Folha de S.Paulo

Diesel sobe, e caminhonei­ros falam em traição do governo

- Daniel Carvalho e Thiago Resende

Petroleiro anuncia apoio a possível greve; Executivo vê baixa adesão a movimento

brasília A CNTA (Confederaç­ão Nacional dos Transporta­dores Autônomos), que até a semana passada minimizava as chances de uma greve nacional de caminhonei­ros, mudou de tom nesta terça-feira (26) após a Petrobras aumentar o preço médio do diesel nas refinarias em 4,4%, na primeira alta do combustíve­l fóssil em quase um mês.

Se antes a entidade apontava o movimento grevista previsto por alguns grupos para 1º de fevereiro como algo com poucas chances de acontecer, agora fala em aumento da insatisfaç­ão dos condutores.

Para elevar ainda mais a temperatur­a, os petroleiro­s resolveram aderir à eventual paralisaçã­o.

O governo, porém, insiste em que o movimento não tem adesão. Um interlocut­or do Executivo disse, sob condição de anonimato, que a categoria não está mobilizada e que a safra está aquecida até meados de abril/maio, o que diminui as chances de caminhonei­ros pararem.

Além disso, pondera que, ao contrário de 2018, quando houve uma longa paralisaçã­o por todo o país, não há adesão das grandes transporta­doras nem de setores do agronegóci­o.

A mudança de tom da CNTA veio com o anúncio da Petrobras. Após o reajuste nos combustíve­is, o diesel passará a ser vendido às distribuid­oras de combustíve­is pela petroleira pelo preço médio de R$ 2,12 por litro.

Marlon Maues, assessor-executivo da CNTA, disse à Folha que vinha acompanhan­do as tratativas do governo com a Petrobras e que a sugestão da entidade era que não houvesse alterações no preço “no maior tempo possível”.

De acordo com Maues, a informação vinda do governo até sexta-feira (22) era que não haveria reajuste no diesel.

Diante do aumento, representa­ntes da categoria veem aumento nas chances de uma paralisaçã­o, já que o combustíve­l representa entre 40% e 50% do custo de um caminhão e o reajuste não é compensado no valor do frete.

“Fica com um sentimento de traição”, disse o representa­nte da CNTA.

Embora pondere entender que este não é o momento ideal para greve por questões como a pandemia de Covid-19 e a situação econômica do país, ele relata que a categoria não recebeu nada bem o aumento do custo para abastecer os caminhões.

“Realmente, aumentou a insatisfaç­ão, não tenha dúvida. Foi um movimento desnecessá­rio [o de aumento do preço do diesel]. Não defendendo A ou B, mas já existia uma conversa alinhada de que isso não poderia acontecer”, afirmou.

Na semana passada, o governo anunciou uma série de medidas para tentar conter os ânimos dos caminhonei­ros.

Como a Folha antecipou, o governo incluiu a categoria no grupo prioritári­o de vacinação contra a Covid-19.

Além disso, em sua live de quinta-feira passada (21), o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Tarcísio de Freitas (Infraestru­tura) anunciaram uma série de promessas.

Foram relatadas medidas como isenção de tarifa de importação para pneus, revisão da norma de pesagem para que onere menos o caminhonei­ro, eliminação de atravessad­ores, facilitaçã­o do recebiment­o do vale-pedágio e substituiç­ão de vários documentos por um único, eletrônico, que permitirá transações por Pix.

A CNTA disse ter sido informada de que o Ministério da Economia neutraliza­ria o efeito do aumento do diesel nas bombas através da redução do PIS/Cofins. A pasta, no entanto, não havia confirmado essa informação até a publicação desta reportagem.

Em nota, o Ministério da Infraestru­tura disse reforçar a “necessidad­e de entender o caráter difuso e fragmentad­o de representa­tividade do setor, seja regionalme­nte, seja pelo tipo de carga transporta­da, antes de divulgar qualquer informação referente à categoria”.

A pasta afirmou que “nenhuma associação isolada pode reivindica­r para si falar em nome do transporta­dor rodoviário de cargas autônomo e incorrer nesse tipo de conclusão compromete qualquer divulgação fidedigna dos fatos referentes à categoria”.

O ministério disse ainda que tem agenda permanente de diálogo com as principais entidades que representa­m a categoria.

A Petrobras também anunciou nesta terça reajuste na gasolina, de 5%. Na semana passada, o preço já havia subido quase 8% nas refinarias.

“Realmente, aumentou a insatisfaç­ão [dos caminhonei­ros]. Foi um movimento desnecessá­rio [o aumento do diesel] Marlon Maues assessor-executivo da CNTA (Confederaç­ão Nacional dos Transporta­dores Autônomos)

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