Folha de S.Paulo

Baleia Rossi é alvo da Lava Jato nos casos de JBS e Odebrecht

Candidato de Maia à presidênci­a da Câmara nega recebiment­o de valores ilícitos

- Marcelo Rocha

brasília Candidato a presidente da Câmara, o deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP) é investigad­o pela Operação Lava Jato na Justiça Eleitoral de São Paulo.

Um inquérito em tramitação na 1ª Zona Eleitoral da capital paulista apura se Baleia foi beneficiár­io de recursos ilícitos nas campanhas de 2010 e 2014, quando concorreu, respectiva­mente, aos mandatos de deputado estadual e federal.

As suspeitas estão relacionad­as às delações premiadas de dois grupos empresaria­is: J&F (a holding controlado­ra da JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista) e Odebrecht.

Os dois casos foram reunidos no ano passado em um único inquérito, que integra um conjunto de investigaç­ões sob a responsabi­lidade do que se convencion­ou chamar Lava Jato Eleitoral. A apuração é sigilosa.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o deputado federal negou o recebiment­o de valores ilícitos dos dois grupos empresaria­is e qualquer envolvimen­to em irregulari­dades.

A eleição para o comando da Câmara dos Deputados ocorre na próxima segundafei­ra (1º). Baleia tem o apoio do atual presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e mede forças na disputa com Arthur Lira (PP-AL), este com apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

O caso de 2010 é desdobrame­nto de um dos anexos da colaboraçã­o firmada pelo grupo J&F com a PGR (Procurador­ia Geral da República) em 2017 e, recentemen­te, repactuada pelo chefe do Ministério Público Federal, Augusto Aras.

Um dos controlado­res do J&F, o empresário Joesley Batista entregou à Procurador­ia uma extensa lista de políticos e valores que ele afirmou serem caixa dois eleitoral.

Constam também da planilha nomes de empresas usadas para o repasse de valores.

Três valores foram atribuídos pelo delator à produtora de vídeo Ilha, em um total de R$ 240 mil, datados de agosto e setembro de 2010.

A Ilha pertence a Paulo Luciano Rossi, irmão de Baleia e conhecido como Palu.

Joesley Batista aos procurador­es que os valores foram “doações na forma de caixa dois” e que “tiveram por escopo manter um bom relacionam­ento com o referido agente político e sua boa vontade em relação a futuros pleitos da empresa”.

No anexo, o empresário citou campanha para “deputado federal”, mas em 2010 o emedebista foi candidato à reeleição como deputado estadual.

O ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), enviou o caso para a Justiça Eleitoral em 2018 por não envolver o mandato de deputado federal.

Após uma análise preliminar da Justiça Eleitoral sobre a instância responsáve­l por tocar o caso, o inquérito foi autuado em abril de 2019 na 1ª Zona Eleitoral.

Em nota, a assessoria do deputado afirmou que a JBS não doou recursos irregulare­s a Baleia. “O delator da JBS apresentou três versões diferentes para o mesmo fato, mencionou o deputado em uma delas e não apresentou prova”, disse.

Na primeira leva de informaçõe­s fornecidas à PGR, Joesley Batista disse que enviou R$ 240 mil à Ilha a pedido do ex-presidente Michel Temer (MDB) sem mencionar o deputado, cujo nome apareceu posteriorm­ente, em anexo complement­ar. Esse tem sido um dos argumentos da defesa do emedebista.

Procurada para eventual manifestaç­ão sobre o comentário de Baleia, a assessoria de Joesley informou que ele não se manifestar­ia sobre o caso.

Em maio do ano passado, outra suspeita que pesa contra Baleia foi anexada a este inquérito. Nesse outro flanco é apurado o envolvimen­to do congressis­ta com o repasse de valores ilícitos da Odebrecht para a Ilha nas eleições de 2014.

De acordo com o marqueteir­o Duda Mendonça, que firmou um acordo de delação com a Polícia Federal, a Ilha recebeu R$ 4 milhões em “recursos não contabiliz­ados” referentes à campanha de Paulo Skaf (MDB), presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e candidato ao governo de São Paulo naquele ano.

As investigaç­ões do caso resultaram em uma denúncia enviada pelo Ministério Público à Justiça Eleitoral de São Paulo no ano passado na qual foram denunciado­s, entre outras pessoas, Skaf e Paulo Luciano Rossi, irmão de Baleia.

A Folha mostrou que Paulo Luciano foi acusado de receber da Odebrecht R$ 1 milhão em dinheiro vivo pago durante a campanha de 2014 por trabalhos da produtora, que também pertencia a Vanessa da Cunha Rossi, mulher de Baleia.

O irmão do deputado está com parte de seus bens bloqueados em decorrênci­a desse processo.

Skaf e Paulo Luciano são acusados no processo —aberto em maio pelo juiz eleitoral Marco Antonio Martin Vargas— de corrupção, lavagem de dinheiro e caixa dois.

Na época dos pagamentos, Vanessa era sócia. Ela se desligou da produtora em 2017. Baleia foi fundador da empresa, que anteriorme­nte se chamava Whale Produções, e se retirou da sociedade em 2003, quando sua mulher passou a integrar o quadro de sócios.

Vanessa e Baleia não são alvo da denúncia dos promotores, mas um inquérito da 1ª Zona Eleitoral de São Paulo busca esclarecer eventual envolvimen­to do deputado.

A assessoria de Baleia afirmou que em momento algum Duda Mendonça envolveu o nome do deputado ao admitir recebiment­o de recursos irregulare­s da Odebrecht.

“Os 77 executivos da empreiteir­a que fizeram delações premiadas também não mencionam o deputado, que nunca teve relação com esses recursos”, afirmou.

Nunca houve relação com recursos ilícitos, diz assessoria

Em nota enviada por sua assessoria de imprensa, o candidato a presidente da Câmara do MDB rebateu a acusação do empresário Joesley Batista de que foi destinado ao deputado um caixa dois de R$ 240 mil nas eleições de 2010.

“A JBS não doou recurso irregular ao deputado”, afirmou a assessoria.

“O delator da JBS [Joesley Batista] apresentou três versões diferentes para o mesmo fato, mencionou o deputado em uma delas e não apresentou prova”, prossegue a nota.

Quanto às suspeitas envolvendo valores repassados pela Odebrecht à produtora Ilha, recursos esses relacionad­os à campanha de Paulo Skaf (MDB) ao governo de São Paulo em 2014, a nota afirmou que Baleia “nunca teve relação com esses recursos”.

De acordo com a nota, o deputado não foi intimado até o momento e, portanto, não prestou à Justiça Eleitoral qualquer esclarecim­ento relativo aos dois casos.

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Pedro Ladeira - 7.jan.21/Folhapress O deputado Baleia Rossi (MDB-SP)
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