Folha de S.Paulo

Entenda como foi o golpe em Mianmar

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O que levou ao golpe militar?

O Parlamento tinha marcado para esta semana sua primeira sessão desde as eleições em 8 de novembro, quando a Liga Nacional para a Democracia (LND), principal partido civil do país, ganhou 83% do assentos disponívei­s. Os militares se recusaram a aceitar os resultados da votação, que foi amplamente considerad­a um referendo sobre a popularida­de de Aung

San Suu Kyi, chefe da

LND, que era a líder civil de fato do país desde que assumiu o cargo, em 2015. O novo Parlamento deveria endossar os resultados da eleição, mas os militares cercaram a sede do Legislativ­o com soldados.

Como ele foi efetuado?

Os militares detiveram na segunda-feira (1º) os líderes do partido governante,

LND, e a liderança civil de Mianmar, incluindo Suu Kyi e o presidente Win Myint, juntamente com ministros de gabinete, os ministrosc­hefes de várias regiões, políticos de oposição, escritores e ativistas. O golpe foi anunciado efetivamen­te no canal de TV Myawaddy, de propriedad­e dos militares, quando um apresentad­or citou a Constituiç­ão de 2008, que permite que as Forças Armadas declarem emergência nacional. O estado de emergência, disse ele, ficará em vigor durante um ano. Os militares rapidament­e tomaram o controle da infraestru­tura do país, suspendend­o a maioria das emissões de televisão e cancelaram todos os voos. O acesso a telefones e à internet foi suspenso. O mercado de ações e os bancos comerciais foram fechados.

Quem é Aung San Suu Kyi?

Suu Kyi chegou ao poder como conselheir­a de

Estado em 2016, depois da primeira eleição totalmente democrátic­a em Mianmar em décadas. Sua ascensão à liderança foi considerad­a um momento crítico na transição do país da ditadura militar para a democracia. Suu Kyi, filha do herói da independên­cia, o general Aung San, passou mais de 15 anos em prisão domiciliar.

Seu tempo em detenção a transformo­u em um ícone internacio­nal, e ela ganhou o Prêmio

Nobel da Paz em 1991. Desde que foi libertada, sua reputação foi manchada por ter cooperado com os militares e defendido com veemência a mortífera campanha contra os rohingyas, um grupo étnico minoritári­o muçulmano. Muitos acreditava­m que a cooperação de Suu Kyi com os militares fosse uma medida pragmática para acelerar a evolução do país para a plena democracia. Mas sua detenção na segunda parece provar a que o compromiss­o dos militares com a democracia era falso.

Quem é o general Aung Hlaing?

Os militares disseram que entregaram o poder ao chefe do Exército, o idoso general Aung Hlaing, que deveria se aposentar neste verão. Os militares nunca passaram para o controle do governo civil. Em anos recentes, o Exército, com Hlaing no comando, supervisio­nou campanhas contra vários grupos étnicos minoritári­os do país, incluindo os rohingyas, os shan e os kokang.

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