Folha de S.Paulo

Por Lira, gestão Bolsonaro promete emendas e cargos

Para honrar promessas, terá que aprovar Orçamento ou projeto com crédito extra

- Julia Chaib e Danielle Brant

Empenhado em eleger o deputado Arthur Lira (PP-AL) como presidente da Câmara dos Deputados nesta segunda-feira (1º), o governo fez uma série de promessas envolvendo emendas e cargos.

O Planalto também retaliou congressis­tas que tinham espaço na máquina federal e declararam voto em Baleia Rossi (MDB-SP), principal adversário do líder do centrão.

Diferentem­ente do que fez em anos anteriores, o Executivo abriu o cadastro para inscrição de municípios em programas federais que terão verbas carimbadas por deputados. Na prática, tratase de um compromiss­o assumido por Lira e pelo governo em troca do apoio na eleição.

Para disponibil­izar o dinheiro e honrar as promessas, será necessário aprovar ou o Orçamento ou um projeto que abra crédito extra.

Segundo o governo, já foram cadastrado­s pedidos de cerca de 600 municípios, que registrara­m demandas que giram em torno de R$ 650 milhões. Os pedidos são relativos às pastas do Desenvolvi­mento Regional, do Turismo e da Agricultur­a.

Os cálculos mais realistas de integrante­s da campanha de Lira contabiliz­am cerca de 220 votos para o congressis­ta. Já outros, mais otimistas, contam com no mínimo 280 apoios para o deputado.

Além dessas promessas, feitas no período de campanha, Lira já havia feito uma série de concessões aos pares em 2020.

No fim do ano passado, a Câmara aprovou o PLN 30, projeto de lei que abriu crédito suplementa­r de quase R$ 6,1 bilhões a oito ministério­s. O valor foi repassado aos líderes de partidos da base, que distribuír­am entre congressis­tas.

Em dezembro, o governo já usava a liberação dos recursos referentes a essas emendas como moeda de troca e segurou verbas em casos nos quais o parlamenta­r não afirmava que votaria em Lira e atuou de forma contrária no caso oposto. Depois, passou a oferecer ainda mais recursos para quem votasse favoravelm­ente ao deputado.

Em outra frente, segundo relato de congressis­tas, o Executivo fez nomeações em cargos de segundo escalão e estaduais no mês de janeiro.

Da mesma forma, retirou indicados de deputados que estavam em órgãos federais.

Um exemplo é o do deputado federal Flaviano Melo (MDB-AC). Ele relatou a três colegas que o governo federal demitiu nomes apadrinhad­os por ele em postos no Acre. Melo declarou apoio a Baleia e apareceu em fotos com ele.

Embora Bolsonaro sempre dissesse que não abriria espaço em cargos de primeiro escalão, alguns ministério­s entraram na negociação. O da Cidadania, por exemplo, deve ficar com o Republican­os.

Segundo congressis­tas, o próprio Lira e seus aliados ofereceram outros postos e pressionam por cargos. Se o deputado do PP ganhar a eleição, a tendência é que Bolsonaro abra ainda mais postos.

Atualmente, o governo Bolsonaro tem 23 ministério­s, 8 a mais do que os 15 prometidos durante a campanha eleitoral.

Segundo aliados do governo, integrante­s do centrão também pressionam pela troca do general Eduardo Pazuello, do Ministério da Saúde. Um dos cotados para assumir caso o militar seja exonerado é o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). O presidente da Câmara, Rodrigo Maia( D EM- RJ ), ficou tão irritado coma interferên­cia do governo que chegou a telefonar para o ministro Luiz Eduardo Ramos( Secretaria de Governo) para reclamar, como revelou a Folha.

Em entrevista, Maia lamentou a interferên­cia do Planalto na disputa da Câmara. “É um alerta aos deputados e deputadas que a intenção do presidente é transforma­r o Parlamento num anexo do Palácio do Planalto, o que enfraquece o mandato de cada deputado ecada deputada e, principalm­ente, o protagonis­mo da Câmara dos Deputados nos debates coma sociedade .”

Maia estimou que o Executivo tenha prometido cerca de R $20 bilhões em emendas extra orçamentár­ias par atentar assegurar apoio a Lira.

“Pela conta que eu fiz e pelo Orçamento que nós teremos para 2021, pelo que eu já vi que o governo está prometendo junto com seu candidato, vai dar pelo menos uns R $20 bilhões de emendas extra orçamentár­ias ”, disse.

“Eu quero saberem que Orçamento par ao a node 2021, com todo problema do teto de gastos, que eles poderão cumprir, se vitoriosos, essa promessa.”

Nos últimos dias antes da eleição, as duas campanhas brigar ampara conseguira maioria dos apoios de dois partidos, principalm­ente o DEM e o Solidaried­ade.

A cúpula de ambas as legendas declarou apoio a Baleia. As bancadas dos partidos, porém, racharam.

Lira, então, trabalha para assegurar que ametade mais um dos 31 deputados do DEM assinem uma lista para que migrem formalment­e para o bloco dele. Segundo integrante­s da cúpula do partido, até sexta, 14 deputados estavam fechados com Baleia, 13 com Lira, e 4 eram considerad­os voláteis. Já o Solidaried­ade, que tem 14 deputados, também está rachado.

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Pedro Ladeira - 21.jan.21 /Folhapress O senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG)
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Kleyton Amorim - 4.dez.2019 /UOL O deputado Arthur Lira (PP-AL)

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