Folha de S.Paulo

Sob efeitos da pandemia, lucro do Itaú cai 35% em 2020

Candido Bracher se despede hoje, e Milton Maluhy Filho assume o banco

- Isabela Bolzani

são paulo O lucro do Itaú Unibanco caiu 34,6% no ano passado, para R$ 18,5 bilhões descontado­s os itens extraordin­ários, informou o banco nesta segunda-feira (1º).

No quarto trimestre, o recuo foi de 26,1%, para R$ 5,4 bilhões —quarta retração consecutiv­a na comparação anual dos resultados do maior banco do país. O Itaú é o primeiro entre os grandes a divulgar os ganhos referentes a 2020.

Consideran­do os efeitos extraordin­ários, como o ganho da alienação parcial da participaç­ão na XP (que resultou em um ganho de R$ 3,2 bilhões até agora), despesas com readequaçã­o de estruturas, amortizaçã­o de ágio, entre outros, o resultado foi de R$ 18,9 bilhões no ano e de R$ 7,6 bilhões no último trimestre.

No domingo (31), o banco já havia anunciado que aguarda apenas o aval do Federal Reserve (banco central dos EUA) para constituir a nova empresa com participaç­ão na XP. A nova empresa será chamada de XPart.

Esta terça-feira (2) será o último dia de Candido Bracher na presidênci­a do banco. O executivo, que deixa o cargo pela regra adotada pela instituiçã­o, que impõe limite de 62 anos para o presidente, dará lugar a Milton Maluhy Filho.

Apesar de os lucros continuare­m bilionário­s, a crise do coronavíru­s impactou o resultado dos bancos ao longo de 2020. Entre os principais efeitos estão o aumento das reservas contra calotes (provisões) e a queda da margem financeira (principal receita do banco, com operações de crédito).

Em 2020, o Itaú somou R$ 29,9 bilhões em provisões, um aumento de 52,1% em relação ao observado em 2019. No quarto trimestre, essas reservas atingiram R$ 5,6 bilhões, queda de 8,2% em comparação a igual intervalo do ano anterior.

Além do aumento das reservas para cobrir possíveis calotes, o Itaú ganhou menos dinheiro com os empréstimo­s que fez. Assim, as medidas emergencia­is anunciadas pelo banco ao longo de 2020, como a renegociaç­ão de contratos e a concessão de descontos e períodos de isenção, também acabaram afetando o resultado do Itaú.

Em relatório divulgado nesta segunda-feira, o Itaú afirmou que o aumento do custo do crédito foi impulsiona­do pela mudança do cenário macroeconô­mico diante da pandemia.

“Essa mudança, capturada por nosso modelo de perda esperada, gerou maiores despesas de provisões para crédito, tanto em nossas operações no Brasil quanto no restante da América Latina”, afirmou o banco em nota.

O custo do crédito total ficou em cerca de R$ 30,2 bilhões no ano, aumento de 66,4% em comparação ao ano anterior.

A margem financeira do banco somou R$ 70,1 bilhões, queda de 6,1% ante 2019.

Já a carteira de crédito total da instituiçã­o somou R$ 869,5 bilhões em 2020, alta de 9,6% em relação a 2019, excluindo a variação cambial. Especifica­mente no Brasil, a carteira total de crédito, incluindo garantias financeira­s e títulos privados totalizou R$ 652,2 bilhões, alta de 17,2% na mesma comparação.

Dentre os empréstimo­s, a maior parcela da carteira ficou com as grandes empresas, cujas concessões somaram R$ 269 bilhões no ano, aumento de 21,6%

O crédito para micro, pequenas e médias empresas totalizou R$ 127,6 bilhões, avanço de 33,9%. Já a carteira de crédito para pessoas físicas encerrou 2020 com R$ 255,6 bilhões em concessões, volume 6,6% maior do que o registrado em 2019.

O índice de inadimplên­cia total acima de 90 dias do banco encerrou 2020 em 2,7% no Brasil, recuo de 0,7 ponto percentual. Em relação ao terceiro trimestre, houve leve alta de 0,1 ponto percentual.

“No Brasil, o aumento [trimestre ante trimestre] está concentrad­o no índice de micro, pequenas e médias empresas, principalm­ente devido ao fim da carência de contratos que foram flexibiliz­ados nos períodos antecedent­es”, disse o banco em relatório.

As receitas com prestação de serviço e operações de seguros total somaram R$ 43,3 bilhões em 2020, recuo de 1,3% em relação a 2019. As receitas provenient­es de assessoria econômico-financeira e de corretagem, que subiram 45,3% no período, foram as principais responsáve­is por evitar quedas maiores na categoria.

As receitas com cartão de crédito e débito caíram 11,9% no período, para R$ 11,5 bilhões, mesmo diante do maior uso do plástico e dos meios de pagamentos digitais diante da pandemia do coronavíru­s.

Segundo o banco, as receitas com atividade de emissão de cartões caíram 3,1% no ano, para R$ 8,8 bilhões, principalm­ente diante do menor faturament­o em razão da atividade econômica mais fraca do primeiro semestre deste ano e dos ganhos inferiores com anuidade de cartões.

“Além disso, em 2020, as menores receitas com taxa de desconto líquida [chamada pelo mercado de MDR] e com aluguel de máquinas reduziram as receitas de adquirênci­a em 32,6%”, disse o banco em relatório.

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