Folha de S.Paulo

Governo quer novo pacote de corte de jornada e salários

Argumento é que pagamento seria financeira­mente neutro pois substituir­ia seguro-desemprego

- Bernardo Caram

Pressionad­o por empresário­s, o Ministério da Economia estuda reeditar a medida que libera acordos individuai­s para suspender contratos ou reduzir jornada e salário, com compensaçã­o parcial paga pelo governo. Uma possibilid­ade seria usar recursos do FAT.

brasília Pressionad­o por empresário­s, o Ministério da Economia estuda reeditar a medida que liberou a assinatura de acordos individuai­s para suspender contratos ou reduzir jornada e salário de trabalhado­res, com compensaçã­o parcial em dinheiro paga pelo governo.

Os debates na pasta ainda tentam vencer obstáculos técnicos e entraves relacionad­os a restrições orçamentár­ias.

Por isso, o ministério elabora alternativ­as que serão avaliadas pelo ministro Paulo Guedes (Economia) antes de apresentaç­ão ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Uma das opções prevê uso de recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhado­r).

Em 2020, após decretar estado de calamidade pública e retirar amarras do Orçamento, o governo implemento­u o programa que permitia a suspensão de contratos e reduções de 25%, 50% ou 70% nas jornadas, com corte proporcion­al de salário.

Como compensaçã­o, o trabalhado­r afetado recebia um valor proporcion­al ao que teria direito de seguro-desemprego.

A medida foi prorrogada algumas vezes, mas se encerrou em dezembro após a celebração de 20 milhões de acordos feitos entre aproximada­mente 10 milhões de trabalhado­res e 1,5 milhão de empresário­s, segundo monitorame­nto do Ministério da Economia.

O programa de preservaçã­o do emprego é considerad­o por Guedes uma das medidas emergencia­is mais efetivas da pandemia. Para ele, sem os acordos, o país veria um número muito maior de demissões durante a crise sanitária.

Neste ano, porém, o governo optou por não renovar a calamidade pública, e não há margem no Orçamento para um programa de custo elevado.

Em 2020, para fazer frente a essa compensaçã­o paga aos trabalhado­res, chamada de Benefício Emergencia­l de Manutenção do Emprego, o Ministério da Economia liberou R$ 51,5 bilhões.

Nesta quarta-feira (27), o tema foi discutido em reunião entre Guedes, Bolsonaro e representa­ntes do setor de bares e restaurant­es (leia à pág. A16). O presidente deu prazo de 15 dias para que soluções sejam apresentad­as.

Ao contrário de avaliações preliminar­es da equipe econômica, técnicos afirmam que não é necessário decretar novo estado de calamidade pública para implementa­r novamente o programa.

No cardápio avaliado pela Economia, há a possibilid­ade de usar recursos do FAT. O fundo custeia o seguro-desemprego e o abono salarial.

A principal fonte de recursos do FAT é composta pelas contribuiç­ões para o PIS (Programa de Integração Social) e para o Pasep (Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público).

Na proposta considerad­a mais viável pela pasta, a compensaçã­o paga ao trabalhado­r afetado pela suspensão ou corte de jornada seria uma espécie de antecipaçã­o do seguro-desemprego. Por isso, a medida seria financeira­mente neutra.

Nesse caso, a pasta defende que o período de estabilida­de desses trabalhado­res seja ampliado e que a multa em caso de demissão antes do fim desse período seja mais alta. O objetivo seria recompor o fundo.

No programa de 2020, o trabalhado­r tinha direito a estabilida­de pelo dobro do tempo de acordo. Em uma redução salarial de três meses, a estabilida­de valia por seis meses.

De acordo com pessoas que acompanham a elaboração das medidas, empresário­s têm demonstrad­o resistênci­a ao pagamento de multas mais elevadas ou manutenção da estabilida­de por um prazo maior.

Para aliviar as empresas, o ministério estuda uma espécie de parcelamen­to da multa caso a demissão do funcionári­o seja inevitável.

O debate na pasta também envolve visões técnicas distintas. Parte dos membros do ministério defende que o programa possa usar diretament­e o dinheiro do FAT, sem o mecanismo da antecipaçã­o.

O argumento é que, ao pagar a complement­ação de salário, o governo evita uma demissão e deixa de pagar o seguro-desemprego, que tem custo mais alto. Por isso, a medida seria, em teoria, neutra.

A tese sofre com resistênci­a

da Secretaria de Orçamento do Ministério da Economia e do secretário de Fazenda, Waldery Rodrigues.

Em outra discussão técnica, uma ala da pasta tem a avaliação de que o programa poderia ser bancado com créditos extraordin­ários.

Esse mecanismo pode ser usado em situações imprevisív­eis e urgentes e não é contabiliz­ado no teto de gastos, regra que limita as despesas do governo. Por isso, o custeio do programa seria liberado. Essa proposta é rejeitada por parte da pasta e membros do TCU (Tribunal de Contas da União). Eles afirmam que o programa não pode mais ser considerad­o imprevisív­el.

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Marcos Corrêa Divulgação Presidênci­a O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, em Brasília

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