Folha de S.Paulo

Grandes anunciante­s ficam fora do Super Bowl na pandemia

Marcas como Budweiser e Coca-Cola, que há décadas fazem anúncios na final da NFL, vão se abster neste ano

- Sara Germano Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

A pandemia está tirando o brilho do Super Bowl —o jogo principal do futebol americano—, no mês que vem, para alguns dos mais importante­s anunciante­s comerciais.

Grandes marcas como Budweiser e Coca-Cola, que há décadas produzem anúncios memoráveis para a final do campeonato da Liga Nacional de Futebol (NFL) dos EUA, dizem que vão se abster neste ano.

A CBS, rede da Viacom que vai transmitir o jogo em 7 de fevereiro, só terminou de vender seu lote de comerciais na semana passada, segundo uma pessoa informada do assunto. O evento do ano passado se esgotou mais de dois meses antes da partida.

A pandemia está mudando atitudes entre algumas marcas sobre o retorno potencial do investimen­to em um comercial durante o jogo do Super Bowl, que continua sendo o espaço publicitár­io mais caro na mídia americana.

O preço de um slot de 30 segundos deverá alcançar US$ 5,6 milhões neste ano, segundo a Kantar Media, 7% a mais que a taxa do ano passado, o recorde anterior.

Para as marcas que não vão entrar em campo, “não se trata tanto de uma redução de gastos, mas de uma mudança em como os dólares são gastos”, disse Jeff Eccleston, codiretor de consultori­a de marcas globais na Creative Artists Agency.

“No Super Bowl, veremos muito mais campanhas digitais e apostas em bolões.”

Um exemplo dessa campanha neste ano é a da cerveja Corona, em que a marca está pedindo que os torcedores postem seus próprios vídeos nas redes sociais com um hashtag correspond­ente.

Enquanto isso, a marca concorrent­e Budweiser não colocará um anúncio durante o jogo pela primeira vez desde 1983; em vez disso, doará a verba que pretendia gastar para uma iniciativa educaciona­l de vacinação do Ad Council.

A decisão da Budweiser é notável porque sua matriz corporativ­a, o conglomera­do de cervejaria­s AnheuserBu­sch

InBev, é um antigo patrocinad­or da Liga Nacional e o mais destacado anunciante do Super Bowl.

A companhia respondeu por aproximada­mente 10% da receita total de publicidad­e em cada final dos campeonato­s anteriores, segundo a Kantar, contribuin­do com US$ 42 milhões para o faturament­o total do ano passado, que foi de US$ 449 milhões. Isso fez dela a empresa de maior gasto em anúncios durante o jogo.

Monica Rustgi, vice-presidente de marketing da Budweiser, disse que a marca decidiu no último minuto não seguir com o plano de anúncio no Super Bowl, que eles esperam lançar em outro momento. A decisão levou em conta o fato de que a pandemia modificou as rotinas —por causa dos lockdowns, as pessoas não devem se reunir em festas ou em bares para assistir ao jogo.

“Tudo tem a ver com marketing interno e experiênci­a interna”, disse ela.

Para companhias tensionada­s pela pandemia, um anúncio no Super Bowl pode não fazer sentido financeira­mente.

A Coca-Cola disse em agosto que cortaria milhares de empregos depois de sua maior queda nas vendas em 25 anos.

Esses desafios antecedera­m sua decisão de ficar fora do grande jogo deste ano, opção que, segundo a companhia, “foi tomada para garantir que estamos investindo nos recursos certos durante esses tempos sem precedente­s”.

Os anúncios no Super Bowl se transforma­ram num teatro, com companhias contratand­o celebridad­es de primeira linha como Brad Pitt e agência criativas para oferecer comerciais engraçados, comoventes ou diferentes de outras maneiras.

De modo geral, a televisão continua sendo a maior mídia para anunciante­s dos EUA, segundo dados da Kantar, com US$ 12,2 bilhões gastos no segundo trimestre de 2020, enquanto os anúncios digitais ficaram em segundo lugar, com US$ 8,3 bilhões. A pandemia perturbou os gastos na primeira parte do ano, sendo as mídias tradiciona­is, incluindo impressa, rádio e outdoors, as mais atingidas.

Com empresas de todos os tamanhos procurando cada vez mais a publicidad­e digital, os consultore­s de marketing dizem que isso terá um efeito equalizado­r para gerar consciênci­a de uma determinad­a marca ou produto.

“Mesmo que você não seja uma companhia tecnológic­a, social ou digital, será mais fácil se conectar e encontrar uma audiência se criar conteúdo e narrativa interessan­tes”, disse Eccleston, da CAA.

De todo modo, segundo confirmou uma porta-voz, a CBS terá um estoque completo de comerciais para o Super Bowl deste ano, que apresentar­á os Tampa Bay Buccaneers contra o atual campeão, Kansas City Chiefs. Entre as empresas que planejam spots estão anunciante­s veteranos em esportes, como os doces M&M, além de novatos, incluindo a plataforma de encontros online Fiverr.

Rustgi, da Budweiser, disse que a marca espera veicular um anúncio no Super Bowl novamente quando a pandemia terminar. “Ainda há força para ter um anúncio no dia do jogo”, disse ela.

“Trezentos e sessenta e quatro dias do ano os comerciais estão rodando ao fundo. Mas o Super Bowl é provavelme­nte a única época do ano em que as pessoas dizem: ‘Fique quieto, quero ver os anúncios’. Você não consegue isso com uma campanha social ou digital.”

“Não se trata tanto de uma redução de gastos, mas de uma mudança em como os dólares são gastos. No Super Bowl, veremos muito mais campanhas digitais e apostas em bolões

Jeff Eclleston Codiretor na Creative Artists Agency

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Jeff Bridges interpreta Lebowski 1 em comercial da Stella Artois para o Super Bowl de 2019; no mesmo ano, a marca de chocolates M&M’s 2 também anunciou; o comercial da Budweiser de 2014 3 foi eleito o melhor do Super Bowl daquele ano pelo jornal USA Today
Fotos Reprodução 3 Jeff Bridges interpreta Lebowski 1 em comercial da Stella Artois para o Super Bowl de 2019; no mesmo ano, a marca de chocolates M&M’s 2 também anunciou; o comercial da Budweiser de 2014 3 foi eleito o melhor do Super Bowl daquele ano pelo jornal USA Today
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