Folha de S.Paulo

Retrato aloprado - parte quatro

Uma biografia de Bolsonaro livremente inspirada no podcast ‘Retrato Narrado’

- Renato Terra Roteirista e autor de ‘Diário da Dilma’. Dirigiu o documentár­io ‘Uma Noite em 67’

Você está lendo o quarto episódio de “Retrato Aloprado”. Se não leu os outros, vá para renatoterr­a.blogfolha.uol.com.br.

Na Loucademia Militar das Agulhas Negras, o jovem Bolsonaro formou laços de amizade com Didi, Dedé, Sargento Pincel e Eduardo Pazuello. Todos desafiavam a autoridade do general Heleno, também conhecido como comandante Harris.

A afinidade com Pazuello cresceu quando Bolsonaro tomou conhecimen­to de seu plano estratégic­o para invadir Cuba. O futuro ministro da Saúde enviaria tropas terrestres que, saindo de Sorocaba, chegariam à Mesopotâmi­a antes do almoço.

Soldados surinamese­s nadariam até o Nepal, onde se encontrari­am com albatrozes. Uma fábrica de slime forneceria todos os suprimento­s. No dia D, na hora H, dependendo do fuso horário, se não acontecess­e nenhum imprevisto, os porcos comunistas estariam de joelhos.

Fanático por leite condensado, Bolsonaro elaborou com Pazuello um sistema logístico para que seu alojamento nunca ficasse desabastec­ido. Foi o período em que Bolsonaro mais emagreceu. Alimentous­e apenas de cloroquina.

Estagnado na carreira militar, sem nenhuma contribuiç­ão relevante, Bolsonaro se revoltava diariament­e com a necessidad­e de acordar cedo, a bendita obrigação de ficar de pé. Negava-se a pintar o meiofio de branco. Então um dia ele elaborou um plano, desenhou um croqui e mostrou para uma jornalista da revista Veja.

O croqui mostrava a posição exata, no rio Guandu, onde Bolsonaro queria jogar uma rede de pesca. Pazuello já tinha pensado em toda a logística para que os dois fisgassem um número de peixes suficiente para alimentar toda a população da China.

Como a China é comunista, o Tribunal Militar instaurou um julgamento por pesca subversiva. Bolsonaro negou que os desenhos fossem dele.

Como mostrou o saudoso jornalista Luiz Maklouf Carvalho no livro “O Cadete e o Capitão: A Vida de Jair Bolsonaro no Quartel”, dois exames grafotécni­cos provaram que os croquis foram realmente feitos por Bolsonaro. E outros dois foram inconclusi­vos. Seguindo a lógica matemática que formou Eduardo Pazuello, o Exército entendeu que dois menos zero era igual a zero. E absolveu o cadete.

Mas as Forças Armadas resolveram expulsar Bolsonaro. Desse dia em diante, ele passou a amaldiçoar a China. E a jurar que um dia, no futuro, ia manchar para sempre a imagem do Exército brasileiro.

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Débora Gonzales

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