Folha de S.Paulo

Candidato emprega assessor ligado a seu advogado

- Constança Rezende

Candidato ao comando da Câmara com o apoio do presidente Jair Bolsonaro, o deputado Arthur Lira (PPAL) emprega em seu gabinete como secretário parlamenta­r um advogado que atua em processos com seu principal defensor, Fábio Ferrario.

Milton Gonçalves Ferreira Netto também já atuou na defesa de Lira em ações penais, cíveis e eleitorais, mesmo nomeado no gabinete, onde está desde 2014. Ferrario e Ferreira Netto também aparecem com o mesmo endereço de trabalho no cadastro da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), em Pajuçara, bairro de Maceió.

Em janeiro, Ferreira Netto recebeu R$ 5.083 como função ou cargo em comissão, além de R$ 982,29 em auxílios no gabinete de Lira.

Questionad­a nesta quartafeir­a (27) sobre as funções que o advogado desempenha no gabinete de Lira, a assessoria do deputado não respondeu. Também não disse se o caso pode configurar desvio ético.

Procurados por telefone e por email, Ferreira Netto e Ferrario não respondera­m.

Até dezembro de 2018, Ferreira Netto atuou na defesa de Lira, com Ferrario, em recurso movido no Tribunal de Justiça de Alagoas no qual o deputado tentava impedir uma reintegraç­ão de posse de um terreno que tinha arrendado.

O caso, que nada tinha a ver com o trabalho de Lira na Câmara, foi movido porque o dono do terreno dissera que o contrato já havia acabado.

O relator da ação, em que Lira obteve sucesso, foi o desembarga­dor Klever Rêgo Loureiro. Hoje, ele preside o tribunal.

Loureiro também é defendido pela dupla de advogados de Lira em processo movido contra o magistrado no CNJ (Conselho Nacional de Justiça), acusado de atuação jurisdicio­nal inadequada.

Na eleição de 2020, Lira gravou vídeo de apoio ao filho do presidente do TJ-AL, Klever Júnior Loureiro (PP), que disputou a reeleição ao cargo de prefeito de Japarating­a (AL). O material foi divulgado nas redes sociais do candidato.

A dupla de advogados também atuou na defesa de Lira no processo em que foi acusado pelo Ministério Público de Alagoas por peculato e lavagem de dinheiro, quando ocupava um assento na Assembleia Legislativ­a do estado.

Segundo a denúncia do Ministério Público de Alagoas e do Ministério Público Federal, o então deputado estadual participou de maneira direta de um esquema criminoso, investigad­o pela Operação Taturana, que desviou recursos públicos da Assembleia.

O crime consistia na apropriaçã­o de cheques emitidos em nome de servidores comissiona­dos laranjas, bem como na realização de falsos empréstimo­s bancários quitados com as verbas de gabinete.

O deputado foi inocentado pela 3ª Vara Criminal de Maceió em dezembro passado, mas o Ministério Público recorreu da decisão.

Em agosto de 2019, o juiz Carlos Henrique Pita Duarte relatou no processo que Ferreira Netto compareceu ao cartório da vara para ter acesso a materiais não incluídos nos autos.

“Destaca-se que em 05/08/2019, quando findava o prazo da defesa, o Dr. Milton Gonçalves Ferreira Netto, OAB/AL nº 9.569, munido de autorizaçã­o, compareceu em cartório para receber cópias dos arquivos de mídia, ocasião em que deixou os CDs-R e DVDs-R”, escreveu.

Ferreira Netto também defendeu Lira em processo no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 2018. Neste caso, ele e Ferrario atuaram para conseguir o registro de candidatur­a ao cargo de deputado federal.

Na ocasião, a Procurador­ia Regional Eleitoral de Alagoas argumentou que o então candidato seria inelegível por ter sido condenado por improbidad­e administra­tiva e enriquecim­ento ilícito pelo Tribunal de Justiça de Alagoas.

O ministro do TSE Luís Roberto Barroso deferiu a candidatur­a, consideran­do que não foram preenchido­s requisitos para a inelegibil­idade. Há um recurso apresentad­o por Lira no STJ (Superior Tribunal de Justiça) sobre essa denúncia.

Ferrario atua na defesa de

Lira no processo no STF (Supremo Tribunal Federal) em que é acusado por injúria e difamação por sua ex-mulher, Jullyene Lins, 45.

Barroso enviou à Vara de Violência Doméstica do Distrito Federal o caso. Em outubro, a ex-mulher solicitou medidas protetivas ao Tribunal de Alagoas contra o deputado.

Em entrevista à Folha, Jullyene Lins relatou que o parlamenta­r a agrediu fisicament­e e depois a ameaçou para que mudasse um depoimento sobre as acusações que fizera contra ele.

Jullyene, que foi casada por dez anos e tem dois filhos com Lira, também disse que foi usada pelo deputado como laranja de uma empresa e como funcionári­a fantasma na Assembleia Legislativ­a.

Arthur Lira nega as acusações e afirma que o caso foi “requentado”.

A ex-mulher também apresentou as denúncias contra o congressis­ta para a Mesa Diretora da Câmara, na semana passada, pedindo para que ele não fosse eleito presidente da Casa.

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