Folha de S.Paulo

Dez estados retomam aulas presenciai­s em fevereiro

Modelo híbrido, online e presencial, será adotado em ao menos seis regiões

- Sérgio Rodrigues O colunista está em férias Monica Prestes, Paula Sperb, Júlia Barbon, João Pedro Pitombo, Katna Baran e João Valadares

manaus , porto alegre , rio de janeiro , salvador , curitiba e recife Mesmo diante do avanço da pandemia de Covid-19 em todas as regiões brasileira­s, governos de pelo menos dez estados preveem o retorno de aulas presenciai­s a partir do próximo mês com algum tipo de reforço e distanciam­ento entre os alunos. Outros seis estados, incluindo o Distrito Federal, só vão começar em março.

Desses que retomam as atividades já em fevereiro, cinco — São Paulo, Ceará, Paraná, Maranhão e Acre — devem adotar o modelo híbrido de ensino, que mescla aulas online e presenciai­s.

O estado de Goiás foi o único que já iniciou o ano letivo de 2021. As aulas também no formato híbrido foram retomadas na segunda-feira (25).

Em alguns estados, a exemplo do Amazonas, que vive um colapso do sistema de saúde, ainda há indefiniçã­o em relação à data de retorno nas escolas públicas.

Em São Paulo, o agravament­o da pandemia levou o governador João Doria (PSDB) a adiar em uma semana, para 8 de fevereiro, o início das aulas na rede estadual. Professore­s e funcionári­os da educação, no entanto, devem comparecer presencial­mente já na primeira semana do mês para atividades de formação sobre os protocolos sanitários.

O estado decidiu que não vai obrigar os alunos a irem para a escola durante as fases mais restritiva­s da pandemia, a laranja e a vermelha.

Já o governo de Minas Gerais abriu consulta pública para construir o modelo pedagógico a ser seguido na rede estadual em 2021, que tem previsão de início do ano letivo em 4 de março.

As aulas presenciai­s estão suspensas em Minas desde 18 de março e houve uma tentativa de retomada do ensino presencial em outubro, mas ela foi barrada pela Justiça. Mesmo assim, desde então, as cidades localizada­s na chamada onda verde do plano Minas Consciente puderam retomar as atividades nas escolas municipais.

No Rio de Janeiro, as aulas começam em 8 de fevereiro de maneira híbrida e, em 1º de março, presencial­mente para os alunos que vivem em situação mais vulnerável e não têm acesso à internet. Esses estudantes vão receber material impresso e tutoria.

Para evitar a aglomeraçã­o de professore­s e alunos no transporte público, a Secretaria de Educação definiu que as aulas presenciai­s serão dadas em um turno único com horário alternativ­o: das 10h às 15h.

As escolas do estado vão funcionar sob um sistema de bandeiras que serão divulgadas toda sexta-feira. A classifica­ção vai do verde, que permite 100% de ocupação na semana seguinte, até o roxo, apenas com atividades online.

No Amazonas, a retomada das aulas na rede particular está prevista para 1º de fevereiro. A diarista Marilene Queiroz, 57, trabalha em duas casas diferentes, ambas com adolescent­es em escolas particular­es, e teme “levar” a doença para os netos, de 7 e 11 anos, alunos da rede pública estadual em Manaus e sem previsão de volta às aulas.

“As aulas só deviam voltar depois que todo mundo estiver vacinado porque Manaus está de um jeito que, se a gente ficar doente, não sabe se vai ter leito nem oxigênio, então dá medo, sim. Por outro lado, é mais um ano que eles vão perder”, diz.

Para o pesquisado­r da Fiocruz Jesem Orellana, a retomada das aulas na rede pública foi um dos fatores que contribuiu para o início da chamada segunda onda de contaminaç­ão em Manaus, que começou a crescer entre agosto e setembro e atingiu o pico no dia 14 de janeiro, quando o sistema de saúde colapsou.

“Tivemos um repique de mortalidad­e importante de 9 a 15 de agosto, que foi um reflexo do retorno das aulas presenciai­s na rede pública”, diz o pesquisado­r, que é um crítico do retorno das aulas presenciai­s antes da vacinação.

Ele diz que houve pico de 6 a 12 de setembro do ano passado, marcado pelo feriadão prolongado de 5 e 7 de setembro. No entanto, o maior deles, segundo Orellana, ocorreu dia 30 de setembro, influencia­do pelo retorno das aulas presenciai­s da rede pública no ensino fundamenta­l.

Já o epidemiolo­gista e coordenado­r do estudo Epicovid-19, Pedro Hallal, ex-reitor da Ufpel (Universida­de Federal de Pelotas), é favorável ao retorno às aulas, tanto no ensino básico como no superior.

“Na epidemiolo­gia, temos que avaliar se o risco é maior na escola ou não. No cenário atual, quando olhamos as ruas lotadas e aglomeraçõ­es, as crianças estão mais protegidas passando pelo menos quatro horas no colégio, onde os protocolos serão seguidos”, diz Hallal.

Para ele, os “dois extremos” da discussão estão equivocado­s. “Existem os extremista­s que acham que as aulas nunca tinham que ter parado, uma coisa meio negacionis­ta, e existem aqueles que defendem a volta apenas quando tiver vacina para todo mundo. O debate deveria ser sobre como voltar, e não se deve voltar”, diz Hallal.

Em muitos lugares, devido à pandemia, os alunos precisaram se adaptar rapidament­e a novos modelos de ensino. A comunidade da cidade catarinens­e Iporã do Oeste (a quase 500 km de Florianópo­lis) era atraída para dentro da escola estadual Padre Vendelino Seidel pelo Café Literário, um projeto da área de linguagens onde alunos interpreta­m clássicos da literatura brasileira.

“Cada sala de aula era transforma­da em um livro. Em uma das edições, os alunos chegaram a construir um carro para o cenário de um conto da escritora Lygia Fagundes Telles”, relembra a professora Simone Spiess, 42, que leciona português e literatura.

O projeto que chegou à sétima edição em meio à proliferaç­ão do coronavíru­s pelo mundo não foi cancelado. A dificuldad­e maior ficou por conta dos alunos da área rural e sem internet. A professora, que pertence ao grupo de risco da Covid-19, é a favor do retorno às aulas presenciai­s, já programado pelo governo de Santa Catarina para o dia 18 de fevereiro. Porém, para ela, o retorno deveria estar condiciona­do à vacinação.

Para a volta das aulas presenciai­s, foi preciso investimen­to na montagem da estrutura de prevenção. O governo do Paraná, por exemplo, informou que investiu R$ 5,96 milhões na compra de equipament­os para abastecer mais de 2.000 escolas com álcool em gel, álcool líquido 70%, dispensers para o produto, medidores de temperatur­a, macacões para as equipes de limpeza e máscaras de tecido para os alunos. Desde o início de abril de 2020, os estudantes do Paraná estão em ensino remoto.

Na Bahia, onde as aulas foram suspensas há dez meses, os calendário­s para a retomada do ano letivo 2020 e as novas matrículas 2021 ainda serão divulgados. O governo informa que vai garantir vagas para todos os alunos que procurarem a rede estadual.

Para recuperar o ano letivo 2020, a proposta é fazer uma recomposiç­ão mínima da carga horária, com plano de trabalho e outras atividades, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Desde a suspensão das aulas em março de 2020, o governo baiano não conseguiu viabilizar a adoção de aulas online na rede estadual.

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*Em 80% das escolas | Fonte: governos estaduais

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