Folha de S.Paulo

Defensor da causa indígena, viveu e contou histórias

ELY MACUXI (1961-2021)

- Patrícia Pasquini coluna.obituario@grupofolha.com.br

Ely Macuxi era um contador de histórias. Nascido no interior do Amazonas mas registrado em Manaus, ficou conhecido entre os indígenas como o “irmão que falava bem”.

Professor concursado de história da rede pública de ensino em Manaus, escritor e palestrant­e, Ely tinha o dom da palavra e da escrita e construiu um acervo de artigos e outros gêneros de textos de autoria própria. É autor do livro “Ipaty, o Curumim da Selva”, que traz as lendas, os mitos, as tradições, os costumes e o cotidiano dos macuxi.

Graduado em filosofia, tinha mestrado em sociedade e cultura na Amazônia e especializ­ação em gestão e etnodesenv­olvimento, ambos na Universida­de Federal do Amazonas.

Segundo Luiz Gustavo de Souza, 32, um dos filhos, Ely se destacou como incentivad­or e defensor incansável da educação escolar indígena de qualidade, respeitand­o a cultura e os saberes tradiciona­is. Atualmente, assessorav­a o Conselho de Educação Escolar Indígena do Amazonas, vinculado à Secretaria Estadual da Educação. Ely também fundou o Núcleo de Educação Escolar Indígena de Manaus.

Por ter sido seminarist­a, educado na Paróquia de Santa Luzia, em Manaus, Ely era muito religioso. Lá conheceu a esposa, a professora Terezinha Souza e Souza, 64, que morava num internato de freiras. Casaram-se em dois anos.

Em 2020, completara­m 33 anos de união.

Homem da natureza, mantinha como hábito as caminhadas na mata e os banhos de rio. Aos domingos, a oração e o almoço ao lado da família eram sagrados.

Ely Macuxi morreu dia 21 de janeiro, aos 59 anos, por complicaçõ­es da Covid-19. Deixa a esposa, cinco filhos e dois netos.

“Ele deixa para nós a capacidade de lutar e acreditar que a cultura indígena poderá ser respeitada como uma forma de vida não arcaica, mas atual”, afirma Luiz Gustavo.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil