Oito em 10 leitores da Folha apoiam o impeachment
Pesquisa Datafolha mostra que Bolsonaro é rejeitado por 90% dos leitores do jornal, ante 40% no geral
Jair Bolsonaro é mais rejeitado e tem apoio maior a seu impedimento entre leitores da Folha, em comparação com a população em geral, aponta pesquisa Datafolha. Defendem que o Congresso abra um processo de impeachment 80% dos leitores, ante 42% dos brasileiros.
O presidente Jair Bolsonaro é mais rejeitado e tem apoio maior a seu impeachment entre leitores da Folha, em comparação com a população em geral.
É o que aponta pesquisa Datafolha com 526 pessoas que assinam ou leem o jornal de forma secundária, entre os dias 27 e 28 de janeiro. A margem de erro é de quatro pontos para mais ou menos.
Defendem que o Congresso abra um processo de impeachment 80% dos leitores, ante 42% da população aferidos em levantamento do Datafolha em 20 e 21 de janeiro —com 2.030 pessoas e margem de erro de dois pontos.
São contra a medida 18% do leitorado, número que vai a 53% no país como um todo.
Entre os leitores, 80% desejam a renúncia do presidente, acima dos 45% na população. Não querem isso 18%, ante 51% na população.
Os leitores do jornal também são mais críticos em relação ao presidente. Avaliam a gestão como ruim ou péssima 90%, número que é de 40% na população em geral. Aprovam Bolsonaro só 3% do leitorado, ante 31% dos brasileiros, enquanto 7% o acham regular (26% no total).
Em pesquisas nacionais comparáveis do passado, Dilma Rousseff (PT) tinha 80% de rejeição e só 6% de aprovação às vésperas da abertura de seu processo de impeachment, em março de 2016. Seu sucessor, Michel Temer (MDB), registrou 52% de ruim/péssimo e 13% de ótimo/ bom em novembro de 2018, após a eleição de Bolsonaro.
O raciocínio de rejeição vale para a credibilidade presidencial: 85% nunca confiam no que ele diz (41% dos brasileiros) e 92% acham que ele não tem capacidade de liderar (50% na população).
A política econômica é rejeitada por 73%, e 43% consideram que o Congresso mais ajuda do que atrapalha (35%) a agenda de reformas do ministro Paulo Guedes. Para 16%, nem uma coisa, nem outra.
Entre as ações que o governo deveria promover, os leitores privilegiam a reforma tributária, muito importante para 82%. Reforma administrativa tem 64%, teto de gastos, 58%, e privatizações só são vistas assim por 28%.
A pandemia, cuja gestão pelo titular do Planalto é condenada por 48% dos brasileiros, é vista como ruim ou péssima por 93% dos leitores do jornal. Apenas 2% aprovam o trabalho de Bolsonaro, ante 26% na população.
Igualmente é malvisto o trabalho do Ministério da Saúde: 85% dos leitores o rejeitam (30% na população), e 5% o aprovam (35% entre os brasileiros em geral).
A percepção de culpa principal do presidente pelas mais de 220 mil mortes pela Covid-19 cresce de 11% na população para 49% no leitorado. Quem acha que Bolsonaro não tem culpa alguma decresce de 47% para 7% entre leitores, enquanto fatias semelhantes (39% e 44%) acham que ele é um dos culpados, mas não o principal.
O leitor da Folha tem mais medo de se infectar com o Sars-CoV-2 (65%, ante 44% na população em geral). Dizem não ter medo 5%, ante 16% entre os brasileiros.
O apoio às vacinas é maior no leitorado: 99% querem ser inoculados (79% na população), e 77% acham que a medida deveria ser obrigatória (55% entre os brasileiros).
84% dos leitores aprovam cobertura feita do governo
A cobertura feita pelo jornal do governo, criticada por Bolsonaro, é aprovada por 84% dos leitores —eram 67% no ocaso do governo Temer, em 2018. Consideram-na regular 14% (eram 21%) e ruim ou péssima 2% (eram 11%).
Na véspera do impeachment de Dilma, 77% achavam que a Folha fazia um trabalho ótimo ou bom, 16%, regular e 6%, ruim ou péssimo.
Para 8% dos ouvidos agora, a Folha é mais crítica do que deveria ser sobre o governo (eram 29% em 2018 e 13% em 2016). O jornal é menos crítico do que deveria para 24% (10% e 14% no passado) e tem um tom na medida para 68% (60% e 71% antes).
A virulência dos ataques do presidente à imprensa e à Folha, um dos alvos preferenciais de suas críticas, é amplamente condenada.
Cresceu, de 2018 para cá, de 51% a 84% o número de leitores que dizem não ver razão nos ataques. Quem diz haver muita razão foi de 15% para 2%, e 13% veem um pouco de motivos para Bolsonaro (32% há pouco mais de dois anos). A avaliação quando a Folha está na mira é semelhante: 82% (45% antes) não veem motivo para ataques, 12% (30% em 2018) veem um pouco e 5% (22% antes) apontam muitas razões.
A ideia de que as ações do presidente são uma ameaça à liberdade de imprensa no geral tem ressonância em 85% dos leitores (45% em 2018). Não acreditam nisso 15% (51% antes). Apontam risco à Folha 85% dos leitores (49% antes), e 14% não percebem isso (48% em 2018).
Em comparação com o momento posterior à eleição de Bolsonaro, o leitorado se deslocou para a centroesquerda de forma mais sensível. Em novembro de 2018, 20% se diziam nessa faixa política; agora são 43%. Houve estabilidade em quem se diz de esquerda (14% e 12% agora), centro (24% e 23%) e centro-direita (20% e 16%).
Os dois turbulentos anos de Bolsonaro no poder afetaram a atratividade da direita, cuja autodeclaração pelos leitores foi de 19% a 5%.
O Datafolha perguntou como o leitor percebe a posição política da Folha. Para 4%, o jornal é de esquerda (14% em 2018), 28% (24%) acham que está na centro-esquerda, 33% (25% antes) no centro, 28% (21%) na centro-direita e 4% (12%) na direita.
Acham que o jornal deveria estar à esquerda 5% (6% antes). Na centro-esquerda, 31% (19%); no centro, 41% (38%); na centro-direita, 14% (18%), e na direita, 4% (12%).