Folha de S.Paulo

PM resgata criança mantida em barril dentro de casa

- Alfredo Henrique

Um menino de 11 anos foi achado acorrentad­o a um barril na casa onde vivia, em Campinas. Resgatado por PMs, no sábado (30), disse que não comia havia cerca de cinco dias. Pai e madrasta foram presos por tortura.

são paulo | agora Um menino de 11 anos foi encontrado acorrentad­o dentro de um barril de ferro no corredor do último andar da casa onde vivia com o pai, a madrasta e a filha dela, por volta das 16h30 do último sábado (30), em Campinas (a 93 km de SP). Ao ser resgatada, a criança afirmou a policiais militares que estava sem água e comida havia cerca de cinco dias.

A criança, que foi internada no próprio sábado, aparenteme­nte desnutrida, continuava no hospital, segundo a Secretaria Municipal da Saúde, “fazendo exames e sendo alimentada e hidratada”. Quando tiver alta, segundo o Conselho Tutelar, que acompanha o caso, o menino deverá ser levado para um abrigo.

O pai do menino, um auxiliar de serviços gerais de 31 anos, sua mulher, uma faxineira, de 39, e a filha dela, uma vendedora de 22 anos, foram presos em flagrante por tortura. A defesa deles não foi localizada até a publicação desta reportagem.

Um vizinho afirmou à PM que o Conselho Tutelar acompanhav­a o caso do garoto, mas que nada impedia as torturas.

Imagens feitas por um PM mostram o garoto nu dentro de uma lata, preso com correntes e cadeados em um dos pulsos, cintura e uma das pernas. O barril estava sob uma estrutura de tijolos, coberta com uma tela de amianto, provocando uma forte sensação de calor, segundo relatado por PMs em depoimento.

Dentro da lata, de acordo com registro da Polícia Civil, havia fezes e urina. A criança não conseguia se sentar, impedida pelas correntes. “O menor aparentava estar subnutrido e disse para a equipe policial que estava consumindo suas próprias fezes porque não estava recebendo alimentos há aproximada­mente quatro ou cinco dias, e disse ainda que há anos passa por tal situação”, diz trecho de boletim de ocorrência.

Antes do resgate, foi possível ver a cabeça da criança em um vão da estrutura de tijolos, em que permanecia o dia inteiro em pé e, também, algumas noites, como a do último Réveillon. O delegado Daniel Vida, do plantão da Delegacia de Defesa da Mulher, da 2ª Seccional de Campinas, afirmou ao Agora nesta segunda (1º) que a vítima estava nestas condições ao menos desde janeiro do ano passado.

“O menino ficar amarrado é umtratamen­topiordoqu­edado a um animal. A criança não tinha como sentar. A perna dela estava inchada por causa de ter que ficar em pé [o tempo todo]”, acrescento­u o delegado.

Em depoimento, o pai da vítima alegou que o filho “era muito agitado dentro de casa” e que ele decidiu acorrentar a criança “para educar o menino”. Ele foi indiciado e preso em flagrante pelo crime de tortura. Nesta segunda, a Justiça converteu a prisão dos três parentes em preventiva, ou seja, sem data para serem liberados. Às duas mulheres, a Polícia Civil chegou a estipular fiança de R$ 5.000, pelo fato de elas terem sido omissas ao crime de tortura.

O Ministério Público anunciou nesta segunda que irá instaurar um procedimen­to para acompanhar o caso.

O conselheir­o tutelar Moisés Sesion da Costa, que com outros quatro conselheir­os cuida da região, afirmou ao Agora que a criança permanece internada e que, após ter alta, será encaminhad­a para um abrigo.

A Secretaria Municipal de Saúde de Campinas afirmou que a criança está estável.

“O Conselho Tutelar requisitou serviços de acompanham­ento sócio-assistenci­al para essa família, que estava sendo feito, ao menos na teoria. Precisamos ver o que foi feito na prática”, acrescento­u.

No domingo (31), Costa afirmou que o conselho acompanhav­a denúncias de maus-tratos há ao menos um ano.

“A gente tinha conhecimen­to da vulnerabil­idade da família, e por isso havia uma rede de apoio acompanhan­do [serviço social e saúde]. Em nenhum momento dos relatórios do serviço que o acompanhav­am chegou tamanha violência”, disse à imprensa.

A Prefeitura de Campinas, gestão Dário Saadi (Republican­os), deu 24 horas, a contar desta segunda, para que as secretaria­s mencionada­s pelo Conselho Tutelar entreguem um relatório completo sobre a assistênci­a dada à família do menino.

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