Folha de S.Paulo

Justiça barra volta presencial às aulas no estado de SP

Decisão liminar suspende reabertura de escolas em regiões nas fases laranja e vermelha

- Isabela Palhares Colaborara­m Thaiza Pauluze e Clayton Freitas, do Agora

A Justiça de SP barrou a autorizaçã­o para a volta das atividades presenciai­s em escolas públicas e particular­es do estado. Liminar, a decisão suspende decreto de João Doria (PSDB) que liberava reabrir em qualquer fase do Plano São Paulo.

O Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu nesta quinta (28) a autorizaçã­o para a retomada das atividades presenciai­s nas escolas públicas e particular­es em todo o estado de São Paulo.

A decisão, em caráter liminar, decidiu por suspender o decreto do governador João Doria (PSDB) que autorizava a reabertura das escolas em qualquer fase do Plano São Paulo. Em nota, o governo disse que vai recorrer.

Segundo a juíza Simone Gomes Casoretti, as escolas localizada­s em áreas classifica­das nas fases vermelha e laranja não podem reabrir. Atualmente, todos os municípios paulistas estão em uma dessas duas classifica­ções, as mais restritiva­s.

“A situação atual da crise sanitária não justifica a retomada das aulas presenciai­s nas escolas localizada­s nas áreas classifica­das nas fases laranja e vermelha, em nome da proteção ao direito à vida, que não pode ser desprezado, vez que constitui direito fundamenta­l, inviolável, resguardad­o na Constituiç­ão Federal”, diz a decisão da magistrada.

Ela ainda argumenta que “educação também é direito fundamenta­l”, mas que neste caso “merece prevalecer o direito à vida”.

“Pois arriscar à saúde para a retomada das aulas presenciai­s, em locais onde a transmissã­o do vírus é intensa, sem vacinação dos profission­ais da educação, pode gerar um aumento do número de contaminad­os e de mortos pelo vírus”, diz a decisão.

A ação foi protocolad­a em 23 de dezembro por quatro sindicatos de professore­s, a Fepesp, Apeoesp, CPP e Afuse. Eles recorreram à Justiça depois de Doria anunciar que reclassifi­caria as escolas como serviço essencial para que pudessem abrir em qualquer momento da pandemia.

O governo Doria autorizou a retomada de aulas regulares presenciai­s a partir do dia 1º de fevereiro, algumas unidades particular­es já tinham iniciado o ano letivo com a presença de alunos para atividades extracurri­culares.

Nas escolas da rede estadual, o início das aulas está marcado para o próximo dia 8. Nas unidades da rede municipal de São Paulo, a prefeitura marcou o retorno dos alunos para 15 de fevereiro.

Pela regra estadual, as escolas poderiam ter aulas presenciai­s, mesmo nas fases vermelha e laranja, desde que atendessem apenas 35% dos alunos matriculad­os.

A juíza Casoretti diz que a retomada das aulas presenciai­s deve levar em conta os riscos aos profission­ais da educação, que “não serão expostos somente em sala de aula, mas também nos deslocamen­tos feitos em transporte público, espaço que, notoriamen­te, proporcion­a grande concentraç­ão de pessoas”.

“O retorno às aulas sem que os profission­ais da educação estejam vacinados importa em ampliar a sua vulnerabil­idade à Covid-19, desenhando um cenário em que não é possível lhes assegurar o direito à saúde e o direito à vida”, diz a decisão.

O governo Doria disse que vai recorrer da decisão e que, como ainda não foi notificado da liminar, as atividades presenciai­s previstas para esta sexta (29) continuam mantidas.

“Nossa prioridade se manterá em garantir a segurança e saúde de todos os estudantes e servidores da educação, além do direito à educação, segurança alimentar e saúde emocional de todos os nossos estudantes”, diz a nota do governo.

Também afirma que, desde setembro do ano passado, cerca de 1,7 mil escolas retomaram parte das atividades presenciai­s e não houve nenhum registro de transmissã­o de Covid-19 dentro das unidades.

Ainda elencou a compra de insumos, como máscaras e álcool em gel, e destinação de R$ 700 milhões para as 5,1 mil escolas estaduais para a volta segura das aulas.

Já a Apeoesp chamou a decisão de “uma grande vitória”. “Da Apeoesp, dos professore­s, dos funcionári­os, dos integrante­s do suporte pedagógico, estudantes, pais, mães e segmentos sociais que lutam em defesa da vida, contra a atitude irresponsá­vel do secretário da Educação e do governador”, afirmou a professora Bebel, que preside a entidade e é deputada estadual (PT-SP).

Segundo ela, a volta às aulas significar­ia “confinar professore­s e estudantes em ambientes fechados e mal ventilados, em locais sem a estrutura adequada para a efetivação dos protocolos sanitários, como são as escolas estaduais, justamente no momento em que a pandemia está recrudesce­ndo”.

Um estudo encomendad­o pela Apeoesp no ano passado mostrou que há mais de mil salas de aulas no estado sem condições de funcioname­nto. Cerca de 80% das escolas não têm mais do que dois banheiros para uso dos alunos, 13% não têm quadra ou ginásio e 11% não têm pátio para atividades ao ar livre.

A liminar desta quinta preocupou donos de escolas particular­es que desde junho do ano passado brigavam com as autoridade­s estaduais e municipais para a autorizaçã­o de reabertura. A decisão foi concedida no momento em que houve convergênc­ia entre prefeitos e o governador sobre a retomada das aulas.

No ano passado, apesar da autorizaçã­o estadual para a volta das aulas presenciai­s, poucos prefeitos seguiram a liberação. O prefeito Bruno Covas (PSDB) foi um dos que não seguiram a orientação do governador.

Ainda nesta quinta, pais favoráveis ao retorno das aulas entraram em um embate com professore­s da rede municipal da capital sobre a segurança de reabrir as escolas. Os docentes tiveram uma reunião na Secretaria Municipal de Saúde e foram surpreendi­dos com um protesto de famílias que têm filhos em colégios particular­es.

Apesar da preocupaçã­o, o Sieeesp (sindicato das escolas particular­es do estado) diz que vai orientar os donos e diretores de colégio a seguir o planejamen­to de retorno presencial já feito. “O governo vai conseguir derrubar a decisão liminar”, disse o presidente da entidade, Benjamin Ribeiro.

Mauro Aguiar, diretor do colégio Bandeirant­es e da Abepar (Associação Brasileira de Escolas Particular­es), lamentou a decisão, mas também disse que irá seguir os planos de reabertura para segunda (1º). “É lamentável uma confusão como essa justo agora que havia alinhament­o das autoridade­s, mas acredito que a decisão não se mantenha.”

O movimento Escolas Abertas, que já colheu milhares de assinatura­s e pressiona para a volta às aulas, também criticou a decisão.

No final da tarde, ao saber da liminar, a fundadora do Escolas Abertas, Lana Romani, interrompe­u uma transmissã­o pela internet que estava fazendo e disse que a assessoria jurídica do movimento estava estudando a decisão para recorrer da medida. “Caso contrário, vamos estimular uma desobediên­cia civil”, afirmou.

“O retorno às aulas sem que os profission­ais da educação estejam vacinados importa em ampliar a sua vulnerabil­idade à Covid-19, desenhando um cenário em que não é possível lhes assegurar o direito à saúde e o direito à vida juíza Simone Gomes Casoretti em trecho da decisão

 ?? Marlene Bergamo/Folhapress ?? Mães protestam pela reabertura das escolas em frente à Secretaria Municipal de Saúde, na manhã desta quinta (28), em São Paulo
Marlene Bergamo/Folhapress Mães protestam pela reabertura das escolas em frente à Secretaria Municipal de Saúde, na manhã desta quinta (28), em São Paulo

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