Deputado ganhou força após construir base para o presidente na Câmara
brasília O deputado federal Arthur Lira (PP-AL), 51, chega à presidência da Câmara após dois anos de articulação e graças ao apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para alcançar o posto mais alto da Casa.
Parlamentar de terceiro mandato e um dos expoentes do chamado centrão, Lira ensaiou uma candidatura em 2019, quando tentou montar um grupo de apoio para se contrapor a Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Na ocasião, porém, o deputado, líder do PP, falhou em arregimentar votos para vencer Maia, que presidiria a Câmara pela terceira vez.
Na época, Lira abriu mão de se lançar candidato, deixando o caminho livre para o deputado do DEM. A ideia era formar um amplo arco de apoio a um nome do PP, o que não aconteceu depois que os parlamentares se dividiram entre aliados do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e independentes.
Lira já vinha trabalhando junto a deputados para se viabilizar candidato à presidência da Câmara e era considerado competitivo. A virada que lhe assegurou a vitória no comando da Casa, no entanto, ocorreu em abril de 2020, quando Lira e seu partido aliaram-se ao governo.
O deputado ajudou a construir uma base de apoio a Bolsonaro que poderia barrar a abertura de um processo de impeachment e permitir a aprovação de matérias de interesse do Palácio do Planalto. Até aquele momento, Lira era um crítico do governo. Nos bastidores, reclamava que Bolsonaro tratava mal o Congresso e que não sabia negociar.
A base do mandatário no Congresso não veio a um preço baixo. Pelo contrário. Bolsonaro teve de ceder diversos espaços em órgãos da máquina federal para indicados de parlamentares e concedeu bilhões em emendas e recursos extras para aliados.
A vitória de Lira representa o retorno do centrão ao comando da Câmara. Para apoiá-lo, Bolsonaro não apenas contradisse o discurso anterior, crítico ao centrão, a quem atribuía apetite por cargos, fisiologismos e toma lá, da cá. Teve também que chancelar um nome que responde a processos na Justiça.
Lira é alvo de ação apresentada por sua ex-mulher Jullyene Santos Lins, que o acusa de injúria e difamação e diz que “o medo a segue 24 horas por dia”. O deputado diz que, ao longo do tempo, as denúncias da ex-mulher “mostraram-se infundadas”.
No STF (Supremo Tribunal Federal), há dois casos que envolvem o parlamentar.
Em novembro, a Primeira Turma do STF formou maioria para manter Lira como réu acusado de corrupção passiva no processo em que é investigado por receber R$ 106 mil em propina. O julgamento foi suspenso.
Por causa disso, Lira não poderia, em tese, assumir a Presidência da República em caso de ausência de Bolsonaro e do vice, Hamilton Mourão (PRTB). Em 2016, o STF decidiu que réus não podem ocupar o cargo.
Já a Segunda Turma da corte aceitou denúncia contra o deputado pela acusação de organização criminosa no inquérito conhecido como “quadrilhão do PP”, resultado da Lava Jato.
Embora tenha acatado parecer da PGR, o Supremo ainda não abriu a ação penal contra Lira nesses dois casos. Ou seja, tecnicamente, o deputado não é réu e poderia assumir a Presidência da República em caso de ausência de Bolsonaro e do vice Hamilton Mourão (PRTB).
No fim de 2020, Lira foi absolvido de acusações de prática de “rachadinha” pelo Tribunal de Justiça de Alagoas.
Conhecido por ser genioso, esquentado e “cumpridor de acordos”, Lira já expressou a pessoas próximas que deseja disputar o governo de Alagoas e que ele pode concorrer ao cargo em 2022. O deputado tentará compor com a família do senador Renan Calheiros (MDBAL). O filho dele, Renan Filho (MDB), é governador de Alagoas pela segunda vez e deve disputar o Senado em 2022.
A relação entre eles, porém, não é das melhores. Renan pai declarou apoio a Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa pela Câmara.
Antes de ser deputado federal, Lira foi vereador e deputado estadual em Alagoas. É filho de Benedito de Lira, ex-senador e prefeito de Barra de São Miguel.