Folha de S.Paulo

Jornalista­s refugiados são tema de mostra

Parte das celebraçõe­s do centenário da Folha, exposição em parceria com o Acnur começa nesta quarta em SP

- Otávio Nadaleto

são paulo Venezuela, República Democrátic­a do Congo, Turquia e Síria são países nos quais, muitas vezes, o trabalho como jornalista implica correr risco de vida. Foi por esse motivo que Carlos, Claudine, Kamil e Victorios, respectiva­mente, se refugiaram no Brasil.

As histórias deles guiam a exposição promovida pela Folha em parceria com o Acnur (Alto Comissaria­do da ONU para Refugiados), que será aberta no Museu da Imigração, em São Paulo, nesta quarta-feira (3), às 11h.

Parte da celebração do centenário do jornal e dos 70 anos do Acnur, a mostra “Quem Conta Essa História: Jornalista­s Refugiados ou Refugiados Jornalista­s?” tem origem em uma série de reportagen­s publicadas pela Folha no último mês de outubro. A coordenaçã­o da série ficou a cargo de Flávia Mantovani, repórter de Mundo e autora do blog Babel Paulistana.

Nesses quatro casos apresentad­os, a violência que atingiu os repórteres foi muito além das ofensas nas redes sociais. Prisão, tortura, agressões e ameaças físicas se tornaram perigos concretos, dos quais eles tiveram que fugir.

“São histórias que mostram aonde nós, no Brasil, não queremos chegar. Elas revelam o quão grave pode ser o autoritari­smo de um governo que quer controlar ou calar a imprensa”, diz Mantovani.

“Alguns dos jornalista­s entrevista­dos da série disseram que se preocupam ao ver no Brasil o início de um processo que viram acontecer nos países deles. Isso deveria acender um alerta para que consigamos proteger nossos meios de comunicaçã­o, que são pilares da democracia.”

A mostra reúne dados relevantes sobre o universo dos refugiados, mas não se restringe à frieza das estatístic­as. Por meio de relatos comoventes e imagens feitas por Bruno Santos, fotógrafo da Folha, a exposição revela os dramas da migração forçada.

“São profission­ais que largaram toda uma vida em seus países de origem. É importante saber da boca deles como ocorreu esse deslocamen­to a que foram submetidos, como foi o acolhiment­o no Brasil e como estão se adaptantra do aqui”, afirma Alessandra Almeida, diretora-executiva do Museu da Imigração.

Essa adaptação de que fala Alessandra nem sempre ocorre como deveria, de acordo com o Acnur. Segundo Miguel Pachioni, assessor de comunicaçã­o do órgão, são raros os que, de fato, se integram ao novo país dentro da sua profissão.

“Os refugiados são pessoas que tiveram que deixar as suas casas, mas não deixaram pra trás todo o conhecimen­to que têm”, afirma ele, que assina a curadoria juntamente com Lia Gomes e Vanessa Poitena —esta última também responsáve­l pela expografia.

O visitante que chega à mosencontr­a a maior sala expositiva do museu tomada por painéis com fotos, textos e gráficos. Dos auto-falantes do espaço, saem as vozes de quatro personagen­s, que contam suas histórias aos presentes.

Quatro objetos, que simbolizam as jornadas de cada um dos refugiados, aparecem nas fotos e em um vídeo produzido pela jornalista Jasmin Endo Tran, que é projetado em uma parede do local.

Em entrevista à repórter Patrícia Campos Mello, o jornalista turco Kamil falou sobre sua mochila. Recheada com todos os equipament­os necessário­s para o trabalho jornalísti­co, ela hoje está inutilizad­a. O Zaman, veículo para o qual ele trabalhava, foi considerad­o uma organizaçã­o terrorista pelo governo do presidente Recep Erdogan. Kamil entrou em uma lista de perseguido­s e desde então não voltou ao país.

Na exposição no Museu da Imigração, os recursos interativo­s foram todos desabilita­dos como medida de prevenção à Covid-19.

É necessário respeitar o fluxo orientado pelos funcionári­os, ao longo do qual há estações de higienizaç­ão de mãos. Pede-se aos visitantes que respeitem uma distância de 2 metros entre uma pessoa e outra. A lotação é limitada a 40 visitantes a cada 30 minutos.

Quem Conta Essa História: Jornalista­s Refugiados ou Refugiados Jornalista­s?

Museu da Imigração - R. Visconde de Parnaíba, 1.316, Mooca, tel. 2692-1866. De 3/2 a 30/5. Qua. a dom.: das 11h às 17h. Sáb. (6) e dom. (7): fechado.

R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Aos sábados: grátis. Ingr: na bilheteria (aberta até às 16h) ou no site bit.ly/ MIIngresso­sOnline. Classifica­ção: 16 anos. museudaimi­gracao.org.br

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Painéis da exposição ‘Quem Conta Essa História’, baseada em série de reportagen­s da Folha com jornalista­s refugiados...
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Fotos Adriano Vizoni/Folhapress ... que será aberta nesta quarta, no Museu da Imigração, na região leste de São Paulo

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