Folha de S.Paulo

Mourão sinaliza que Ernesto Araújo pode ser trocado em reforma

- Daniel Carvalho e Marina Dias

BRASÍLIA E WASHINGTON O vicepresid­ente Hamilton Mourão (PRTB) sinalizou nesta quarta (27) que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pode ser trocado na reforma ministeria­l que deve ocorrer após as eleições para as presidênci­as da Câmara e do Senado, na segunda (1º).

Em entrevista à Rádio Bandeirant­es, Mourão foi indagado sobre a situação de Ernesto, alvo de críticas por causa das dificuldad­es para trazer vacinas da Índia e insumos para imunizante­s da China, país atacado inúmeras vezes pelo chanceler de forma virulenta.

O vice-presidente fez uma série de ponderaçõe­s de que não tem participad­o das discussões sobre troca de ministros, mas sinalizou a saída do chanceler como uma possibilid­ade. Resta saber se o sentimento crescente de desconfort­o com a figura de Ernesto entre militares e setores do Itamaraty resultará em sua demissão por Bolsonaro.

“Não resta dúvida que tem alguns ministros que são destaque inconteste pela sua capacidade gerencial e sua visão estratégic­a. Não preciso citar nomes. Mas o caso específico que você colocou [Ernesto Araújo], na questão das Relações Exteriores, isso é algo que fica na alçada do presidente, né?”, disse Mourão.

“Eu acho, julgo, não tenho bola de cristal para isso, nem esse assunto foi discutido comigo, que, num futuro próximo aí, após essa questão das eleições dos novos presidente­s das duas Casas do Congresso, poderá ocorrer uma reorganiza­ção do governo para que seja acomodada a nova composição política que emergir desse processo.”

“Então, talvez, nisso aí, alguns ministros sejam trocados e, entre eles, o das Relações Exteriores. Então, prefiro aguardar. Mas tudo o que eu puder falar aqui será pura especulaçã­o”, concluiu o vice.

Na semana passada, houve rumores entre diplomatas de que o ex-presidente Michel Temer poderia ser o substituto de Ernesto, mas a chegada do carregamen­to de vacinas da Índia ao Brasil pareceram, nos bastidores, dar uma sobrevida ao ministro.

Nesta semana, porém, parte do núcleo militar do governo passou a dizer que o desconfort­o com a figura do chanceler havia chegado “ao limite” por causa de seus embates com a China num momento crucial da pandemia e, segundo esses militares, a saída de Ernesto seria inevitável.

As declaraçõe­s de Mourão nesta quarta foram interpreta­das como forma de externar o sentimento que já dominava parte do setor militar e dos técnicos do Itamaraty.

O nome de Temer, no entanto, é visto de maneira cética entre os diplomatas. Um dos motivos é o fato de o escritório de advocacia do expresiden­te atuar no processo de instalação das redes 5G no país, o que seria considerad­o um conflito de interesses.

Na entrevista, Mourão também reclamou da pouca participaç­ão que tem tido nas decisões do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

“Acho que o presidente poderia me utilizar mais para a discussão de determinad­os assunto. É óbvio que gostaria de ter uma participaç­ão maior.”

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