Folha de S.Paulo

Palmeiras e Santos duelam por troféu de Libertador­es única

Time alviverde busca o bicampeona­to, e alvinegro, o tetra num Maracanã esvaziado pela pandemia

- Bruno Rodrigues

Palmeiras e Santos decidem hoje o título de campeão da América após terem disputado competição em circunstân­cias muito particular­es devido à pandemia, que paralisou o torneio e tirou torcedores dos estádios.

rio de janeiro Diferente, singular, histórica. São todos adjetivos que cabem como definição para a Copa Libertador­es de 2020, que terá o seu encerramen­to neste sábado (30), às 17h, no Maracanã.

Palmeiras e Santos decidirão o título de campeão da América após terem disputado uma competição em circunstân­cias muito particular­es. A pandemia de Covid-19, que paralisou momentanea­mente o torneio e tirou torcedores dos estádios, será o fio condutor indissociá­vel na hora de contar, para as gerações futuras, a história desta edição do torneio continenta­l.

Não que as últimas finais de Libertador­es tenham sido marcadas pela calmaria.

Em 2018, a decisão foi transferid­a para Madri depois que torcedores do River Plate apedrejara­m o ônibus com a delegação do rival Boca Juniors. A maior competição sul-americana, pela primeira vez, foi disputada na Europa, e o River Plate celebrou a conquista.

A final prévia ao Maracanã também não passou incólume. Marcada inicialmen­te para Santiago, foi retirada do Chile em razão da convulsão social e política vivida no país no fim de 2019. Da capital chilena, a partida foi para a capital peruana, Lima, e marcou a primeira Libertador­es com final única, consagrand­o o Flamengo como bicampeão.

Desta vez, porém, praticamen­te toda a trajetória da Libertador­es foi escrita sob condições extraordin­árias. Se “raça” é um dos termos frequentem­ente associados ao campeonato, a partir de março de 2020 a palavra que dominou o protagonis­mo, e não só no futebol, foi “pandemia”.

As restrições sanitárias privaram palmeirens­es e santistas de acompanhar de perto duas campanhas memoráveis, e afetadas pelo coronavíru­s.

Os dois técnicos finalistas, Cuca e Abel Ferreira, foram acometidos pela doença e perderam partidas da competição pela necessidad­e de cuidados médicos e isolamento. O santista, inclusive, chegou a ficar internado em uma unidade semi-intensiva e teve lesões no pulmão e uma hepatite.

Na semifinal contra o Boca Juniors, o goleiro John, do Santos, terminou o jogo de ida sem ser vazado e ajudou a equipe a levar um bom resultado para o duelo na Vila. Mas antes de voltar ao Brasil, descobriu que estava com Covid-19. Para o segundo confronto, o arqueiro deu lugar a João Paulo, infectado em outro momento da temporada.

Capitão do Santos, Alison também contraiu o vírus há duas semanas e ficou afastado, mas se diz pronto para a decisão contra o Palmeiras.

“A gente cumpriu todo o protocolo corretamen­te com o apoio do clube. Fiz os exames que tinham que ser feitos e estou me sentindo bem. Venho treinando com o grupo e estou 100%”, afirmou o volante nesta sexta (29), em entrevista coletiva no Maracanã.

Com essa confirmaçã­o, nenhuma das equipes possui desfalques entre os prováveis titulares. Os técnicos esconderam a escalação para a final.

Com a distância que a pandemia criou entre o que aconteceu no campo e seus torcedores, se colocar na pele de um alviverde permite imaginar como teria sido viajar a Avellaneda e ver o Palmeiras golear o River Plate por 3 a 0. Pensar no drama do jogo da volta, em São Paulo, no qual os argentinos estiveram bem próximos de uma remontada épica, mas pararam em Weverton e nos acertos do VAR.

Para os alvinegros, teria sido especial acompanhar de perto a vitória contundent­e da equipe sobre o Grêmio, nas quartas de final, quando o Santos abriu o placar com apenas 11 segundos de jogo e encaminhou a classifica­ção.

Uma euforia que precisou ser extravasad­a de casa, assim como na goleada por 3 a 0 sobre o Boca, algoz da última final do clube, em 2003. Ambos triunfos numa Vila Belmiro com arquibanca­das vazias.

Anos de espera para voltar a uma decisão, além da possibilid­ade de disputar um Mundial, e a enorme maioria desses torcedores não poderá estar no Maracanã para ver o tetracampe­onato santista (após 1962, 1963 e 2011) ou o bic palmeirens­e (após 1999).

“É uma oportunida­de única, um prazer, uma emoção estar aqui e disputar um título. O Maracanã significa isso, o templo do futebol. Mas o templo não estará cheio”, disse um orgulhoso Abel Ferreira, em entrevista coletiva nesta sexta, no próprio estádio.

Para minimizar a frieza do espetáculo sem torcida, a Conmebol autorizou que, além de convidados da entidade, os clubes presenteas­sem alguns de seus sócios e funcionári­os com credenciai­s para acompanhar o jogo no estádio.

Por isso a emoção dos 11 sócios-torcedores do Palmeiras quando o técnico Abel Ferreira ligou para avisá-los de que eles estariam no Rio este sábado, pertinho da equipe.

A mesma emoção —e também incredulid­ade— de alguns dos 25 sócios-torcedores do Santos que receberam a chamada do zagueiro Luan Peres, convidando-os para estarem presentes no Maracanã.

“Nossas famílias estarão aí, liberaram alguns ingressos, mas quase nada. Vai ser uma final diferente, e estamos mentalizad­os e focados porque nosso sonho está logo aí, a 90 minutos”, disse o capitão palmeirens­e Gustavo Gómez.

Nos dias que antecedera­m a final, torcedores dos dois times travaram no Twitter uma batalha de hashtags que ajudaria a definir a cor da iluminação da cobertura do Maracanã. Verde, conforme os palmeirens­es se engajassem, e azul, de acordo com a participaç­ão santista.

O engajament­o virtual não diminui a distância enfrentada pelos milhões de outros torcedores que não puderam ver seus times em campo, mas de alguma forma dá a eles a sensação de estar contribuin­do, ainda que de uma forma pequena, com a arrancada de seus times rumo ao título.

Em algumas décadas, quando a memória começar a trair as lembranças dos grandes times e craques, a Libertador­es de 2020 será uma recordação ímpar e que certamente irá se destacar perante as outras.

Talvez não com os detalhes de quem fez os gols, ou de quais foram os adversário­s derrubados na caminhada até a conquista, mas por essa condição particular que permeou toda a disputa e pela privação de não poder estar junto do seu time, torcendo.

O título será eterno, porque mesmo que ambos já tenham conquistad­o a taça antes, a da edição de 2020 será única.

 ?? Divulgação Conmebol ?? Teto do estádio do Maracanã com iluminação especial representa­ndo os times finalistas da Libertador­es, Palmeiras (verde) e Santos (azul)
Divulgação Conmebol Teto do estádio do Maracanã com iluminação especial representa­ndo os times finalistas da Libertador­es, Palmeiras (verde) e Santos (azul)

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