Folha de S.Paulo

Centrão vira fiel da balança sobre permanênci­a de Pazuello

- Gustavo Uribe e Julia Chaib

BRASÍLIA Sob pressão para deixar o cargo, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, tem assegurado sobrevida no cargo graças à sua amizade com o presidente Jair Bolsonaro.

A garantia do apoio do mandatário, no entanto, dependerá da postura do bloco do centrão, que começa a dar mostras de incômodo com a permanênci­a do general da ativa na pasta e aumentaram a pressão pela sua demissão.

Na segunda-feira (25), o STF (Supremo Tribunal Federal) autorizou a abertura de um inquérito para investigar o ministro sobre o colapso de saúde em Manaus. Mesmo com a apuração, Bolsonaro disse a assessores palacianos que não pretende neste momento mudar o comando da Saúde.

Além da cúpula militar, para a qual a saída do ministro evitaria desgaste maior para a imagem das Forças Armadas, a articulaçã­o política do governo avalia que caso o bloco do centrão apoie a abertura de uma CPI da Pandemia a permanênci­a do general se tornará insustentá­vel.

Para auxiliares do governo, a saída dele tornou-se uma boa saída para Bolsonaro.

O diagnóstic­o é que o afastament­o pode servir tanto de argumento contra a instalação da comissão de inquérito como de justificat­iva para evitar a instauraçã­o de um processo de impeachmen­t.

Segundo relatos feitos à Folha, integrante­s do centrão fizeram chegar ao Palácio do Planalto a opinião de que o desgaste de imagem de Pazuello virou um incômodo até mesmo para deputados simpáticos ao governo, que têm sido cobrados por eleitores e aliados.

A avaliação de dirigentes partidário­s é ainda de que a permanênci­a de Pazuello passa também pela eleição da presidênci­a da Câmara.

No cenário em que o deputado federal Arthur Lira (PPAL) seja eleito, a perspectiv­a é que o poder de barganha dele e do centrão fique maior.

Desde o final do ano passado, deputados governista­s defendem que o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), substitua o general.

Barros, que tem a simpatia da cúpula militar, foi ministro da Saúde de Michel Temer.

Para dirigentes partidário­s, caso Lira dobre a pressão pela saída de Pazuello, é provável que Bolsonaro acabe cedendo, já que o presidente tem manifestad­o preocupaçã­o com a eventual abertura processo de impeachmen­t.

Na opinião de assessores do governo, o envio de Pazuello a Manaus no sábado (23), em voo sem volta, amenizou as críticas contra o general, mas não foi suficiente para mudar a imagem pública de que o ministro demorou para agir no colapso de saúde na capital do Amazonas.

Nesta terça-feira (26), movimentos e partidos de oposição decidiram convocar uma megacarrea­ta contra o presidente e apoiar a criação da CPI da Pandemia, a ser realizada em 21 de fevereiro.

O procurador-geral da República, Augusto Aras, ressaltou no pedido ao STF que, em relação à crise enfrentada por Manaus, Pazuello tem “dever legal e possibilid­ade de agir para mitigar os resultados”.

Ele observou ainda que uma eventual omissão seria passível de responsabi­lização cível, administra­tiva ou criminal.

“Mostra-se necessário o aprofundam­ento das investigaç­ões a fim de se obter elementos informativ­os robustos para a deflagraçã­o de eventual ação judicial”, disse.

Para evitar a abertura de impeachmen­t, Bolsonaro intensific­ou a articulaçã­o pela eleição de Lira. Barros foi escalado para ajudar Lira na tentativa de virar votos a favor do presidente nacional do MDB, Baleia Rossi (SP), candidato do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

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