Repique da Covid cria incertezas sobre recuperação do emprego
Flexibilização das medidas de distanciamento leva brasileiro a procurar vaga, mas disparada nas infecções nubla o cenário
A flexibilização das medidas de distanciamento social no fim do ano passado levou o brasileiro a voltar a buscar emprego, e um contingente importante encontrou algum tipo de ocupação, seja ela formal ou informal.
Segundo dados divulgados nesta quinta-feira (28) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 2,7 milhões de pessoas deixaram a inatividade no trimestre encerrado em novembro.
O IBGE considera inativo quem não trabalha nem procura emprego. Desempregado, para o órgão, é quem procurou emprego no período da pesquisa, mas não o encontrou.
Parte desse contingente que deixou a inatividade está entre os 3,9 milhões que encontraram uma vaga no período, um avanço de 4,8% na população ocupada na comparação com o trimestre anterior —o maior avanço da série histórica do instituto, iniciada em 2012.
Segundo a analista da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), Adriana Beringuy, 62% do crescimento da ocupação é atribuído a atividades informais. Como o informal foi o primeiro afetado pela crise do coronavírus, em parte por causa das medidas de restrição social, era esperado que fosse o primeiro a dar sinais positivos após o relaxamento dessas medidas.
A informalidade cresceu tanto entre os que trabalham por conta própria —alta de 6,6% ante o trimestre anterior— quanto entre os que atuam no setor privado e domésticos.
Juntos, esses dois tiveram alta de 10,71% nos empregos no trimestre até novembro.
As vagas formais no setor privado também aumentaram, seja entre empregados, empregadores ou trabalhadores por conta própria.
Mesmo com mais gente trabalhando, tanto a taxa de desocupação quanto o contingente que ainda busca colocação permaneceram estáveis, em 14,1% e 14 milhões, respectivamente, devido à volta de parte dos inativos ao mercado.
E é o retorno dessa população para o mercado de trabalho —seja com uma ocupação ou, principalmente, procurando trabalho— o que, para alguns economistas, poderá levar ao aumento no desemprego a curto e médio prazo.
Para o economista Cosmo Donato, da LCA Consultores, as rápidas mudanças entre o que o Brasil vivia em novembro do ano passado e o momento atua tornam incipientes os sinais de uma possível recuperação das vagas.
“A conjuntura naquele momento era de um mínimo de distanciamento social e maior mobilidade, que foi o que permitiu a volta da circulação de pessoas”, afirmou.
“Minha preocupação é com os próximos meses. Os informais se recuperaram, mas ainda estão muito distantes do que era antes da pandemia.”
A pesquisadora Ana Luiza
Barbosa, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), diz ver o mercado envolto em incertezas até, pelo menos, o mês de março, já que as inseguranças em relação à pandemia ainda persistem.
O repique da pandemia, a identificação de uma nova variante do vírus e as dúvidas quanto à velocidade da imunização fazem com que os dados até o penúltimo mês de 2020 pareçam pertencer a um passado distante.
“Tínhamos outro cenário em novembro com a flexibilização nas restrições e o aumento na mobilidade”, disse Étore Sanchez, economistachefe da Ativa Investimentos.
Para Donato, da LCA, as novas medidas de contenção podem levar parte da população a retornar à inatividade —e, assim, deixar de figurar nas estatística de desemprego, apesar de não trabalhar—, ainda que seja improvável que o recrudescimento ocorra com a mesma rigidez dos primeiros meses de pandemia.
Se isso acontecer e houver novo recuo da força de trabalho, é improvável que haja um novo pico de desocupação.
Os dados da Pnad Contínua divulgados nesta quinta apontaram para melhora em nove dos dez setores analisados pelo IBGE. O comércio, impulsionado por compras de fim de ano, empregou 854 mil no trimestre até novembro.
Minha preocupação é com os próximos meses. Os informais se recuperaram, mas ainda estão muito distantes do que era antes da pandemia
Cosmo Donato economista da LCA Consultores