Nomes de Bolsonaro vencem e vão comandar o Congresso
Câmara elege Lira (PP-AL), e Senado, Pacheco (DEM-MG); implosão do DEM empurra Maia ao PSDB
Em campanha marcada por interferência do Palácio do Planalto, com promessa de emendas e oferta de cargos no governo, o deputado Arthur Lira (PP-AL), 51, líder do centrão, foi eleito ontem à noite presidente da Câmara.
Recebeu 302 votos, o suficiente para vencer já no primeiro turno, em triunfo do presidente Jair Bolsonaro sobre o agora ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEMRJ) —Baleia Rossi (MDB-SP), seu indicado, teve 145 votos.
Maia ainda viu o chefe do Democratas, ACM Neto, liberar a bancada para avalizar Lira e provocar um racha na legenda. O PSDB do governador paulista João Doria, que mira a eleição do ano que vem, pode ser seu destino.
No Senado, horas antes, em outra vitória de Bolsonaro, Rodrigo Pacheco (DEMMG), 44, tornou-se presidente da Casa e o terceiro da linha sucessória na Presidência, com apenas dois anos de atuação no Congresso.
Obteve 57 votos, contra 21 de Simone Tebet (MDB-MS), que perdeu força na reta final da campanha.
brasília Em uma campanha marcada por interferência do Palácio do Planalto, com a promessa de emendas e oferta de cargos no governo em troca de votos, o deputado Arthur Lira (PP-AL), 51, líder do centrão, foi eleito nesta segunda-feira (1º) presidente da Câmara para um mandato de dois anos.
O resultado representa também uma vitória do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre o agora ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), que apostou em Baleia Rossi (MDB-SP) para tentar impedir a influência do governo no Congresso.
Lira recebeu 302 votos, o que foi suficiente para vencer a eleição já no primeiro turno —era necessária a maioria dos deputados presentes. Baleia teve 145 votos.
Fabio Ramalho (MDB-MG) recebeu 21 votos. Em seguida, o placar indicou Luiza Erundina (PSOL-SP), com 16 votos, Marcel Van Hattem (Novo-RS), que teve 13 votos; André Janones (Avante-MG), com 3 votos; Kim Kataguiri (DEM-SP), com 2 votos; e General Peternelli (PSL-SP), com 1 voto. Houve 2 votos em branco.
Bolsonaro, que também saiu vitorioso com a eleição de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) à presidência do Senado, comemorou o triunfo de Lira em redes sociais, publicando uma foto ao lado do alagoano.
“Arthur Lira é eleito (302 votos em 513 possíveis), em primeiro turno, para presidir a Câmara para o biênio 2021/22”, escreveu, ao lado da fotografia.
Lira fez um primeiro discurso pregando conciliação com adversários na disputa, mas com indiretas a Maia. Disse que iniciava a presidência com humildade e prometeu absoluta dedicação ao cargo.
“Estou aqui de pé ao lado desta cadeira do presidente ainda vazia, fazendo esse discurso de pé em homenagem a todos os partidos dos que votaram e os que não votaram em mim”, disse. “Prometo respeitar como presidente as forças vivas desta Casa.”
Lira afirmou que não se confunde com a cadeira de presidente e que jamais irá se confundir. “Sou um deputado igual a todos, não sou e nem serei a cadeira que irei ocupar”, disse. Ao longo da campanha, Lira acusou Maia de personalizar a presidência.
No discurso, o novo presidente da Câmara pediu um minuto de silêncio às vítimas de Covid-19 no país e defendeu a democracia como uma construção política. “A Câmara é e sempre foi a espinha dorsal do regime democrático.”
Lira afirmou que o presidente deve ter neutralidade no cargo e olhar para todos os lados do plenário.
“A arquitetura desta casa é clara. Tudo aquilo deve ser coletivo, a direção deve ser coletiva”, ressaltou o novo presidente, que destacou que os Poderes devem atuar com harmonia sem abrir mão da independência.
Lira disse ainda que não cabe ao presidente estabelecer as prioridades dos projetos, e sim aos deputados e à sociedade. “Tenho opiniões, mas, como presidente da Câmara, minha opinião deve refletir a dos demais.”
Ele também fez um aceno ao rival derrotado, Baleia, a quem chamou de amigo talentoso e líder habilidoso, e afirmou que, encerrada a disputa, todos voltam a ser representantes do povo brasileiro.
Também fez elogios a Maia, sobre quem disse ter discordâncias, mas também pontos em comum.
Em sua primeira decisão como presidente, Lira invalidou o registro do bloco de Baleia, anulando a escolha dos cargos realizada na tarde desta segunda, baseada na proporcionalidade vigente. Isso rebaixou o PT, favoreceu aliados do alagoano e tirou PSDB e Rede da composição do comando da Câmara.
Lira convocou para esta terça-feira (2), às 16h, eleição para escolher os cargos pendentes, como primeiro e segundo vice-presidentes e os quatro secretários.
“Considerando que ainda não é conhecida a vontade deste soberano plenário quanto à parte equivocada do presente pleito relativas aos demais cargos da mesa diretora afetados pela proporcionalidade, decide esta presidência tornar sem efeito a decisão que deferiu o registro do bloco PT/MDB/PSDB/PSB/ PDT/Solidariedade/PC do B/ Cidadania/PV e Rede”, disse.
Lira qualificou o bloco de Baleia de “intempestivo” e decidiu considerar apenas a situação vigente até as 12h desta segunda. Além disso, invalidou as cinco primeiras escolhas de cargos feitas na reunião de líderes realizada e determinou nova escolha para os cargos ainda não eleitos até as 11h desta terça (2).
Também desconsiderou as candidaturas registradas para os cargos e determinou novo prazo para candidatura até 13h desta terça. Com isso, as cinco primeiras escolhas ficariam com o bloco de Lira, e a sexta caberia ao PT.
Além da experiência do terceiro mandato e da fama de cumpridor de palavras, Lira contou com a decisiva ajuda da máquina pública para derrotar Baleia.
Um dos principais trunfos foi a promessa de emendas a deputados em troca de votos em Lira. O Executivo abriu o cadastro para inscrição de municípios em programas federais que terão verbas carimbadas por parlamentares.
Segundo as informações do governo, já foram cadastrados os pedidos de cerca de 600 municípios, que registraram demandas que giram em torno de R$ 650 milhões. Eles são relativos aos ministérios do Desenvolvimento Regional, do Turismo e da Agricultura.
Apesar da promessa, o dinheiro ainda precisa da aprovação do Orçamento ou de um projeto que abra crédito extra