Folha de S.Paulo

Agência de exportação tira do ar artigo que recomendav­a livros de desafetos do governo

- Raquel Lopes

brasília Um artigo da agente literária Lucia Riff com a indicação de “seis autoras para não perder de vista” foi retirado do site da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportaçõe­s e Investimen­tos) na segunda (25).

A Folha apurou que o órgão decidiu apagar a publicação ao perceber que os conteúdos dos livros tratavam de críticas ao governo Jair Bolsonaro (sem partido) e de autores que já tiveram desafetos com a gestão ou com o próprio presidente.

O ato teria sido uma das formas de o presidente da Apex, o contra-almirante Sergio Ricardo Segovia Barbosa, agradar a Bolsonaro e evitar atritos, tendo em vista que o cargo está em jogo a pedido do centrão.

O caso foi divulgado pelo jornal O Estado de S. Paulo. Nomeado em maio de 2019, Barbosa é o terceiro presidente da agência. Antes dele, passaram pelo comando da Apex, e perderam o cargo, Alecxandro Carreiro e o embaixador Mario Vilalva.

A Apex afirmou, em nota, que a publicação do artigo se deu pelo sistema de publicação automática do site.

“Por conta da discrepânc­ia entre o descritivo dos livros na matéria e da informação passada, retiramos do ar para averiguar o conteúdo em questão”, afirmou o órgão.

Entre as indicações de livros de não ficção estavam “A Máquina do Ódio”, da jornalista da Folha Patrícia Campos Mello; “Brasil, Construtor de Ruínas”, da jornalista Eliane Brum; e “A Defesa do Espaço Cívico”, de Ilona Szabó, diretora do Instituto Igarapé e colunista da Folha.

Em fevereiro do ano passado, Bolsonaro insultou Patrícia com insinuação sexual após reportagem da Folha revelar disparo de lotes de mensagens em benefício de políticos. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, também ofendeu a jornalista. Na semana passada, ele foi condenado a indenizar Patrícia em R$ 30 mil por danos morais.

Já Ilona tem posições contrárias a propostas do governo, como a flexibiliz­ação do porte de armas. Após pressão de Bolsonaro, a nomeação da especialis­ta em segurança pública foi revogada como suplente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciá­ria. Ela havia sido nomeada ainda na gestão de Sergio Moro à frente do Ministério da Justiça.

Em suas colunas, Eliane Brum também faz críticas ao governo Bolsonaro.

A lista foi encomendad­a pela CBL (Câmara Brasileira do Livro), parceira da Apex no Brazilian Publishers, projeto de fomento à exportação de conteúdos editoriais do país. Lucia Riff disse que não havia sido avisada sobre a retirada do artigo no site, e afirma que a escolha dos livros não envolveu questões políticas.

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