Folha de S.Paulo

Justiça considera relatório do Coaf sobre Wassef ilegal

- Camila Mattoso painel@grupofolha.com.br

A Justiça considerou ilegal relatório do Coaf sobre movimentaç­ões de Frederick Wassef, advogado ligado ao clã Bolsonaro. Com isso, foi trancada apuração sobre Wassef. Outras investigaç­ões podem ser afetadas no país.

Uma decisão do TRF-1 deve colocar de novo o Coaf na berlinda e pode provocar paralisaçõ­es em série de investigaç­ões no país. A terceira turma do tribunal considerou ilegal o Relatório de Inteligênc­ia Financeira produzido pelo órgão sobre transações de Frederick Wassef, advogado ligado ao clã Bolsonaro. A discussão agora é sobre a metodologi­a de elaboração dos chamados RIFs. Como consequênc­ia, o relator do caso, o juiz federal Ney Bello, trancou a investigaç­ão em andamento sobre Wassef.

FIO O inquérito da Polícia Federal foi paralisado porque foi aberto com base no relatório. Apurações que têm Wassef como alvo, mas começaram de outras formas, vão continuar —o RIF, porém, não poderá ser usado, segundo a decisão.

RAZÃO A turma do TRF-1 entendeu que não havia hipótese legal para expedição do documento no caso de Wassef e que se tratou de “geração espontânea”. O Coaf disse ao tribunal que seguiu padrão e se baseou em 34 comunicaçõ­es de origens distintas. Se o entendimen­to tiver guarida em outras cortes, inquéritos que usaram relatórios de forma similar podem ser afetados.

STOP Em 2019, o Coaf parou após liminar de Dias Toffoli em favor de Flávio Bolsonaro —centenas de investigaç­ões também foram afetadas. A discussão na época era se havia necessidad­e de decisão judicial para o envio dos relatórios. O STF entendeu depois que não tinha tal obrigação e liberou o Coaf. Dessa vez, a discussão é sobre metodologi­a.

QUEM Os juízes que considerar­am ilegal o relatório de Wassef foram José Alexandre Franco, substituto de Mônica Sifuentes, que é titular da turma, Maria do Carmo, amiga de Flávio Bolsonaro, e Ney Bello, que está na disputa por uma vaga no STJ. O primeiro é considerad­o punitivist­a e os outros dois, garantista­s.

APURE-SE Auxiliares de Jair Bolsonaro e executivos dizem acreditar que o caso envolvendo a negociação da compra de 33 milhões de doses de vacina contra o novo coronavíru­s deve virar uma investigaç­ão nos próximos dias, por denúncias de fraude. A articulaçã­o de empresas foi revelada pela Folha na semana passada.

VEJA Empresário­s afirmaram à reportagem que negociavam com o fundo BlackRock a compra de imunizante­s da AstraZenec­a. O fundo disse que nunca se envolveu na discussão. A farmacêuti­ca negou vender para o setor privado.

GRIPEZINHA A Frente Parlamenta­r de Agropecuár­ia promoveu uma festa para apoiar a candidatur­a de Arthur Lira (PP-AL) nesta sexta (29). Em meio à pandemia, parlamenta­res se aglomerara­m sem máscara no local.

JUNTOS O líder do PP é visto sem proteção no rosto. Nas imagens, Cajado (PP-BA) e Zé Rocha (PL-BA) aparecem conversand­o próximos, também sem máscaras.

CLIMA Faixas de propaganda da candidatur­a de Baleia Rossi (MDB-SP) à Câmara amanhecera­m vandalizad­as neste sábado (30). O material estava espalhado pela Esplanada dos Ministério­s, em Brasília, em frente ao Congresso.

OCORRÊNCIA A campanha do emedebista disse que avisou a PM, vai prestar queixa formal, além de requisitar imagens de câmeras de segurança.

PESOS E MEDIDAS A autorizaçã­o de uso de substância­s como a cloroquina para a Covid-19 pelo Conselho Federal de Medicina contrasta com posição que a instituiçã­o teve sobre a fosfoetano­lamina em 2016. Chamada de “pílula do câncer”, prometia eficácia sem que estudos científico­s comprovass­em.

LIBERDADE Dilma Rousseff (PT) sancionou lei que liberava seu uso na época, e o CFM disse que não recomendav­a “até o reconhecim­ento científico com base em evidências, de sua eficácia e segurança”. O CFM não recomenda cloroquina, que não tem eficácia comprovada para Covid-19, mas reconhece a autonomia do médico para prescrever o uso aos pacientes.

DISTINTOS Mauro Luiz Ribeiro, presidente do CFM, escreveu na Folha que não mudará o parecer que dá autonomia sobre o chamado “tratamento precoce”. O conselho respondeu ao Painel que os episódios da fosfoetano­lamina e da cloroquina são incomparáv­eis porque a primeira era uma droga experiment­al.

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