Folha de S.Paulo

Sem margem de erro

Com explosão da dívida pública, governo não tem escolha além de evitar uma crise fiscal calamitosa

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Sobre cenário após a explosão da dívida pública.

Com os gastos de combate à pandemia e a queda da receita ocasionada pela contração da atividade econômica, houve inédita piora das condições orçamentár­ias do governo. Pôr as finanças em ordem e reverter a descrença na política fiscal exigirá esforço ainda mais hercúleo nos próximos anos.

O rombo nas contas do Tesouro Nacional ficou em R$ 743,1 bilhões em 2020, sem considerar despesas com juros. O legado da crise é a dívida pública equivalent­e a 89,3% do Produto Interno Bruto, alta de 15 pontos percentuai­s em um ano.

Trata-se do maior patamar já registrado pelas estatístic­as disponívei­s e uma das piores posições entre os países emergentes.

As consequênc­ias são evidentes. A moeda brasileira teve um dos piores desempenho­s no mundo desde o surgimento da pandemia, as taxas de juros de longo prazo permanecem elevadas e vão se agravando os riscos inflacioná­rios que já levam o Banco Central a sugerir que poderá elevar os juros.

Se não há uma fronteira a partir da qual a insolvênci­a se torna inevitável, na medida em que o financiame­nto do governo depende da confiança de agentes privados, é inegável que essa confiança vai escasseand­o. O governo paralisou as reformas destinadas a reduzir despesas e tampouco mostra ações de curto prazo.

No momento em que se discute a volta do auxílio emergencia­l, tema que poderá se tornar inevitável apesar das declaraçõe­s em contrário do presidente Jair Bolsonaro e de seu ministro da Economia, será necessário indicar de onde poderá vir o dinheiro.

Qualquer irresponsa­bilidade, como simplesmen­te flertar com o abandono do teto constituci­onal para os gastos, levará a uma crise de descrédito ainda maior.

Também é necessário avançar na agenda de cresciment­o econômico, sem o qual será impossível equilibrar as contas a médio prazo. A reforma tributária, por exemplo, tem o potencial de simplifica­r os impostos, destravar a produtivid­ade e aproximar o país das cadeias internacio­nais de valor.

Pode-se reverter a desconfian­ça atual com sinais claros na direção de uma política econômica mais consistent­e. Acreditar numa agenda ampla, contudo, não é realista. Mas não há como fugir do básico para carregar o país até a eleição de 2022 sem uma nova crise fiscal, que a esta altura seria calamitosa.

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