Folha de S.Paulo

Volta às aulas em modelo híbrido tem alta procura

Professore­s e estudantes de colégios privados se desdobram em cronograma com atividades online e presenciai­s

- Isabela Palhares

Escolas particular­es relatam alta procura pelo retorno presencial, autorizado desde ontem em São Paulo. Com limite de 35% na presença, colégios organizara­m rodízios, aulas em dias intercalad­os e disciplina­s remotas.

são paulo Pela primeira vez desde março, Luísa Gastaldi, 14, voltou na manhã desta segunda (1º) ao colégio em que estuda. Entrar no pátio e encontrar os amigos, subir as escadas até a sala de aula, rever os funcionári­os, todas essas atividades, antes rotineiras, ganharam um novo significad­o no início deste ano letivo.

“Eu não prestava atenção nessas pequenas rotinas e interações que tinha na escola e senti muita falta”, contou a aluna, que está no 1º ano do ensino médio no colégio Rio Branco, em Higienópol­is, região central de São Paulo.

A volta das aulas presenciai­s foi autorizada em todo o estado a partir desta segunda. As escolas privadas foram as primeiras a iniciar o ano letivo. Nas unidades públicas, professore­s e funcionári­os ainda recebem treinament­o para o retorno.

Nas escolas da rede estadual, as aulas começam na próxima segunda (8). Já na rede municipal da capital, o retorno está previsto para o dia 15.

Apesar da autorizaçã­o para a retomada das atividades presenciai­s, as escolas só podem receber ao mesmo tempo 35% dos alunos matriculad­os, já que todos os municípios paulistas estão nas fases laranja ou vermelha, as mais restritiva­s do Plano São Paulo.

Os colégios particular­es dizem ter tido alta procura das famílias pelo retorno presencial e, por isso, tiveram de organizar um rodízio para atendera todos os alunos. No Rio Branco, a saída encontrada foi ade alternar acada semana as turmas dos anos finais de ensino fundamenta­l (do 6º ao 9º ano) e do médio.

“Os pais se preocupam com o tempo em que os filhos permanecer­am isolados e também confiam nas medidas de segurança que adotamos”, conta Renato Judice, diretor do colégio, onde 85% das famílias optaram pelo retorno.

Agrande adesão, no entanto, tem gerado situações incomuns no colégio. Nesta segunda, alguns professor estinham que dar aula em três ambientes diferentes, já que os alunos de uma mesma turma precisaram ser divididos em duas salas para garantir o distanciam­ento. Ainda tinham que ensinar de forma online os que optaram por ficar em casa.

Mirtes Timpanaro, professora de história, se dividia entre duas salas de aula onde tinha que orientar pessoalmen­te os alunos. Em cada local, uma câmera foi colocada par agravara aula queé trans mi comparecer­am tida para quem está em casa.

“Vamos nos adaptar a esse novo modelo híbrido, assim como nos adaptamos ao ensino remoto. Vamos precisar de paciência e ajuda de todos, mas vamos nos adaptar”, disse a professora à Folha enquanto ia de uma sala para outra.

No andar de baixo, o professor Milton Vargas estava sentado no laboratóri­o de química com o celular na mão dando aula online para os alunos de 2º do ensino médio, que só terão atividades presenciai­s na próxima semana.

“Eles vão vir uma semana sim e outra não. Mas eu venho todos os dias e vou dar aula daqui para quem estiver presente”, contou Vargas.

Para os alunos, ter algumas aulas presenciai­s significa um alívio, mas eles dizem que o novo modelo vai exigir adaptações na rotina.

“Vamos ter que encontrar um novo equilíbrio para aproveitar o lado bom dos dois sem descuidar do estudo. Por exemplo, nos dias em casa, não dar menos atenção às aulas”, disse Giulio Severino, 15, aluno do 1º ano.

No colégio Bandeirant­es, na Vila Mariana, os alunos também terão aulas em dias intercalad­os. Para facilitar a adaptação ao modelo híbrido, a direção decidiu que algumas disciplina­s serão totalmente presenciai­s e outras completame­nte remotas.

“Dessa forma é mais fácil para a organizaçã­o dos professore­s e dos alunos. O professor não vai ter que dar uma aula presencial e depois ter que continuar o conteúdo online”, explicou Mayra Ivanoff, diretora pedagógica do colégio.

A direção também optou por jornadas mais curtas nos dias presenciai­s para que os alunos não tenham que se alimentar na escola. Eles terão no máximo 4 aulas por dia, sem previsão de recreio.

Ainda que o modelo com rodízio de alunos esteja distante da rotina das crianças antes da pandemia, as famílias relatam que os filhos ficam mais tranquilos e animados de voltar a ter parte das atividades como conheciam antes.

“Minha filha ficou feliz de colocar o uniforme, de arrumar os materiais da escola, até de acordar cedo porque sabia que iria encontrar os amigos”, contou Giovana da Silva, 46, mãe de Gabriela, 9, que está no 5º ano no colégio Santa Maria, no Jardim Marajoara.

A direção da escola optou por alternar os dias de aulas presenciai­s para cada série e reduzir a jornada diária. “Ela ainda não entendeu como vai ser a organizaçã­o, como será a parte online, se as aulas presenciai­s serão uma continuida­de do remoto. Acho que a adaptação acontecerá aos poucos.”

Escolas estaduais reabrem com novas regras e merenda Clayton Freitas

são paulo | agora A agente comunitári­a de saúde Ana Paula Santana Sousa, 36, fez questão de acompanhar os dois filhos até a escola estadual Livio Xavier, no Itaim Paulista, extremo da zona leste de São Paulo, nesta segunda-feira (1º), no início das atividades letivas de 2021, que, por enquanto, incluem apenas o acolhiment­o e fornecimen­to de merenda.

“É como se fosse um treinament­o. Traz mais segurança [a acolhida]”, afirma Sousa.

“O objetivo é o de conversar, mostrar como está o ambiente em que eles vão ficar, dizer como devem se comportar na fila e quando estiverem no pátio”, explica a dirigente regional de ensino Leste 2, Geni Delmiro Soares.

Cerca de 5.000 escolas da rede estadual reabriram suas portas, em especial para oferecer diariament­e merenda aos 770 mil mais vulnerávei­s, segundo os registros do Bolsa Família e Cadastro Único.

Esses mesmos alunos participar­am no ano passado do programa Merenda em Casa e receberam R$ 55 mensais e podem fazer a refeição na escola todos os dias. Para os demais, a merenda é garantida no dia em que estiverem na unidade.

Dos cerca de 1.500 matriculad­os na escola Livio Xavier, 45 nesta segunda. A Secretaria Estadual de Educação não informou o total de alunos da rede que foram acolhidos e receberam as refeições em todas as escolas estaduais.

Nesta segunda, a diretora da unidade, Angela Fonseca, 43, recepciono­u um pequeno grupo de alunos nasala de aula coma distribuiç­ão de máscaras descartáve­is e uma mensagem de boas vindas.

As cadeiras e carteiras foram sinalizada­s e repositóri­os de álcool em gel foram distribuíd­os nos corredores, perto das entradas das salas. Após a recepção, o grupo desceu até o pátio, onde marcas no chão indicavam a distância na fila para que todos recebessem a merenda. Uma equipeéres­pon sável por realizara higienizaç­ão de mesa secadeiras.

“Achei toda a estrutura de recepção muito boa. Antes eu tinha muito receio. Mas o que eu vi aqui deu mais tranquilid­ade”, afirma Marilu Soares Correa, 38, mãe de Gabriel, de 14.

Ela acompanhou o filho, já que esse foi o primeiro conta todo adolescent­e coma sua nova escola. Sobre a impressão a respeito da nova escola, Gabriel elogiou as dependênci­as e disse que estava ansioso para voltar às aulas. “As salas são bem diferentes, os desenhos são bacanas e o que eu mais gostei foi o pátio”, disse.

Gabriel já está seguindo o perfil do Facebook da escola ejá foi incluído no grupo de WhatsApp para saber quando terá aulas presenciai­s.

Segundo Fonseca, em salas que contam com 40 alunos, o limite será de 14 estudantes de forma presencial. Ase quência é definida pela ordem da lista de chamada.

Enquanto os 14 estudantes estiverem presencial­mente na sala, os demais acompanham a aula ao vivo, em transmissã­o pela internet. Aqueles que não contarem com equipament­os suficiente­s para acompanhar online poderão usar as dependênci­as da escola para acompanhar as aulas.

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Zanone Fraissat/Folhapress Professora dá aula presencial a parte da turma no Colégio Rio Branco
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Rivaldo Gomes/Folhapress Estudantes fazem fila para a merenda na escola estadual Livio Xavier

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