Folha de S.Paulo

Moraes concede prisão domiciliar para blogueiro bolsonaris­ta

- Marcelo Rocha

brasília O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu nesta terça-feira (26) converter em domiciliar a prisão preventiva do jornalista Oswaldo Eustáquio Filho, apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele terá de usar tornozelei­ra eletrônica.

A decisão do ministro, relator do inquérito que apura a organizaçã­o de atos antidemocr­áticos, levou em consideraç­ão uma manifestaç­ão da PGR (Procurador­ia Geral da República).

No parecer sobre o caso, a PGR afirmou que os “autos [do inquérito] não se encontram suficiente­mente instruídos para possibilit­ar efetiva análise de autoria e materialid­ade apta embasar imediata denúncia a ser oferecida junto ao Supremo Tribunal Federal”.

Nesta terça, o Painel revelou que a Polícia Federal enviou ao ministro relatório informando que, ao término de dezenas de diligência­s realizadas, não encontrou, por ora, elementos suficiente­s para indiciar pessoas pela realização ou financiame­nto de atos antidemocr­áticos.

O inquérito foi aberto em 21 de abril por Moraes e mira integrante­s da militância bolsonaris­ta que participar­am de manifestaç­ões com pautas favoráveis ao AI-5 e ao fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.

Moraes já determinou mandados de busca e apreensão, quebra do sigilo bancário e outras diligência­s contra dez deputados federais, um senador e diversos outros apoiadores do presidente da República.

O vereador Carlos Bolsonaro (Republican­os-RJ) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filhos do presidente da República, foram ouvidos por vontade da PF.

Carlos disse que não é “covarde ou canalha a ponto de utilizar robôs e omitir essa informação”. Conhecido como filho 02, o vereador admitiu relação com contas pessoais do pai nas redes sociais.

Eustáquio foi preso no dia 18 de dezembro por ordem de Moraes. O ministro determinou a prisão preventiva do militante bolsonaris­ta após ele descumprir ordem de prisão domiciliar —Eustáquio já tinha sido sido alvo de prisão preventiva em junho.

Na ocasião, o relator do inquérito entendeu que o investigad­o “continuou a insistir na prática dos mesmos atos que lhe foram anteriorme­nte vedados por expressa determinaç­ão da Justiça, situação que revela a inutilidad­e das medidas cautelares impostas”.

Após um pedido da defesa ao Supremo, a PGR reavaliou a necessidad­e de mantêlo na cadeia.

A Procurador­ia propôs “por conveniênc­ia da instrução criminal e em razão do reiterado comportame­nto subversivo do investigad­o” a imposição de medidas cautelares.

Além de converter a prisão preventiva em domiciliar e de determinar o uso de tornozelei­ra, Moraes proibiu Eustáquio de receber visitas ou conceder entrevista­s, salvo mediante autorizaçã­o judicial.

Ele está proibido de manter contatos, inclusive telefônico e telemático, com uma série de pessoas, alvos da investigaç­ão. Foi-lhe imposta também restrição a frequentar redes sociais em nome próprio, por intermédio de assessoria ou qualquer outra pessoa, física ou jurídica.

À PF Eustáquio negou ter relação com a organizaçã­o e o financiame­nto de manifestaç­ões de apoio ao chefe do Executivo e que defenderam o fechamento do Congresso e do Supremo.

Bolsonaro foi a um desses eventos, no quartel-general do Exército, em Brasília. Em outro, militantes lançaram rojões em direção ao STF.

Uma das linhas de investigaç­ão da PF mira o “gabinete do ódio”, estrutura que conta com assessores especiais lotados na Presidênci­a. O gabinete é o responsáve­l por parte da estratégia digital bolsonaris­ta. A existência do grupo foi revelada pela Folha em setembro de 2019.

O bunker ideológico fica no terceiro andar do Planalto, a poucos passos do gabinete presidenci­al.

A Folha mostrou que são cinco os assessores diretos do presidente investigad­os por suspeita de envolvimen­to com perfis de apoio a Bolsonaro que estimulara­m os atos antidemocr­áticos no primeiro semestre de 2020.

São eles Tércio Tomaz Arnaud, José Matheus Sales Gomes e Mateus Matos Diniz, apontados como integrante­s do “gabinete do ódio”, além de Max Guilherme Machado de Moura, ex-policial do Bope do Rio e assessor especial no gabinete pessoal do presidente, e o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens.

Em outra linha de apuração, a polícia tenta esclarecer se dinheiro arrecadado com a monetizaçã­o de canais bolsonaris­tas foi repassado a terceiros “que possam ser os reais proprietár­ios”, diz trecho do inquérito, que tem cerca de 1.250 páginas.

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Pedro Ladeira - 28.jun.20/Folhapress Ato de bolsonaris­tas em Brasília, em junho, pede intervençã­o militar

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