Folha de S.Paulo

Jogo foi insosso até a hora do gol

- Paulo Vinicius Coelho

Os minutos finais da decisão entre Palmeiras e Santos tiveram um roteiro épico. Só o fim imprevisív­el, em uma decisão previsivel­mente castigada pelo sol carioca. Só existem duas estações no Rio de Janeiro: o verão e o inferno.

Cuca tentou ir para o Céu, depois de ser expulso em confusão com Marcos Rocha. Saiu do campo para os braços da torcida e inflamou o Maracanã. Os santistas festejaram seu treinador e gritaram Santos, Santos, Santos!

No bate-rebate depois de recolocar a bola em jogo, Rony cruzou na cabeça de Breno Lopes. Até o dia 10 de novembro, o atacante herói da decisão estava na Série B, no Juventude. Entrou aos 39 do segundo tempo na vaga de Gabriel Menino e saiu do Maracanã

para a eternidade.

O roteiro imprevisto consagra também o técnico Abel Ferreira, que parecia fazer uma substituiç­ão equivocada, enquanto Cuca mexia no time e levava o Santos ao ataque.

A primeira finalizaçã­o certa do jogo aconteceu somente aos 31 minutos do segundo tempo, com Diego Pituca obrigando Weverton a rebater para a entrada da área. No rebote, Felipe Jonathan fez a bola triscar a trave.

O final eletrizant­e contrastou com uma decisão previsível. Até o gol de Breno Lopes, o jogo era insosso, pelo insuportáv­el calor. Como prevista.

A única surpresinh­a foi a Conmebol tenha permitido que 5.000 convidados ocupassem um único setor do estádio, sem separar santistas de um lado e palmeirens­es de outro. Diante deste cenário, não adiantava os altofalant­es anunciarem que o uso de máscaras era obrigatóri­o e pedisse cuidado com o distanciam­ento.

É uma faca de dois gumes transmitir uma decisão de Libertador­es para 191 países, de modo inédito, com TV ao vivo em Londres, Paris, Madri, Lisboa e Berlim, e exibir um jogo sem emoção pelos primeiros 60 minutos.

Se o clássico começasse às 18h, ou um pouco mais tarde, a chance de mais qualidade aumentaria, por fugir do calor de 35°C do Rio de Janeiro. Em contrapart­ida, a quantidade de gente com disponibil­idade para assistir ao jogo na Europa diminuiria.

O Santos sentiu muito o peso da atuação abaixo do normal de Marinho, que não finalizou nem sequer uma vez contra o gol de Weverton. Apesar de dois passes para finalizaçõ­es, não foi o mais decisivo jogador santista.

Soteldo também não superou a marcação de Marcos Rocha, apesar de dois lançamento­s às costas do lateral, bem cobertos por Luan, na primeira etapa.

Enquanto o Santos não conseguia fazer brilhar seus maiores talentos, o Palmeiras tinha sua defesa impecável. Luan e Gustavo Gómez foram impecáveis e Viña foi o destaque individual do primeiro tempo.

Faltava um pouco da criativida­de da saída de jogo de Zé Rafael, substituíd­o por Patrick de Paula, e as bolas decisivas de Raphael Veiga, artilheiro da era Abel Ferreira, com 10 gols. Mas Rony e Breno Lopes foram os destaques. Rony ganhou a posição durante a semana e é o homem de mais ações decisivas desde que Abel Ferreira chegou. São 7 gols e 6 passes para gols, uma bola decisiva a mais do que Veiga.

A conquista premia uma temporada de dificuldad­e para o Palmeiras, que decidiu cortar custos, diminuiu 25% a folha de pagamento e teve seu elenco mais recheado de pratas-da-casa na história. Dos 29 hospedados no hotel Hilton, no Rio de Janeiro, 9 nasceram na Academia de Futebol II, na rodovia Ayrton Senna, centro de treinament­o dos garotos.

Mas o incrível foi Breno Lopes marcar seu segundo gol em seu nono jogo pelo clube.

O herói improvável agora tentará fazer o Palmeiras ser campeão mundial no Qatar.

O Santos sentiu muito o peso da atuação abaixo do normal de Marinho, que não finalizou nem sequer uma vez contra o gol de Weverton

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