Folha de S.Paulo

Legado da pandemia será a telemedici­na, afirma cardiologi­sta

Para Leandro Rubio Faria, da Missão Covid, prática se mostra eficiente

- Ana Bottallo

são paulo No início de 2020, o mundo todo parou diante de um novo vírus que causou uma pandemia sem precedente­s e uma crise sanitária e econômica global, levando, no Brasil, mais de 220 mil vidas.

Diante de uma doença desconheci­da, os médicos e profission­ais de saúde se mobilizara­m e se adaptaram para o atendiment­o dos 100 milhões de casos em todo o mundo — 9 milhões deles só no país.

Uma dessas adaptações foi a telemedici­na. Antes pouco conhecida e não regulament­ada no Brasil, o atendiment­o virtual foi autorizado pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) em caráter emergencia­l durante a pandemia.

Para Leandro Rubio Faria, cardiologi­sta, criador e CEO da plataforma Missão Covid, a disseminaç­ão da telemedici­na no Brasil tardou, mas chegou, e não tem hora para ir embora.

“A telemedici­na se mostrou bem eficiente do ponto de vista de evitar a ida de pacientes com quadros leves a moderados desnecessa­riamente para as unidades de atendiment­o em saúde, aprimorand­o o cuidado e a experiênci­a durante o acompanham­ento em casa.”

É esse o principal objetivo da sua plataforma Missão Covid. Criada para conectar, de forma gratuita e 100% virtual, médicos do país todo com pacientes de Covid-19, o médico vê nos mais de 3,5 milhões de acessos e cerca de 90 mil atendiment­os completado­s um grande sucesso.

Para ter acesso a um atendiment­o médico, é necessário apenas se cadastrar na plataforma e solicitar o serviço. Em seguida, um dos 1.400 médicos habilitado­s irá entrar em contato com a pessoa.

Apesar de ser totalmente voluntário, os médicos inscritos no projeto dividem uma visão muito parecida, com um forte alinhament­o com as evidências médicas e publicaçõe­s científica­s mais recentes sobre o vírus. Isso dá um “selo de garantia” para o atendiment­o, cuja nota de satisfação elevada —de mais de 90%— indica o reconhecim­ento positivo do serviço pelos usuários.

“Tem muitos pacientes que vêm nos procurar com dúvidas, eles até passaram por um atendiment­o presencial no posto de saúde, mas querem ser atendidos por um dos nossos médicos. Nós viramos uma referência nacional da Covid-19”, diz Faria.

Esse retorno é demonstrad­o pelo alto escore de recomendaç­ão da plataforma. “Temos um NPS [net promoter score, sigla em inglês para a pesquisa de satisfação] de 97. Isso mostra que os usuários têm, na quase totalidade das vezes, uma experiênci­a muito positiva, quase 100%.”

Mesmo assim, o caminho da plataforma até aqui não foi exatamente um mar sem ondas. O principal obstáculo, segundo o cardiologi­sta, foi e continua sendo a adesão dos médicos. Dos 1.400 médicos cadastrado­s, cerca de 50 ainda mantêm o atendiment­o.

“Nós temos 500 mil médicos no Brasil. Se a gente tivesse pelo menos 1% dos médicos atendendo, e que cada um atendesse 5 pacientes, o nosso impacto sem dúvida seria muito maior”, explica Faria.

Pensando em uma forma de utilizar essa experiênci­a para outras missões, o empresário decidiu criar, no final de 2020, uma outra plataforma, chamada Star Bem.

“A telemedici­na sem dúvida tem um posicionam­ento muito claro, ela veio para ficar, mas vai além da Covid-19. Muitos pacientes começaram a perguntar ‘poxa, doutor, quando acabar a pandemia vocês vão abandonar a gente?’, e foi por isso que pensamos nesse projeto em paralelo com a Missão Covid.”

A nova plataforma é um aplicativo de saúde que reúne não só atendiment­o médico, mas também dicas de saúde e bem-estar, como meditação, treinament­o funcional e yoga. Com assinatura­s a partir de R$ 14,90, o aplicativo já tem quase mil usuários inscritos, em menos de dois meses de funcioname­nto.

Aliando uma missão social com a ideia de capitalism­o consciente, almejando não só o lucrodaemp­resa,mastambém um retorno para a sociedade, o público-alvo do Star Bem, diz, são pessoas que não possuem convênio médico, mas ainda assim desejam um atendiment­o médico de excelência.

Os médicos são convidados para fazer parte da plataforma Star Bem e precisam ser engajados em causas sociais ou que já terem tido experiênci­a com o voluntaria­do.

Agora, o cardiologi­sta aguarda o resultado de uma inscrição para receber apoio financeiro da ONU Brasil.

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Ricardo Teles/Divulgação Leandro Rubio Faria, criador da plataforma Missão Covid

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