Folha de S.Paulo

EUA registram melhoria nos indicadore­s da crise

Casos, hospitaliz­ações e mortes caem, mas especialis­tas temem variantes

- Patricia Pamplona

Líder em infecções e mortes por Covid-19, os EUA têm melhoras em seus ainda altos índices que permitem vislumbrar uma virada na crise.

SÃO PAULO País líder em mortes e infecções por Covid-19, os EUA parecem vislumbrar um ponto de virada na pandemia do coronavíru­s. Após um pico de hospitaliz­ações, casos e mortes no início deste ano, os números dão sinais de que podem retroceder.

Previsões publicadas pelo CDC (Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA, na sigla em inglês), na última quinta-feira (28), mostram tendência de queda para os principais índices da Covid-19 no país: casos, hospitaliz­ações e mortes.

O registro de novos casos por semana, embora elevado, já apresentou redução de 38,6% nas últimas três semanas. As infecções atingiram seu pico de 1,7 milhão no período entre 3 e 9 de janeiro, o mais alto patamar desde que o primeiro caso foi confirmado nos EUA —se comparado ao número do fim do verão no Hemisfério Norte (inverno no Brasil), o aumento foi de 602%.

O pico veio depois de dois saltos importante­s nos índices, um no feriado de Ação de Graças nos EUA, em 26 de novembro, e outro no Natal.

A tendência apresentad­a pelo CDC agora, porém, é a de uma queda consideráv­el. Com base em uma previsão elaborada a partir do estudo de 25 grupos modelo, estima-se uma diminuição de 38,2% entre o pico do início do mês e o acumulado da semana entre 14 e 20 de fevereiro.

A estimativa já dá sinais de se confirmar. O somatório de casos entre 24 e 30 de janeiro ficou em 1,04 milhão, abaixo da previsão de 1,22 milhão, publicada antes do encerramen­to do período. Se confirmada a tendência, o país volta ao mesmo patamar do começo de novembro, quando o início das temperatur­as baixas colaborou com o surto.

Especialis­tas avaliam que diferentes fatores contribuem para a diminuição. Um deles é o término do período de alta de infecções devido às festas de fim de ano. “O período de viagens do qual o vírus se aproveitou está quase no fim”, explicou à agência de notícias AFP Amesh Adalja, professor afiliado do departamen­to de Segurança Sanitária da Universida­de Johns Hopkins.

A queda no número diários de testes, que retraiu 11% entre 18 e 29 de janeiro, segundo o New York Times, também pode acabar contribuin­do, mas a taxa de positivida­de desses exames acompanhou a baixa, indicando que a contenção da propagação é real, afirma o jornal americano.

Há ainda a questão do comportame­nto. Especialis­ta em doenças infecciosa­s da Universida­de da Flórida, Natalie Dean afirmou também à AFP que a população “entra em ação” quando o número de infecções aumenta em sua região. A prevenção, como o uso de máscaras e o distanciam­ento social, também tem um papel importante.

Já Brandon Brown, especialis­ta em saúde pública da Universida­de da Califórnia, aponta “a diminuição da desinforma­ção” sobre a pandemia como outro motivo. Para ele, “é difícil negar a realidade dos mais de 400 mil óbitos” no país. Mais de 440 mil pessoas já morreram de Covid-19 nos EUA, que soma 2,2 milhões de infectados.

Se por um lado a população passa a ser mais cautelosa quando há um aumento nas infecções, o contrário ocorre quando os registros diminuem, alertam os especialis­tas.

O fato é que o número de hospitaliz­ações e de mortes acompanha a queda, apesar de o pico deste último ser mais recente —esses registros normalment­e seguem a mesma tendência dos casos, mas com um certo atraso, já que o processo para confirmar uma fatalidade por coronavíru­s é mais demorado.

Embora ainda elevado, mas longe do pico de 6.489 vítimas de 15 de abril, houve uma queda de 5,9% na quantidade de mortes nas duas últimas semanas. O ápice do acumulado por semana foi alcançado no período entre 10 e 16 de janeiro, que somou 23,4 mil mortes.

A previsão do CDC aponta que os números seguirão uma tendência de baixa, podendo chegar a 18.790 novas mortes no acumulado entre 14 e 20 de fevereiro, ou 19,7% desde o pico em meados de janeiro, o mesmo patamar que na semana anterior ao Natal.

A estimativa, no entanto, ficou levemente abaixo do somatório entre 24 e 30 de janeiro. Foram 22.025 mortes no período, contra os 21.075 previstos, o que significa também um aumento de 2,3% em relação ao período anterior, entre 17 e 23 de janeiro.

Já a quantidade de novas hospitaliz­ações viu uma queda pela segunda semana seguida, tendo diminuído 10% no período entre 20 e 27 de janeiro, segundo análise do Covid Tracking Project (Projeto de Acompanham­ento da Covid).

A melhora nos números, segundo a iniciativa, reflete a diminuição das internaçõe­s em quase todos estados —o oposto do que ocorreu em novembro, quando o índice subia em quase todas as regiões ao mesmo tempo. É a primeira semana desde 5 de novembro que nenhum estado bateu recordes de pessoas internadas.

O país viu o pico desses números em 6 janeiro, com 132,4 mil pessoas em hospitais. Até sexta, a queda foi de 23,7%, de acordo com o Covid Tracking Project. Segundo previsão do CDC, as novas internaçõe­s devem cair 32,2% até 22 de fevereiro. Segundo o professor Adalja afirmou à AFP, a campanha de vacinação em lares de idosos provavelme­nte contribuiu para a queda nas hospitaliz­ações e mortes.

Os EUA começaram a aplicar os imunizante­s em 14 de dezembro. Até sábado (30), 24 milhões de pessoas já haviam recebido ao menos a primeira dose da vacina no país. O número ainda é baixo e correspond­e a cerca de 7,2% da população americana —longe dos 85% necessário­s para a imunidade de rebanho.

Apesar de os números parecerem apresentar boas novas, o presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou, no dia seguinte à sua posse, que a pandemia estava longe de acabar no país e que o total de americanos mortos pela doença deve chegar a 500 mil em fevereiro.

Diferentes preocupaçõ­es ainda cercam a questão do coronavíru­s. Jeffrey Seman, epidemiolo­gista da Universida­de de Columbia, disse à AFP que teme que a adoção de medidas preventiva­s caia na primavera (outono no Brasil), quando o deslocamen­to da população deve aumentar.

Também há as mutações do vírus, já encontrada­s no Brasil, na África do Sul e no Reino Unido. Pouco se sabe se as vacinas serão eficazes contra as variantes, mais infecciosa­s.

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