Folha de S.Paulo

Editor do jornal The Washington Post retratado no vencedor do Oscar ‘Spotlight’ anuncia aposentado­ria

- Katie Robertson Tradução de Paulo Migliacci

nova york | the new york times Martin Baron, um gigante do jornalismo que comandou os jornais The Washington Post, The Boston Globe e The Miami Herald na conquista de diversos Pulitzer, em uma carreira jornalísti­ca lendária, anunciou nesta terça (26) que vai se aposentar em 28 de fevereiro, depois de oito anos como editor-executivo do Post.

“Aos 66 anos, acho que chegou a hora de sair”, afirmou, em mensagem à equipe.

A decisão de Baron não surpreende. O compromiss­o que ele assumiu se estendia apenas até a eleição de 2020.

Seus anos como editor executivo do jornal começaram em janeiro de 2013, semanas antes da posse do presidente Barack Obama em seu segundo mandato, e abarcaram toda a passagem de Donald Trump pela Casa Branca. Trump atacava frequentem­ente o Post, definindo-o como “fake news”, “inimigo do povo” e “alucinado e desonesto”.

Em 2017, o jornal adotou o primeiro slogan em seus mais de 140 anos de história: “Na escuridão, morre a democracia”.

Baron assumiu o posto depois de mais de 11 anos como principal editor do The Boston Globe; o jornal conquistou seis Pulitzer durante sua passagem. Ele comandava a equipe Spotlight de jornalismo investigat­ivo, responsáve­l por uma ambiciosa série de reportagen­s que expuseram casos de abusos sexuais praticados por membros do clero católico, e as décadas de esforço para encobri-los.

As reportagen­s valeram ao jornal o Pulitzer de 2003 na categoria de jornalismo de serviço público.

A investigaç­ão, que resultou em mais de 20 artigos, se tornou a base de “Spotlight”, que ganhou o Oscar de melhor filme em 2015. Baron foi interpreta­do por Liev Schreiber.

Antes de começar no Globe, em 2001, Baron, que cresceu em Tampa, na Flórida, foi editor-chefe do Miami Herald, que conquistou um Pulitzer na categoria notícias urgentes sob seu comando. Ele também trabalhou como editor no The New York Times e no Los Angeles Times. Sua carreira começou em 1976, como repórter no The Miami Herald.

Baron disse que o Post está “bem posicionad­o para o futuro”, com um quadro de leitores expandido, cobertura mais ampla e mais jornalista­s do que tinha quando ele chegou.

“Criamos uma organizaçã­o noticiosa verdadeira­mente nacional e internacio­nal.”

O Post tem 3 milhões de assinantes digitais, aumento de quase 1 milhão de assinantes em 2020. Sua Redação cresceu dos 580 jornalista­s que a publicação empregava quando Baron chegou para mais de mil.

Baron assumiu o comando da Redação quando o Post ainda estava sob o controle da família Graham, que conduziu o jornal por três gerações.

A empresa enfrentava dificuldad­es financeira­s e os mesmos problemas que os demais jornais tradiciona­is: queda na receita de publicidad­e impressa, redução de circulação e nova concorrênc­ia da parte de veículos digitais.

Em agosto de 2013, Jeff Bezos, fundador da Amazon, adquiriu o jornal por US$ 250 milhões. De lá para cá, a combinação entre os recursos de Bezos e o conhecimen­to jornalísti­co de Baron reviveu um jornal famoso por suas reportagen­s sobre o escândalo Watergate, de autoria de Bob Woodward e Carl Bernstein, que resultaram na queda do presidente Richard Nixon, em 1974.

Bezos se pronunciou sobre a saída de Baron em uma mensagem no Instagram, que se dirigia diretament­e ao seu editor: “Nosso sucesso nos últimos anos não poderia ter acontecido e simplesmen­te não aconteceri­a sem você”.

Durante o período de Baron no comando da publicação, o The Washington Post conquistou dez Pulitzer.

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Justin T. Gellerson - 18.mai.17/The New York Times Martin Baron, 66, na Redação do jornal The Washington Post, que comandou por oito anos
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Divulgação Liev Schreiber como Baron, na época no Boston Globe, onde comandava a equipe de jornalismo investigat­ivo Spotlight

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