Por governista em pleito no Senado, MDB deserta Tebet
Favoritismo de Rodrigo Pacheco se consolida; senadora disputa como independente e critica jogo para fazer da Casa ‘apêndice do Executivo’
Simone Tebet (MDB-MS) oficializou candidatura independente à presidência do Senado, após seu partido a abandonar para compor a chapa de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), apoiado por Jair Bolsonaro. Em troca, o MDB deve levar a vice-presidência.
BRASÍLIA Politicamente abandonada pelo próprio partido, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) oficializou nesta quinta-feira (28) sua candidatura independente à presidência do Senado.
O anúncio veio depois de o MDB sinalizar que poderia concluir na própria quinta-feira a negociação para compor a chapa de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), candidato apoiado pelo atual presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEMAP), e pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Até a conclusão desta edição, isso não tinha acontecido.
A retirada do apoio a Tebet consolida o favoritismo de Pacheco, que já contava com apoio suficiente para atingir os 41 votos necessários para vencer a disputa —desconsiderando possíveis traições. Como o voto é secreto, elas são esperadas.
Alcolumbre e o líder da bancada do MDB, Eduardo Braga (MDB-AM), se reuniriam nesta quinta para acertar detalhes. O presidente do Senado ofereceu ao MDB a vice-presidência da Casa, como havia adiantado o Painel. Também fazem parte da oferta a segunda secretaria e o comando de duas comissões.
São considerados favoritos para a vice-presidência o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB) e os líderes do governo Bolsonaro no Senado e no Congresso, respectivamente Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) e Eduardo Gomes (MDB-TO).
Concretizado o acordo, Braga já adiantou que pretende liberar a bancada para que os senadores votem como desejarem. Simone Tebet decidiu anunciar sua candidatura antes mesmo da decisão da bancada emedebista.
“Hoje [quinta-feira] na hora do almoço eu recebi um telefone oficial do líder da bancada do MDB no Senado, senador Eduardo Braga, me liberando de qualquer compromisso, uma vez que eles ainda estão em tratativas ainda não encerradas com o presidente Davi Alcolumbre sobre cargos e proporcionalidade do MDB numa possível composição”, disse ela, em entrevista a jornalistas no Senado.
A senadora evitou fazer críticas a seu partido, mas deixou em aberto a possibilidade de abandonar a sigla a partir de março. Tebet, no entanto, não afirmou que se trataria de ressentimento com a decisão da bancada na disputa pelo Senado e sim que poderia sair por “questões regionais”.
“Enquanto eu acreditar no Movimento Democrático Brasileiro, eu permaneço no MDB. Eu tenho, obviamente, um compromisso regional com o MDB, que passo agora a questionar, é natural”, afirmou ela.
“Eu não posso dizer neste momento da minha permanência ou não. Hoje, eu estou no MDB. Quero continuar no MDB. Se a partir de março continuarei, o tempo dirá, a depender muito mais de questões regionais do que de questões nacionais”, acrescentou a senadora.
Tebet afirma que detém parte dos votos da bancada do MDB, entre eles o de Eduardo Braga, segundo ela.
A senadora de Mato Grosso do Sul, que preside a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, também fez duras críticas a Bolsonaro por conta da ingerência do Palácio do Planalto na eleição do Congresso.
Disse que a “independência” do Senado está “comprometida” e querem transformar o Senado em um “apêndice do Executivo”.
“Hoje, a independência do Senado Federal está comprometida, comprometida pela ingerência, porque temos um candidato oficial do governo federal e isso é visível diante da assertiva e dos anúncios feitos por colegas em relação à estrutura, ao apoio e a ministros pedindo apoio para o candidato oficial do governo.”
“Veio o jogo de quererem transformar o Senado em um apêndice do Executivo e, dentro disso, vocês podem interpretar da forma que bem entenderem”, completou.
Tebet também pediu uma união de esforços para enfrentar a pandemia do novo coronavírus, afirmando que existe um “confuso cronograma” de vacinação. Também defendeu a prorrogação do auxílio emergencial, mas dentro do teto dos gastos.
A senadora havia sido escolhida no dia 12 de janeiro para disputar a eleição à presidência do Senado, mas nunca foi unanimidade na bancada.
Recentemente, parlamentares começaram a questionar a ausência do apoio que ela havia garantido que receberia. De maneira reservada, alguns membros da bancada descreveram como “frustrantes” os resultados da campanha até então.
Tebet apostava que receberia apoio, além do MDB, das bancadas de Podemos (9 senadores), PSDB (7), Cidadania (3) e PSL (2).
Houve dissidência de dois senadores do Podemos. O maior golpe, no entanto, aconteceu quando a bancada do PSDB decidiu liberar seus parlamentares para votar como desejarem. A maioria dos tucanos pende para Pacheco.
Em contrapartida, o senador mineiro do DEM conta com o apoio de dez bancadas.
A iminência de uma derrota humilhante fez com que muitos parlamentares passassem a sugerir a desistência da candidatura. A bancada do MDB então se reuniu após a mais recente ofensiva de Alcolumbre, com a proposta da vicepresidência e outros cargos.
Ainda nesta quinta-feira, a bancada da Rede anunciou que irá apoiar Pacheco. Com dois senadores, o partido estava indeciso, mas pendia para o lado de Tebet.
No mesmo dia em que a emedebista anunciou que vai continuar na disputa de maneira independente, apoiadores dela lançaram suas próprias candidaturas em ato de protesto contra as negociações em curso.
Lasier Martins (PodemosRS) afirmou que sua candidatura seria protocolada na própria quinta-feira.
“Será uma anticandidatura. Vou usar a minha fala para dizer algumas verdades, vou mostrar como o Senado está aviltado”, disse à Folha.
Lasier ainda avalia se vai levar sua candidatura até o momento da votação ou se pretende apenas usar o tempo de discurso em plenário destinado aos candidatos.
“Vou avaliar a evolução dos acontecimentos, como estará a conjuntura”, disse.
O senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) também é précandidato à presidência do Senado, mas vinha afirmando que poderia desistir se sua candidatura atrapalhasse Tebet —em quem afirma que irá votar. Agora, ele diz que vai até o final da eleição, também para usar a tribuna para criticar seus pares.
“Apenas duas motivações eu passo a ter: ir com minha candidatura até o fim para apoiar a Simone e, segundo, para ser solidário a uma mulher séria e digna, traída por um partido tão sujo como esse. Tem pessoas boas dentro do partido, mas na essência, na hora do jogo eleitoral, ele é um chiqueiral.”
“Hoje, a independência do Senado está comprometida, pela ingerência. [...] Veio o jogo de quererem transformar o Senado em um apêndice do Executivo
Simone Tebet ao anunciar que deixou de ter o apoio do MDB