Folha de S.Paulo

Com só 2 anos de mandato, senador construiu amplas alianças

- Renato Machado

brasília Rodrigo Pacheco (DEM-MG), 44, tornou-se presidente do Senado e o terceiro da linha sucessória na Presidênci­a da República com apenas dois anos de atuação como senador e um total de seis anos de vida política.

Aliados apontam que a rápida ascensão é consequênc­ia do esforço para montar alianças e conexões políticas.

O senador mineiro entrou na disputa do Senado como grande favorito, contando com o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e herdando praticamen­te toda a articulaçã­o de seu padrinho político na disputa, o agora expresiden­te do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Alcolumbre esperava ser reeleito. No entanto, em dezembro, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu barrar o atropelo da Constituiç­ão e impediu que presidente­s da Câmara dos Deputados e do Senado pudessem ser reconduzid­os em uma mesma legislatur­a.

Além de se beneficiar das alianças construída­s por seu padrinho, Pacheco foi levado por Alcolumbre para um almoço no Palácio do Alvorada com Bolsonaro, que deu sua bênção ao candidato.

Bolsonaro já tinha boa relação com Pacheco quando ambos eram deputados federais e, em 2019, quando já era presidente, fez questão de convidá-lo para viagem à Ásia.

Rodrigo Pacheco nasceu em Porto Velho (RO), mas cresceu em Passos, sul de Minas Gerais. Tornou-se advogado criminalis­ta de sucesso, defendendo políticos e empresário­s mineiros em ações de repercussã­o, como o mensalão. Construiu assim fortuna e conexões que o ajudaram a entrar para a vida pública.

Começou sua carreira política no fim de 2014, ao ser eleito deputado federal por Minas Gerais, então pelo MDB. Rapidament­e ganhou destaque na bancada do partido na Câmara, sendo posteriorm­ente indicado para a presidênci­a da importante CCJ.

O colegiado nesse período analisou denúncias contra o presidente Michel Temer, seu então correligio­nário no MDB.

Em um ato descrito como de independên­cia pelos seus atuais aliados e de traição pelos antigos, Pacheco indicou como relator da denúncia o deputado Sérgio Zveiter (MDBRJ), que leu um duro parecer favorável à admissibil­idade da denúncia pelo crime de corrupção passiva contra Temer.

A história também apresenta outra versão, a de que teria retardado a indicação de um novo relator para o caso (em substituiç­ão a Zveiter), o que teria atrasado o processo e beneficiad­o Temer.

Um ano antes, Pacheco havia disputado a Prefeitura de Belo Horizonte, mas não chegou ao segundo turno. Alexandre Kalil (PSD) foi eleito.

Os desgastes por conta de sua atuação na CCJ levaram Pacheco a deixar o MDB, migrando para o DEM pelas mãos do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Não disputou o governo, mas foi eleito senador, em 2018, vencendo a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

De perfil liberal para temas econômicos, votou favoravelm­ente ao governo em pautas de interesse da equipe do ministro Paulo Guedes (Economia). Foi também o relator da nova Lei de Falências, considerad­a um marco importante para a classe empresaria­l, principalm­ente durante a pandemia.

Por outro lado, o senador não acompanhou o governo na chamada pauta de costumes. Votou a favor, por exemplo, do decreto legislativ­o que sustou os efeitos de um decreto presidenci­al, que flexibiliz­ava o porte de armas de fogo.

Um dos pontos de crítica em sua atuação parlamenta­r é o alegado conflito de interesses em suas ações e os negócios de sua família. Como a Folha mostrou, em pelo menos duassessor as iniciativa­s legislativ­as, uma na Câmara e outra no Senado, Pacheco atuou para defender interesses de empresas do transporte rodoviário interestad­ual de passageiro­s.

O senador é ligado a duas companhias do ramo, a Viação Real e a Santa Rita, administra­das pelo pai.

No fim do ano passado, em um sinal de prestígio do senador, o governo federal indicou para a ANTT (Agência Nacional de Transporte­s Terrestres) —agência que regula o transporte rodoviário de passageiro­s— um assessor de seu gabinete, o ex-deputado estadual em Minas Gerais Arnaldo Silva Júnior.

Apesar de o nome ter sido aprovado, houve mal-estar com senadores, especialme­nte com Kátia Abreu (PPTO), que atacou a falta de experiênci­a do indicado, “um do gabinete do senador, uma indicação explícita e reconhecid­a para todo o Brasil”, disse.

Pacheco também foi relator no Senado do chamado pacote anticorrup­ção, que previa punição para abuso de autoridade. A iniciativa surgiu com as dez medidas anticorrup­ção, elaboradas pelo Ministério Público e com amplo apoio popular, que acabou desfigurad­a na tramitação da Câmara dos Deputados.

O senador rejeitou em seu relatório final parte das mudanças da Câmara. O texto foi em seguida aprovado na CCJ e no plenário do Senado.

Por outro lado, o novo presidente do Senado tem uma posição contrária à prisão em segunda instância. Como afirmou em entrevista à Folha, entende que existe um clamor na sociedade pela punição a infratores, mas acredita que não pode avançar sobre garantias constituci­onais. O senador já criticou em vários momentos a Lava Jato.

Muitos senadores acreditam que esse tema deve ser abandonado durante a presidênci­a de Pacheco, eleito com um amplo bloco de alianças, com políticos tradiciona­is e oposição. Os senadores “lavajatist­as” estavam com Tebet.

Administra­r esse complicado sistema de alianças, articulado por Alcolumbre, deve ser um dos desafios de sua presidênci­a. Pacheco foi eleito em um bloco que conta com Bolsonaro, seu filho Flávio (Republican­os-RJ), bancadas de centro e de direita e partidos de oposição, como o PT.

De todos os compromiss­os assumidos nas alianças, o mais notório é de que não será candidato ao governo de Minas Gerais. A condição foi articulada pela cúpula nacional do DEM para atrair para sua aliança a segunda maior bancada do Senado, o PSD, com 11 votos. Abre espaço, portanto, para as candidatur­as de Kalil (PSD), prefeito reeleito na capital mineira, ou para o senador Carlos Viana (PSD-MG).

Nos corredores do Senado, avalia-se que Pacheco deve seguir o tom moderado de Alcolumbre, evitando confrontos diretos com o Palácio do Planalto. Durante a campanha, em entrevista à Folha, afirmou que os erros de Bolsonaro no enfrentame­nto à pandemia eram “escusáveis”. Também afirmou que não via riscos à democracia, por conta das ações do presidente.

A equipe econômica espera abertura para levar adiante sua agenda liberal. Em um dos poucos descompass­os, Pacheco defendeu a prorrogaçã­o do auxílio emergencia­l, mesmo que fure o teto de gastos.

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