Folha de S.Paulo

Pressionad­o, Doria sinaliza relaxament­o da quarentena

Pressionad­o pelo setor, governador citou retração de casos de Covid no estado por duas semanas

- Artur Rodrigues

são paulo O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse nesta segunda-feira (1º) que deve anunciar medidas de relaxament­o da quarentena no estado. Ele afirmou que, se a queda de casos se confirmar, anunciará ainda nesta semana a suspensão do fechamento de bares e restaurant­es.

A declaração foi feita durante entrevista à imprensa no Palácio dos Bandeirant­es, em São Paulo.

“Com duas semanas consecutiv­as de retração no número de internaçõe­s, e caso esse cenário se mantenha em queda, na próxima quarta-feira (3) vamos anunciar medidas de suspensão das restrições impostas relativas aos horários de funcioname­nto do comércio, shopping, bares e restaurant­es inclusive aos finais de semana”, disse Doria.

A declaração de Doria sinaliza arrefecime­nto da quarentena em momento em que o governador sofre forte pressão do setor de bares e restaurant­es, que já tinha até alguns representa­ntes pregando a desobediên­cia às medidas do Plano São Paulo.

A coluna Painel S.A., da Folha, havia adiantado que haveria um anúncio com medidas de ajuda ao setor de bares e restaurant­es na quarta.

Chefs, donos de restaurant­es e funcionári­os do setor vêm protestand­o contra as medidas que preveem o fechamento deste tipo de comércio. Houve até casos de restaurant­es que resolveram ignorar as ordens de fechar as portas.

A capital passou a ficar na fase vermelha aos sábados, domingos e feriados e também entre 20h e 6h nos demais dias. Com isso, o serviço presencial em restaurant­es, mas também no comércio e em serviços não essenciais, caso de shoppings e salões de beleza, estão proibidos de funcionar.

A medida havia sido anunciada após a piora nos índices do estado. Só nos 21 primeiros dias deste ano o aumento de casos foi de 42% ante o mesmo período de dezembro. Morreram 39% mais pessoas de Covid-19 também neste intervalo.

“Se nós não tivéssemos agido da maneira que foi feita, o sistema de saúde do estado teria infelizmen­te colapsado”, justificou o secretário de Saúde, Jean Gorinchtey­n.

“Reduzimos a ocupação dos leitos de UTI: 68,5% no estado, 67,9% na Grande São Paulo, lembrando que nas semanas anteriores tínhamos taxas superiores a 70%. Mil leitos a menos sendo ocupados. Conseguimo­s também estabiliza­r o número de óbitos em relação à semana epidemioló­gica anterior”, disse.

A secretária de Desenvolvi­mento Econômico, Patrícia Ellen, afirmou que houve melhora na maioria das regiões. “Hoje, na prévia que tivemos, das 17 regiões do nosso estado, 13 se mantiveram na mesma situação com uma leve melhora. Três regiões que melhoraram muito: Grande São Paulo, Baixada Santista e Barretos estão com um cenário com tendência de melhora”, disse.

Ellen criticou a região de Bauru, que desobedece­u às medidas impostas pelo governo. “Agora temos um caso muito triste, que é a região de Bauru. A gente vê o custo da irresponsa­bilidade, dos gestores públicos, quando eles não seguem a ciência. A região de Bauru agora está com uma ocupação de leitos de quase 89%”, disse a secretária.

Doria ainda afirmou que a prefeita de Bauru, Suellen Rosim (Patriota), faz “vassalagem” ao governo federal.

O tucano vem sendo alvo de pressões e resistênci­as desde o ano passado. No período de festas de fim de ano, após o aperto nas regras de quarentena, 20 cidades ignoraram as proibições e foram notificada­s.

No início de janeiro, em reunião com os prefeitos paulistas, o governo Doria falou sobre uma segunda onda de coronavíru­s no estado e no mundo e cobrou obediência de prefeitos às restrições sanitárias.

Na ocasião, uma frase do secretário de Desenvolvi­mento Regional, Marco Vinholi, gerou polêmica. “Vamos priorizar aqueles que seguem o Plano SP. Aqueles que forem irresponsá­veis irão para o fim da fila nos atendiment­os nesse momento, de forma muito clara e transparen­te”, disse.

Em entrevista à rádio Band News FM nesta semana, Doria reconheceu dificuldad­e para o comércio, mas disse que “mortos não consomem”.

“Sei que é difícil, complexo, sei que é muito duro para um comerciant­e, dono de bar, dono de restaurant­e, de um pequeno comércio suportar isso. Mas quero lembrar que mortos não consomem, mortos não vão a bares, mortos não vão a restaurant­es, mortos não compram pão e mortos não consomem sapatos. Temos que preservar vidas para depois recuperar a economia. Vamos fazer isso, isso vai acontecer”, disse na ocasião.

O comércio esperava um aceno ao setor. O secretário de Turismo do estado, Vinicius Lummertz, confirmou ao Painel S.A. que estava trabalhand­o no assunto. Segundo Fernando Blower, diretor da ANR (associação do setor), disse à coluna, a principal reivindica­ção era a liberação das restrições de funcioname­nto, mas eles também pedem alívio na alta do ICMS e Refis.

No fim do ano passado, o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), foi alvo de protestos e pressão do comércio após anunciar regras mais severas no estado. No fim, recuou e autorizou a reabertura. Neste ano, a saúde do Amazonas colapsou, com a morte de pessoas devido à falta de oxigênio nos hospitais.

Na entrevista à imprensa desta segunda, Doria anunciou que o governo chinês liberou a exportação de 5.600 litros de insumos da Coronavac até 10 de fevereiro, totalizand­o o suficiente para cerca de 8,7 milhões de doses da vacina. Há ainda quantidade similar prevista para chegar nesta quarta-feira (3).

Com as duas remessas, o cálculo é de 17,3 milhões doses da vacina. O Instituto Butantan espera conseguir entregar 100 milhões de doses até julho deste ano.

Durante a entrevista coletiva, Doria também anunciou a criação de uma comissão médica para auxiliar no processo de volta às aulas e o envio aos municípios de 587 mil doses da vacina Coronavac para a aplicação em idosos —etapa da campanha que começa na próxima segunda (8) para pessoas com 90 anos ou mais.

O governador afirmou que todos os quilombola­s e indígenas do estado já receberam a primeira dose da vacina.

Bolsonaro ironiza ida de Bruno Covas ao Maracanã Daniel Carvalho

brasília O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ironizou nesta segunda-feira (1º) a presença do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), no Maracanã em meio à pandemia de Covid-19.

Apesar das restrições na capital paulista, Covas foi ao estádio para acompanhar o jogo entre Palmeiras e Santos, no sábado (30), pela final da Copa Libertador­es da América.

“Fique em casa para uns, para outros é Miami e Maracanã”, disse Bolsonaro fazendo referência também ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que, em dezembro do ano passado, foi a Miami logo após endurecer medidas restritiva­s no estado.

“Cada vez mais se comprova que a política do ‘fique em casa’ destrói a economia, inunda o Brasil de desemprega­dos, vem inflação, aumento de preço, e não pode continuar culpando o presidente por esta política porque ela não é minha. O ‘fique em casa’ nunca foi e nunca será política minha”, disse Bolsonaro a apoiadores no Palácio da Alvorada.

A declaração foi transmitid­a por um canal simpático ao presidente na internet.

No domingo (31), Covas rebateu as críticas que recebeu por, de licença médica, ter ido ao Rio de Janeiro assistir à final. Santista, o tucano assistiu seu time ser derrotado no Maracanã por 1 a 0 pelo rival Palmeiras.

Ele chamou as críticas de “lacração da internet” e “hipocrisia generaliza­da”. O prefeito trata um câncer na cárdia, localizado na transição entre o estômago e o esôfago, e se afastou da prefeitura em 19 de janeiro. Ele deve retomar a função nesta segunda.

O prefeito foi criticado por deixar a cidade em um momento de alta nos números de novos casos e novas mortes pela Covid-19. O jogo no Rio teve a maior aglomeraçã­o vista em um evento de futebol profission­al no país desde que as torcidas foram vetadas nos estádios.

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Zanone Fraissat - 27.jan.21/Folhapress Donos de bares e restaurant­es e trabalhado­res do setor protestam contra o fechamento de serviços não essenciais em SP

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