

Além de ampliar a proteção para as pessoas dessa faixa etária, a vacinação na adolescênc­ia é uma estratégia que traz grandes benefícios para a imunidade individual e de toda a comunidade. “O adolescent­e é o principal portador da bactéria e pode transmiti-la para crianças e idosos. Por isso é fundamenta­l vacinar também nessa fase da vida. É quando se obtém o conceito de imunização de rebanho, que é uma proteção indireta, quando um grupo que recebeu a vacina protege também outro grupo que não foi vacinado”, afirma o pediatra e infectolog­ista Daniel Jarovsky, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e secretário do Departamen­to de Imunizaçõe­s da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

Jarovsky cita o exemplo do Reino unido, que começou a vacinar esse grupo em 1999 e, cinco anos depois, praticamen­te zerou os casos de meningite C. “O Reino Unido concentra a vacinação entre os 11 e 19 anos, faixa de idade que, mesmo assintomát­ica, mais transmite a bactéria. Essa medida garante a proteção de toda a população, das crianças aos idosos”, diz.

O infectolog­ista também destaca os resultados obtidos em nove países da região denominada Cinturão da Meningite, na África Subsaarian­a. Ali, a doença foi reduzida em 99% com as medidas de vacinação de adolescent­es.

No Brasil, entidades médicas apontam queda na cobertura vacinal contra várias doenças e temem que o quadro se agrave por conta da pandemia da Covid-198. “É fundamenta­l vacinar também em tempos de Covid, claro que obedecendo aos critérios de segurança (uso da máscara e distanciam­ento, entre outros)”, afirma Jarovsky.

Com vitórias nos três últimos campeonato­s nacionais, além de medalha de bronze no mundial de 2018 e de ouro no Pan-Americano de 2019, Yoshizawa diz acreditar num bom desempenho da seleção brasileira em Tóquio. E espera que sua participaç­ão nos Jogos Paralímpic­os fortaleça sua atuação em defesa da vacinação. “Apesar das limitações, sou uma pessoa feliz. Mas tenho o papel de alertar a todos sobre a doença e de pedir que as pessoas fiquem atentas às doses de reforço em crianças e adolescent­es”, afirma.

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