À espera de Biden, China mede força com EUA
Aeronaves se encontram, e Pequim faz exercício militar perto de porta-aviões americano em águas disputadas
são paulo Enquanto Pequim espera o tom a ser adotado pelo novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em sua relação com a potência asiática, as Forças Armadas dos dois países resolveram testar seu preparo sobre águas em torno da China.
Nesta terça (26), dois aviõesespiões dos rivais voaram lado a lado ao sul de Taiwan, a ilha que a ditadura comunista considera uma província rebelde. Além disso, a Marinha chinesa anunciou um exercício militar relâmpago em áreas do mar do Sul da China até domingo.
Ele ocorre logo após a entrada de um porta-aviões americano naquelas águas.
O USS Theodore Roosevelt está perto das rochas do banco de areia de Scarborough, uma das regiões que a China considera suas e utiliza para asseverar controle sobre 85% daquele mar.
Os EUA e outros países na região dizem que as águas são internacionais. De tempos em tempos, Washington envia navios de guerra para a área para reforçar tal noção.
A ida do Theodore Roosevelt e de seus navios de escolta é a primeira do tipo desde a posse de Biden, na quartafeira passada (20).
No final do ano passado, o Pentágono havia dito que a Marinha americana teria de ser mais agressiva para tolher as intenções expansionistas da China no Pacífico e os movimentos militares da Rússia, principalmente nos mares Negro e Báltico.
No documento, previa que haveria risco maior de algum encontro acidental de suas forças com a dos rivais. Em 2011, um caça chinês caiu após se chocar com um avião de vigilância americano.
No incidente desta terça, um EP-3E americano voou lado a lado com um chinês Y-8G, ambas aeronaves de vigilância, uma ocorrência rara.
O Theodore Roosevelt entrou no mar do Sul da China no último sábado (23), acompanhado de dois destróieres e de um cruzador. Seu trânsito foi acompanhado por sete aviões, algo também pouco comum.
Ao mesmo tempo, ao longo do fim de semana os chineses enviaram 13 aviões de guerra, incluindo 8 bombardeiros H-6K e 4 caças J-16 para treinos na região.
Tudo isso indica que, apesar da sugestão de que adotaria um tom mais comedido do que o de Donald Trump, Biden manterá a pressão militar contra Pequim, rival geopolítica dos EUA.
No governo do republicano foi aberta a chamada Guerra Fria 2.0, com embates militares, econômicos e políticos em diversas áreas. A quantidade de contenciosos, do 5G a Hong Kong, passando pelo mar do Sul da China, se multiplicou e gerou o temor entre analistas de que pudesse desaguar em um conflito militar.
Isso parece improvável a curto e médio prazos, pela interdependência das duas maiores economias do planeta, mas o risco de acidentes com essa movimentação de navios e aviões em regiões disputadas como o mar do Sul da China e o estreito de Taiwan existe e tende a crescer.
Na véspera do fim do governo Trump, o Departamento de Estado classificou de genocídio as políticas de Pequim para a minoria muçulmana uigur no país. Questionado no Senado, o novo chefe da pasta, Antony Blinken, disse concordar com a definição.
Biden ainda não deu, por sua vez, uma demonstração pública sobre a China.
O presidente chinês, Xi Jinping, por sua vez disse na segunda-feira (25) que o mundo precisava evitar uma nova Guerra Fria. Em discurso virtual ao Fórum Econômico Mundial, ele defendeu o multilateralismo como instrumento de resolução de conflitos.