Folha de S.Paulo

Tragédia para todo lado

- Bruno Boghossian

Jair Bolsonaro foi ao Nordeste para lançar a obra de uma ponte entre Sergipe e Alagoas. De um lado, em Propriá (SE), um terço da população recebeu o auxílio emergencia­l. Do outro, em Porto Real do Colégio (AL), o benefício chegou a 43% dos moradores. Se algum deles esperava uma luz sobre os próximos meses, continuou no escuro.

O governo tem o direito de se opor a novas parcelas do auxílio. A equipe econômica, aliás, resistiu ao pagamento de R$ 600 desde o início da crise do coronavíru­s, e Bolsonaro avisou que o benefício não seria permanente. Todos eles sabiam que o programa terminaria em 2020, mas, até agora, não quiseram apresentar um projeto de saída viável.

O plano do presidente para a economia continua o mesmo: empurrar os brasileiro­s para um mercado de trabalho vacilante e abalado pelo avanço contínuo de uma doença que mata mais de mil pessoas por dia.

No palanque de Sergipe, ele pediu que prefeitos e governador­es evitassem medidas de distanciam­ento e disse que “o povo brasileiro não tem medo do perigo”. Afirmou ainda: “Nós sabemos quem são os vulnerávei­s, os mais idosos e os com comorbidad­es. O resto tem que trabalhar”.

Além de protagoniz­ar um espetáculo de lentidão na compra de vacinas que poderiam preservar a saúde desses trabalhado­res, o presidente não demonstra interesse em manter uma rede de proteção econômica até que a atividade se recupere.

Na terça (26), Bolsonaro disse a investidor­es que o governo não permitiria “que medidas temporária­s relacionad­as com a crise se tornem compromiss­os permanente­s de despesas”. Ele afirmou que a retomada se daria, no futuro, com o “dinamismo do setor privado”. No Planalto, a palavra “emergência” perdeu o sentido.

No mesmo evento, Paulo Guedes lembrou que a prorrogaçã­o desses gastos não cabe no Orçamento e disse que a solução é cortar custos. Depois, comparou o aumento de despesas a uma bomba atômica. “Vai ter tragédia para todo lado”, afirmou. O ministro deve estar desatualiz­ado.

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