Santistas contestados lideram time na busca pelo tetracampeonato
Volante Alison e lateral direito Pará superam críticas técnicas de torcedores para se tornarem a alma da equipe
Cuca tinha apenas 11 jogos e pouco mais de um mês à frente do Santos, em 15 de setembro de 2020, quando demonstrou incômodo por alguns questionamentos.
O técnico mudou de tom durante uma entrevista ao ser questionado sobre as escolhas de Pará e Alison como titulares, minutos após empate sem gols com o Olimpia (PAR), na Vila Belmiro, pela terceira rodada da Libertadores.
“Nós tiramos o Alison durante o jogo. Melhorou depois que ele saiu? Quantas chances tivemos a mais? Não se trata de culpar um jogador”, disse.
Pará era visto quase como um intruso, responsável por frear a ascensão do lateral Madson, que vinha de atuações consistentes. Alison costumava ter destacada a técnica pouco refinada no meio de campo que formava com Carlos Sánchez e Diego Pituca.
Confirmados na decisão deste sábado, às 17h, ambos superaram questionamentos para virarem a alma da redenção do Santos na temporada.
O capitão Alison, 27, é visto desde cedo como um exemplo de superação dentro do time. Chegou ao clube ainda com 11 anos, longe de estar entre as promessas mais comentadas internamente por dirigentes, mas sempre figurando como titular com todos os treinadores nas categorias de base.
“Costumo dizer que é um jogador que corre por dois, que ocupa o espaço de dois dentro de campo, que não tem vaidade, que se doa. Queremos sempre [um jogador assim] na equipe”, disse o técnico Claudinei Oliveira, com quem o atleta trabalhou principalmente no time sub-20.
No time principal, recebeu da torcida o apelido “MMAlison” e “Pitbull”, pela intensidade demonstrada a cada partida, mas provou com Cuca ser mais do que isso. Tornou-se peça de encaixe tático fundamental da defesa formada por Luan Peres e Lucas Veríssimo.
Pará, 34, também se reencontrou no clube. Causou estranheza, em agosto de 2019, o anúncio do retorno à Vila Belmiro. Contestado por parte da torcida e visto como jogador de pouco valor técnico, parecia incoerente o pedido do então técnico Jorge Sampaoli.
“O que eu mais gostava era a determinação, a disciplina tática, o respeito à hierarquia. Nunca ligou para críticas”, diz o técnico Sérgio Soares, que trabalhou com Pará no Santo André, no início de carreira.
Nascido em São João do Araguaia (PA), a 725 km de Belém, trabalhava com o pai como servente de pedreiro. Aos 13 anos, foi levado a São Paulo para testes por um empresário e abandonado na cidade.
Passou fome, morou de favor em uma pensão e chegou a dormir de forma improvisada na guarita do campo do Barcelona Esportivo Capela, clube da capital paulista. Foi observado pelo Santo André após um quadrangular em que participou com o Barcelona.
Pará chegou ao Santos em 2008 e ficou até 2012. Ao lado do goleiro Vladimir, é o único remanescente da conquista da Libertadores de 2011. Passou por Grêmio, Flamengo e voltou como um líder do elenco.
Ajudou a apaziguar ânimos na discussão com a diretoria em meio à crise financeira vivida pelo clube, com atraso no pagamento dos salários.
Em uma das reuniões, Pará pediu a palavra e discursou sobre a dificuldade vivida pelo mundo. Lembrou a jogadores sobre a oportunidade de vestirem a camisa do Santos. Ganhou a braçadeira de capitão e a confiança de Cuca.
O lateral busca conquistar a sua terceira taça do torneio. Chegou a hora de os carregadores de piano brilharem.