Folha de S.Paulo

Em alta em 2019, mortes nas estradas federais caem em 2020

Total de mortes voltou a cair em 2020 após aumento no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro

- Thiago Amâncio

são paulo Em 14 anos, quase 100 mil pessoas foram vítimas do trânsito em estradas administra­das pelo governo federal no Brasil.

Dados da Polícia Rodoviária Federal compilados pela CNT (Confederaç­ão Nacional dos Transporte­s) mostram que, de 2007 (primeiro ano da série histórica) até 2020, 99.365 pessoas morreram nas rodovias federais do país.

Em 2020, foram 5.287 mortes nas estradas federais. Esse número voltou a cair após crescer no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro, quando o presidente determinou o fim da fiscalizaç­ão por radares dessas rodovias. Hoje, a fiscalizaç­ão por radares é permitida, desde que eles estejam visíveis, no caso de estruturas fixas, e que as autoridade­s publiquem em seus sites trechos que podem ser fiscalizad­os, no caso de radares móveis.

O total de acidentes também caiu em 2020 e ficou em 63.447 no ano passado.

A redução do fluxo de veículos nas estradas no primeiro semestre, no início da pandemia, ajuda a explicar essa queda, segundo Bruno Batista, diretor-executivo da CNT.

Sem dados consolidad­os do país, uma boa medida da queda no fluxo nas estradas é o monitorame­nto da ABCR (Associação Brasileira de Concession­árias de Rodovias), diz ele.

A associação aponta uma redução da movimentaç­ão nas estradas pedagiadas entre janeiro e novembro do ano passado de 13% na comparação com o mesmo período do ano anterior. “Com menos veículos circulando, é natural que caia o número de acidentes”, afirma Batista.

Ocorre que o número de mortes não cai na mesma proporção do total de acidentes, o que indica que esses episódios ficaram mais graves, segundo Batista.

Há dois elementos que podem explicar o agravament­o, que vem dos últimos anos, afirma ele. O primeiro é a qualidade da infraestru­tura das rodovias, antigas, com muitos trechos sem acostament­o, com problemas de sinalizaçã­o e na maior parte em pistas simples e de mão dupla —esse último fator explica o fato de que a maioria dos acidentes ocorre em colisões entre veículos (59% do total). Essas estradas não têm qualidade para acomodar a frota terrestre que mais que dobrou nos últimos 12 anos.

O segundo ponto é o problema na formação dos condutores e a falta de campanhas educativas para reduzir acidentes, que foram praticamen­te abandonada­s, segundo o diretor da CNT. “O condutor precisa ser lembrado dos problemas da alta velocidade, falta de manutenção de veículos. Não basta fazer campanhas só na semana do trânsito, precisa ser no ano todo.”

O governo tem recursos específico­s para essas campanhas no Funset (Fundo Nacional de Segurança e Educação de Trânsito), formado por 5% do valor das multas arrecadada­s. Esse fundo, no entanto, é sistematic­amente retido, diz Batista, e dos R$ 750 milhões que o fundo tinha em 2020, 88% foi contingenc­iado.

O levantamen­to da CNT mostra que os acidentes e mortes nas estradas federais no ano passado tiveram um impacto de R$ 10,2 bilhões na economia do país. Essa soma é feita a partir de uma fórmula do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que leva em conta os danos materiais nos veículos e nas rodovias, a perda de capacidade produtiva de acidentado­s e mortos e os gastos com o sistema de saúde.

Os fins de semana são os dias mais perigosos nas estradas federais. Os números mostram que 34% dos acidentes e 40% das mortes ocorreram aos sábados e domingos. Homens ocupam a maior parcela das mortes (82%). Além disso, a maior parte dos mortos são ocupantes de automóveis (43%) e motos (30%).

Os dados levantados pela CNT incluem somente rodovias federais porque o Brasil não tem um órgão que reúna de forma unificada dados de acidentes em todo o país. As malhas rodoviária­s estaduais e municipais no país somam uma extensão mais de duas vezes maior que a das rodovias federais.

A redução de acidentes e mortes em 2020 se deu em países do mundo todo, como consequênc­ia da diminuição da circulação de veículos.

Em todo o estado de São Paulo, por exemplo, consideran­do pistas federais, estaduais e municipais, houve 5.023 mortes no trânsito, segundo dados do governo, menor número desde 2015. Só na capital paulista, segundo números do governo, foram 765 mortes, também o menor da série histórica, equivalent­e a 68% do registrado cinco anos antes.

“O condutor precisa ser lembrado dos problemas da alta velocidade, falta de manutenção de veículos. Não basta fazer campanhas só na semana do trânsito, precisa ser no ano todo Bruno Batista diretor-executivo da CNT

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil