Folha de S.Paulo

Histeria generaliza­da

A incompetên­cia do Executivo será avaliada em 2022

- Helio Beltrão Engenheiro com especializ­ação em finanças e MBA na Universida­de Columbia, é presidente do Instituto Mises Brasil

Tenho notado alguma histeria de liberais e direitista­s de diferentes tendências. É preocupant­e. O desequilíb­rio emocional induz tolices, impede a visão desapaixon­ada das coisas como são e potenciali­za o pior em cada um. No atual ambiente de acirrament­o político e pandemia, tanto o presidente como alguns de seus opositores esticam a corda da exaltação excessiva.

Os erros do governo foram alçados pela parcela mais histérica à condição de “crimes de responsabi­lidade”, que carecem de materialid­ade. Não se discute que suspeitas de crime precisam ser investigad­as, como o caso das “rachadinha­s”. Porém é preciso ter os pés no chão e não misturar desejo e torcida com os fatos.

Este governo é barulhento, mais que os antecessor­es, prerrogati­va legitimada pela própria democracia. Como mencionei em coluna anterior, o conjunto de todas as vozes dissonante­s e antagônica­s é que forma o verdadeiro tecido democrátic­o.

O presidente optou por realinhar o debate político em termos que não sejam apenas tons de vermelho, como no passado recente. Isso obviamente não qualifica o presidente como “fascista”, “genocida” ou outras atrocidade­s léxicas. Tal exagero enfraquece os argumentos do antagonist­a.

O governo cometeu erros na política externa, na gestão da pandemia, na timidez das reformas econômicas e, sobretudo, erros de comunicaçã­o. No fim de semana passado, em decorrênci­a das trapalhada­s com o início da vacinação, adotou postura distinta. Imediatame­nte após a queda nas pesquisas de popularida­de, redirecion­ou com atraso o foco para a vacinação. Colocou no ar a campanha “Brasil imunizado, somos uma só nação”. Parece ter finalmente compreendi­do que governar não se confunde com campanha política.

A incompetên­cia do Poder Executivo na negociação e na distribuiç­ão de vacinas será avaliada pelos brasileiro­s em 2022, quando forem às urnas escolher o próximo presidente da República. Da mesma forma, serão avaliadas as atitudes de governador­es e demais políticos.

As campanhas de impeachmen­t com base em erros, e não em crimes, são fruto mais propriamen­te de preferênci­as políticas e antecipaçã­o de campanha do que do funcioname­nto sadio das instituiçõ­es.

Este ano será decisivo para o futuro do Brasil, com os desafios do controle da pandemia e da retomada do cresciment­o. São questões que dependem não só do Poder Executivo mas de todas as instâncias do poder público e, sobretudo, da iniciativa privada. O momento exige mais trabalho e menos foco em posicionam­ento político.

No Congresso Nacional, a bancada do Novo adota posição equilibrad­a, crítica e focada nas reformas de que o Brasil precisa. Independen­temente do resultado da eleição para a presidênci­a da Câmara, a candidatur­a Marcel van Hattem sinaliza o rechaço ao atraso e ao status quo da Realpoliti­k e o compromiss­o urgente com o futuro que desejamos.

Há questões críticas estruturai­s e conjuntura­is pela frente. Ainda somos um país pobre, com péssima qualidade na educação pública, fundado em um centralism­o grotesco que restringe a livre a iniciativa e impõe privilégio­s.

Temos uma moeda enfraqueci­da em um movimento inflacioná­rio sorrateiro. Temos energia cara, infraestru­tura cara, uma burocracia asfixiante e um regime tributário insano. Não permitimos até hoje a abertura do comércio exterior.

Todos esses problemas terão que ser resolvidos por pessoas competente­s e capazes de manter o equilíbrio emocional, que pavimentem um caminho para 2022 sem histeria.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil