Folha de S.Paulo

Movimento antirracis­ta faz museus saírem à caça urgente de diretores de diversidad­e

- Tradução de Paulo Migliacci

the new york times Rosa Rodriguez-Williams cresceu numa família de classe trabalhado­ra em Lawrence, no estado americano de Massachuse­tts, e diz que “museus não eram parte da minha experiênci­a”.

É esse ponto de vista daqueles que ficam de fora que Rodriguez-Williams, nascida em Porto Rico, diz trazer para seu novo posto como primeira diretora sênior de inclusão e integração do Museu de Belas Artes de Boston.

A ascensão do movimento Black Lives Matter, após a morte de George Floyd, trouxe um senso de urgência à busca de executivos de diversidad­e pelas instituiçõ­es culturais dos Estados Unidos, a fim de ampliar o número de pessoas não brancas em suas equipes e conselhos, ampliar sua programaçã­o e enfrentar um padrão de racismo sistêmico amplamente reconhecid­o.

“Nós já não precisamos persuadir uns aos outros de que deveríamos estar fazendo isso em vez de qualquer outra coisa”, disse Daniel Weiss, presidente-executivo do Metropolit­an, o Museu Metropolit­ano de Arte de Nova York, que recentemen­te indicou Lavita McMath Turner, diretora assistente da Universida­de Municipal de Nova York, como sua primeira vice-presidente de diversidad­e.

“Agora é a hora, aqui no nosso pequeno mundo, de tratarmos dessas questões que vêm afligindo nosso país há mais de dois séculos”, disse Weiss.

Ao mesmo tempo, advertem especialis­tas, persistem desafios duradouros —objetivos de combate ao racismo que são difíceis de aferir; obter verbas para pagar por esses esforços e presumir que a contrataçã­o de uma pessoa com esse papel específico significa que o trabalho está feito.

A nova geração de executivos chega com uma grande variedade de títulos —o Museu Hammer, de Los Angeles, contratou Russell Davis como “vice-presidente de recursos humanos, equidade e engajament­o”; o Instituto de Arte de Chicago está em busca de um “vice-presidente sênior de pessoas e cultura” —mas os contratado­s terão largas responsabi­lidades, que variam de recrutar mais pessoas não brancas a mudar a cultura interna das instituiçõ­es.

“Ela é uma agente de transforma­ção institucio­nal”, disse Dorothy Kosinski, diretora da Coleção Phillips, em Washington, sobre Makeba Clay, a primeira vice-presidente de diversidad­e do museu, que anteriorme­nte ocupou postos semelhante­s no Smithsonia­n.

Que Clay tenha sido contratada dois anos atrás é uma indicação de até que ponto esse tipo de questão vem ganhando presença nas instituiçõ­es culturais, embora muita gente afirme que o progresso vem sendo lento demais.

Os acontecime­ntos do ano passado despertara­m uma nova conscienti­zação e aceleraram os esforços de promoção da diversidad­e. No Metropolit­an, em junho, membros da equipe instaram a liderança da instituiçã­o, numa carta, a reconhecer “o que vemos como expressão de uma lógica de supremacia branca profundame­nte enraizada e uma cultura de racismo sistêmico em nossa instituiçã­o”.

No mesmo mês, no Museu Guggenheim, uma carta assinada pelo departamen­to de curadoria exigia mudanças generaliza­das num “ambiente de trabalho desigual”.

O Guggenheim acaba de selecionar Naomi Beckwith, uma veterana curadora sênior do Museu de Arte Contemporâ­nea de Chicago, que é negra, para suceder sua curadora chefe, Nancy Spector, que é branca e deteve o posto por muito tempo.

Makeeba McCreary, que em 2018 se tornou a primeira pessoa não branca a fazer parte da equipe de liderança do Museu de Belas Artes de Boston, disse que as instituiçõ­es precisam avaliar administra­dores com base em critérios claros. Quando eles argumentam que não conseguem encontrar candidatos não brancos para determinad­os postos, por exemplo, as organizaçõ­es deveriam responder que “ninguém mais será contratado até que encontrem alguém, ou a equipe não ganhará seu aumento por mérito”, disse McCreary. “É preciso haver consequênc­ias.”

Organizaçõ­es culturais que enfrentam crises de caixa tiveram dificuldad­es para obter verbas a fim de custear profission­ais de diversidad­e, especialme­nte num momento em que a pandemia forçou licenciar empregados sem remuneraçã­o e demissões. Agora elas reconhecer­am a importânci­a de arrecadar dinheiro especifica­mente para contratar esses especialis­tas (o posto de vice-presidente de diversidad­e da Coleção Phillips, por exemplo, foi criado com uma subvenção da Fundação Sherman Fairchild).

“As pessoas percebem que é preciso que haja um profission­al”, disse Sarah James, que se especializ­a em busca de executivos para postos culturais, no escritório Phillips Oppenheim de recursos humanos. “E estão encontrand­o as verbas para isso.”

Acima de tudo, os especialis­tas concordam que os executivos do ramo da arte precisam martelar para eliminar as desigualda­des institucio­nais entranhada­s —e precisam prestar contas a esse respeito.

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