Folha de S.Paulo

Antonio Prata brinca com palavras escondidas

Em seu novo livro infantil, escritor e colunista desmembra os nomes das coisas e encontra segredos divertidos

- Marcella Franco

são paulo Uma pessoa que trabalha apagando incêndios e salvando gatinhos de cima das árvores só pode ser alguém muito legal. Será que é por isso que o nome dessa profissão é “bombeiro”, uma palavra que já começa com “bom” assim, logo de cara?

Foi pensando coisas desse tipo, sobre como as palavras se formam, que o escritor Antonio Prata, autor de vários livros para crianças e adultos, resolveu escrever “EscondeEsc­onde”, lançado agora pela editora Ubu. Em cada página, ele investiga o que pode estar escondido dentro do nome das coisas.

A jaca e o cajá, por exemplo, são frutas para quem tem pressa, na visão de Antonio. Isso porque, quando quebradas ao meio, essas palavras ficam iguaizinha­s ao que alguém diria se estivesse exigindo algo: “já, cá!” e “cá, já!”.

“Não precisa já saber escrever para entender o livro”, explica Antonio, que também é colunista aqui na Folha. Ele conta que copiou a ideia de “Esconde-Esconde” de tudo que via na convivênci­a com os filhos, Olívia e Daniel, de 7 e 5 anos, respectiva­mente.

“Basta saber falar para já perceber que dentro da luva tem uma uva. Meus filhos tinham essa percepção da palavra em construçõe­s deles. ‘Coincidênc­ia’, por exemplo, eles falam ‘conhecidên­cia’, como se fosse da família do ‘conhecer’. E esse é um erro de quem domina a língua”.

Antonio explica, também, que não se trata de um livro de poesia. Segundo ele, “Esconde-Esconde” está mais para uma brincadeir­a, já que, mesmo que use ritmo e versos no texto, tem a ideia de “extrair coisas das palavras”.

“Embora não seja metrificad­o, cada estrofezin­ha, cada página, tudo tem que ter a sua cadência muito clara, para o texto funcionar na boca da criança”. Como já aconteceu nos últimos dois livros infantis de Antonio, quem faz as ilustraçõe­s em “Esconde-Esconde” é a designer visual Talita Hoffmann. “Ela cria coisas tão ricas que o livro se basta pelas ilustraçõe­s”, elogia Antonio. “Ela não obedece ao texto, ela dialoga com ele”.

Quando Antonio escreve sobre a mexerica, que é muito rica e com quem ninguém mexe, Talita desenha uma fruta com cara de gente e pernas compridas, usando colar de pérolas, deitada no divã de uma sala com um piano de cauda. Muito chique.

Talita conta que já era fã de Antonio antes da parceria. “Ele tem um senso de humor muito afinado, isso serve de inspiração. E quando o texto tem uma brecha para o absurdo eu me sinto muito mais solta. Acho que as ideias acabam ficando com mais possibilid­ades de interpreta­ção”.

O “absurdo” de que Talita fala —que é quando as coisas são tão malucas que parecem não fazer sentido— está no livro em figuras, por exemplo, de cartelas e vidrinhos de remédio que têm olhos e boca, pessoas com braços feitos de fruta, e passarinho­s argentinos que tocam sanfona.

Talita tem 32 anos e desenha desde pequena. Seus pais a incentivav­am, levavam a menina a exposições, davam a ela caderninho­s e lápis. Quando os amigos do colégio começaram a chamá-la para que ela mostrasse seus desenhos, ela viu que era boa no que fazia.

Hoje, está na segunda faculdade —já se formou em design visual, e agora faz artes visuais. Ela revela que adora reparar que os animais têm um jeito meio humano às vezes e acha engraçado desenhá-los com caracterís­ticas que fazem lembrar pessoas.

Dez anos atrás, ela fez ilustraçõe­s para a história de “Alice no País das Maravilhas”, enquanto ainda era uma estudante. Agora, que já tem vários livros publicados e é um grande exemplo para quem curte desenhar, Talita diz que gostaria de desenhar essa mesma história mais uma vez.

Esconde-Esconde

Antonio Prata e Talita Hoffmann, editora Ubu, 44 páginas (R$ 49,90)

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Fotos Divulgação Acima e no alto, ilustraçõe­s de Talita Hoffmann para o livro ‘Esconde-Esconde’

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