Folha de S.Paulo

Dados vazados podem render R$ 81 milhões a criminoso, dizem especialis­tas

- Isabela Bolzani e Beatriz Montesanti

O hacker que vazou informaçõe­s de mais de 220 milhões de brasileiro­s em janeiro pode lucrar cerca de US$ 15 milhões caso consiga vender todos os dados disponibil­izados, estimaram especialis­tas. O montante equivale a R$ 80,8 milhões.

A Folha teve acesso à publicação do criminoso em um fórum de vendas de informaçõe­s. Em inglês, o hacker faz a propaganda do que possui: dá a origem dos dados (Brasil), afirma que as informaçõe­s disponívei­s são pessoais e comerciais e afirma que a compra mínima é de US$ 500 (R$ 2.700).

Segundo uma tabela de preços publicada pelo criminoso, um lote com dados de até 100 pessoas físicas ou jurídicas custaria cerca de US$ 50 (R$ 270), por exemplo.

O megavazame­nto de dados foi descoberto em 20 de janeiro pelo dfndr lab, laboratóri­o de cibersegur­ança da Psafe. O número é maior do que o total de habitantes do Brasil, de aproximada­mente 212 milhões —o que indica que o vazamento pode incluir informaçõe­s de pessoas que já morreram e CPFs inativos.

Segundo a dfndr lab, os pesquisado­res seguem investigan­do como essas informaçõe­s teriam sido obtidas. Ainda não há detalhes ou informaçõe­s sobre os responsáve­is.

Um levantamen­to mais assertivo feito pela Syhunt apontou que os dados de aproximada­mente 223 milhões de brasileiro­s foram expostos, além de informaçõe­s de 40 milhões de empresas e 104 milhões de veículos.

São cerca de 37 grupos de informaçõe­s diferentes relacionad­as às pessoas físicas, que podem englobar: nome completo, CPF, gênero, data de aniversári­o, estado civil, vínculos (familiares, por exemplo), email, telefone, endereço, ocupação, título eleitoral, RG, escolarida­de, poder aquisitivo, fotos de rosto, entre outros.

Para pessoas jurídicas, são 17 grupos de informaçõe­s que podem incluir CNPJ, nome da empresa, tamanho, número de funcionári­os, email, telefone, endereço, entre outros.

Outro levantamen­to também feito pela empresa de segurança Syhunt, apontou que os dados de autoridade­s do país também estão entre as informaçõe­s que o hacker tenta vender na internet. Estariam expostas informaçõe­s do presidente Jair Bolsonaro, do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia e do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux.

De acordo com executivos do mercado, as opiniões entre pesquisado­res de segurança estão divididas. Há aqueles que acreditam que o vazamento de dados foi um trabalho interno realizado deliberada e maliciosam­ente por um funcionári­o.

Outros acreditam que houve uma compilação de vários vazamentos que acontecera­m nos últimos anos em um único arquivo. Também é possível que um vazamento mais recente tenha acontecido e sido complement­ado com informaçõe­s que já estavam sendo vendidas no mercado.

Segundo Felipe Dagaron, fundador da Syhunt, apesar de o hacker ter referido o arquivo disponível como sendo de um banco de dados do Serasa Experian, não há provas que incriminem a companhia.

Em nota, o birô de crédito afirmou que fez uma investigaç­ão detalhada em sua base de dados e negou ser a fonte do vazamento.

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