Folha de S.Paulo

Positivo, saldo do emprego em 2020 não cobre perdas

Geração de 142,6 mil vagas formais não repõe os postos fechados pela pandemia

- Fábio Pupo

O Brasil encerrou 2020 com saldo positivo na criação de vagas formais, segundo dados divulgados ontem pelo Ministério da Economia.

A geração líquida (contrataçõ­es menos demissões) de 142.690 empregos com carteira assinada, porém, não bastou para repor aqueles perdidos na crise sanitária.

Pesaram para o resultado final do ano passado os cerca de 342 mil postos criados nos dois primeiros meses, mostram os números do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos).

De março —logo depois da chegada do coronavíru­s— até junho a economia eliminou 1,6 milhão de vagas.

Empresas voltaram a contratar no segundo semestre, até novembro, mas menos do que demitiram antes. O período registrou 1,4 milhão de empregos abertos.

O ano terminou com 15,166 milhões de admissões, 15,024 milhões de desligamen­tos e cerca de 38,9 milhões de trabalhado­res com carteira.

Paulo Guedes (Economia) comemorou, dizendo que o país conseguiu, mesmo com os efeitos da Covid-19, ter saldo positivo em 2020.

Para o ministro, foi fundamenta­l o programa que permitiu o corte temporário de jornada e salário, com um benefício pago pelo governo aos empregados.

O Brasil encerrou 2020 com saldo positivo na criação de vagas formais, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (28) pelo Ministério da Economia.

A geração líquida (contrataçõ­es menos demissões) de 142.690 empregos com carteira assinada, porém, não foi suficiente para repor aqueles perdidos durante a pior fase, para o mercado de trabalho, da crise provocada pela pandemia.

O ano terminou positivo por influência das cerca de 342 mil vagas criadas nos dois primeiros meses do ano, mostram os números do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos).

De março, logo após o coronavíru­s chegar ao Brasil, até junho o país eliminou 1,6 milhão de postos de trabalho. As empresas voltaram a contratar no segundo semestre, até novembro, mas menos do que demitiram nos meses anteriores: foram apenas 1,4 milhão de vagas abertas no período.

Em dezembro houve corte de 67,9 mil vagas, mas o movimento é comum para o mês, já que é quando são fechadas as vagas temporária­s de fim de ano. O número é inferior ao de anos anteriores, o que indica que poucos postos temporário­s foram criados.

Houve 15,166 milhões de admissões e 15,024 milhões de desligamen­tos no ano, que terminou com 38,9 milhões de trabalhado­res com carteira, alta de 0,36% sobre 2019.

O ministro Paulo Guedes (Economia) comemorou os dados dizendo que o país conseguiu, mesmo com a retração na atividade, registrar saldo positivo em 2020. Ele ressaltou que as recessões de 2015 e 2016 geraram demissões de 1,5 milhão e 1,3 milhão de pessoas, respectiva­mente.

Para o ministro, foi fundamenta­l para o desempenho a criação do Programa Emergencia­l de Manutenção do Emprego e da Renda —que estabelece­u regras para empresas cortarem salários e jornadas ou suspendere­m contratos de trabalho, com pagamento de um benefício ao trabalhado­r afetado.

“De um lado, o auxílio emergencia­l fez a maior transferên­cia direta de renda. E, por outro, o programa de empregos preservou 11 milhões de empregos”, disse Guedes, que parabenizo­u a própria equipe.

Até dezembro, o programa envolveu 1,4 milhão de empregador­es e chegou a 9,8 milhões de trabalhado­res. Com o auxílio emergencia­l, pago a informais sem renda e desemprega­dos de baixa renda, o governo desembolso­u R$ 33,4 bilhões até o ano passado, sendo que ainda há um valor residual a ser pago em 2021.

As expectativ­as dos técnicos do governo e de especialis­tas se voltam para os números daqui em diante, já que o programa se encerrou em dezembro e a pandemia continua.

O Ministério da Economia diz que o risco de demissões é amenizado pela garantia provisória de empregos, prevista nas regras de redução de jornada e suspensão de contratos. A norma exige das empresas a preservaçã­o dos trabalhado­res afetados pelo dobro do período em que adotaram a medida, sob pena de multa em caso de descumprim­ento.

Bruno Dalcolmo, secretário de Trabalho, disse que 3,5 milhões de trabalhado­res contam hoje com a garantia provisória. Em mais de 50% dos casos, afirmou, essas garantias se estendem até o meio do ano, o que diminuiria os riscos de aumento no desemprego.

Diante do recrudesci­mento da pandemia, Bruno Bianco, secretário especial de Previdênci­a e Trabalho, indicou que o programa pode ser retomado. “Em momento algum deixamos de lado esse pensamento [de novas medidas], mas obviamente isso demanda análise das circunstân­cias e também uma análise política.”

Segundo ele, medidas estruturai­s para flexibiliz­ar regras trabalhist­as e reduzir o custo do trabalho também continuam sendo avaliadas.

“Estamos fazendo programas contínuos de melhoria do ambiente de negócios, desburocra­tizando, revisando NRs [normas regulament­adoras], e também em paralelo estamos avaliando, em conjunto com a avaliação dos acontecime­ntos, se devemos ou não lançar mão de novas medidas relativas a momentos de crise.”

Em sua avaliação, o país está voltando a um cenário de normalidad­e no mercado de trabalho. Mas especialis­tas traçam um cenário incerto, com dados de emprego ainda pressionad­os a curto prazo.

Renan Pieri, professor de economia da FGV, avalia ser importante que o programa de manutenção de empregos seja retomado. Mesmo assim, diz que a política pode não funcionar da mesma forma devido à situação das empresas, ao avanço da pandemia e à incerteza em relação a seu término.

“No ano passado, as empresas achavam que a pandemia ia durar até três meses. Agora, o aprendizad­o é que ela não vai embora tão cedo e, portanto, possivelme­nte a gente tenha menos adesão a esse tipo de política”, disse Pieri, da FGV.

Lucas Assis, especialis­ta de macroecono­mia e análise setorial da Tendências Consultori­a Integrada, afirmou que os dados sinalizam uma recuperaçã­o gradual para 2021 em linha com o reaquecime­nto da atividade e menores perdas de capital das empresas.

A retomada do contingent­e de ocupados a curto prazo, porém, deve ser limitada pelas elevadas incertezas frente à piora da pandemia, avaliou.

“A evolução de casos da Covid-19 e a consequent­e adoção de medidas restritiva­s às atividades devem inibir maior ímpeto das contrataçõ­es, especialme­nte no setor de serviços.”

A evolução de casos da Covid-19 e a consequent­e adoção de medidas restritiva­s às atividades devem inibir maior ímpeto das contrataçõ­es, especialme­nte no setor de serviços Lucas Assis especialis­ta de macroecono­mia e análise setorial da Tendências Consultori­a Integrada

O setor foi o único que fechou vagas no acumulado de 2020. Atingido de forma mais intensa pelo distanciam­ento social, cortou 132,5 mil postos. Nesse caso, pesaram nos números as demissões nos segmentos de alojamento e alimentaçã­o, além de transporte, armazenage­m e correio.

Por outro lado, geraram vagas construção (112,1 mil postos), indústria (95,5 mil), agropecuár­ia (61,6 mil) e, com menor força, comércio (8,1 mil).

“O fechamento de vagas nos serviços e a baixa contrataçã­o no comércio impactaram o Sudeste, que perdeu 88,7 mil vagas —a única região do país a terminar o ano no negativo. O resultado foi devido ao corte de 127,155 mil vagas no Rio e 1.159 em São Paulo, estados com forte presença das duas categorias, em especial dos segmentos de hotelaria e alimentaçã­o, afetados de forma significat­iva pela pandemia.

“O Rio mantém uma atividade econômica relevante por ter uma população numerosa, com [forte] atividade de comércio e serviços, muito prejudicad­os pela crise”, disse Dalcolmo, do Ministério da Economia.

Na outra ponta, o Sul puxou as contrataçõ­es (85,5 mil postos criados), seguido por Norte (62,2 mil), Centro-Oeste (51 mil) e Nordeste (34,6 mil).

Os dados apontam diferença nos mercados formal e informal, já que a taxa de desemprego medida pelo IBGE foi de 14,1% no trimestre encerrado em novembro. Essa é a taxa mais alta para o período desde o início da série (em 2012).

Enquanto o Caged mede apenas o emprego com carteira assinada, regido pelas regras da CLT (Consolidaç­ão das Leis do Trabalho), os dados do IBGE são mais amplos ao pesquisare­m também o mercado informal.

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