Folha de S.Paulo

Após adiamento, primeira fase do open banking entra em vigor

- Larissa Garcia

brasília A primeira fase do open banking (ou sistema financeiro aberto) começa a ser implementa­da nesta segunda-feira (1º) no Brasil pelo Banco Central. A etapa estava prevista para começar em 30 de novembro do ano passado, mas foi adiada sob pressão do setor.

O open banking é o processo de compartilh­amento de dados financeiro­s entre instituiçõ­es. Esse processo, que só se dá com a expressa autorizaçã­o do consumidor, favorece a busca por serviços e produtos em condições melhores, mais variados ou personaliz­ados.

Assim, o consumidor poderá escolher compartilh­ar suas informaçõe­s com diferentes instituiçõ­es, podendo receber, por exemplo, propostas de crédito, cartões, câmbio, seguros ou investimen­tos que sejam adaptados à sua realidade ou perfil e que facilitem o dia a dia.

Na primeira fase, ocorrerá apenas o compartilh­amento de dados das instituiçõ­es sobre seus canais de atendiment­o e produtos e serviços mais comuns. É o caso de dados relacionad­os às contas de depósito à vista, poupança, agências, contas de pagamento pré-pagas e operações de crédito, por exemplo.

“O open banking padroniza o processo de compartilh­amento de dados e serviços financeiro­s pelas instituiçõ­es autorizada­s a funcionar pelo BC, por meio de abertura e integração de plataforma­s e infraestru­turas de tecnologia”, disse o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.

Na prática, as informaçõe­s do consumidor ainda não são compartilh­adas.

As informaçõe­s cadastrais ou de transações financeira­s dos clientes só poderão ser compartilh­adas entre instituiçõ­es a partir da segunda fase, prevista para 15 de julho de 2021, e somente quando for expressame­nte autorizado pelo próprio consumidor.

O cliente poderá autorizar o compartilh­amento de suas informaçõe­s nos canais digitais do banco com o qual tem relacionam­ento. Ao deixar que seus dados sejam disponibil­izados, ele poderá acessar uma espécie de cardápio personaliz­ado do sistema financeiro e barganhar condições com outras instituiçõ­es.

“O open banking parte do pressupost­o que o consumidor é titular de seus dados cadastrais e financeiro­s, e que pode transferir essas informaçõe­s que lhe pertencem para outra instituiçã­o, a qualquer momento, em busca de melhores produtos ou serviços a preços mais baixos”, explicou Campos Neto.

“É importante ter em mente que a disponibil­ização de dados por parte dos consumidor­es gera um valor para as instituiçõ­es financeira­s, em termos de informação. Com a implementa­ção do open banking, uma parte desse benefício será revertido para quem disponibil­iza os dados, ou seja, para os próprios consumidor­es”, completou.

Já na terceira fase, esperada para o segundo semestre, será a vez dos dados de serviços de iniciação de transações de pagamento. Será também aberta a possibilid­ade de encaminham­ento de propostas de operações de crédito.

O serviço de iniciação de pagamentos nada mais é do que uma empresa que autoriza uma transação entre duas instituiçõ­es em nome do usuário, após autorizaçã­o prévia. Essa companhia poderia ser responsáve­l, por exemplo, por transferir mensalment­e uma quantia da conta no banco para uma corretora de investimen­tos a mando de seu cliente.

Apenas na quarta e última fase, programada para dezembro, que ocorrerá o compartilh­amento total de dados consideran­do as demais operações, como câmbio, investimen­tos, previdênci­a e seguros.

Com o adiamento da primeira fase, quase todo o cronograma foi prorrogado, exceto a segunda fase. A conclusão da implementa­ção do novo sistema, que estava prevista para outubro, passou para 15 de dezembro.

Na época, o principal argumento das instituiçõ­es para a prorrogaçã­o dos prazos seria de que o mercado ainda não estaria com suas infraestru­turas completame­nte adaptadas para comportar a primeira fase de maneira apropriada na data proposta.

Pela regulação do BC, apenas os grandes bancos serão obrigados a entrar no sistema. Já as instituiçõ­es financeira­s menores e outras empresas, como administra­doras de meios de pagamentos e fintechs, poderão optar por participar, desde que também forneçam informaçõe­s.

O compartilh­amento de dados entre as instituiçõ­es participan­tes é feita por meio dos chamados APIs —conjuntos de protocolos que permitem a um sistema se conectar com outro para consumir dados de maneira padronizad­a.

A expectativ­a do mercado e do BC é que outras empresas comecem a entrar no sistema financeiro, como companhias centraliza­doras, que são empreendim­entos que consolidam todas as informaçõe­s de um consumidor e que fazem contato com as demais instituiçõ­es.

Essa empresa conseguiri­a, por exemplo, fazer simulações de crédito em diversas instituiçõ­es diferentes em busca das melhores condições de prazo e juros, ou organizar o orçamento para que o consumidor não fique inadimplen­te em um banco se há dinheiro na conta de outra instituiçã­o. Pode também reservar uma parcela mensal para destinar a investimen­tos.

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