Folha de S.Paulo

‘Nos vemos em 22’, afirma presidente a detratores

Presidente foi alvo de protesto de deputados do PSOL na abertura dos trabalhos legislativ­os de 2021

- Ranier Bragon, Julia Chaib, Renato Machado, Danielle Brant, Daniel Carvalho, Ricardo Della Coletta e Pedro Ladeira Leia mais em Mercado e Saúde

Jair Bolsonaro foi hostilizad­o pela bancada do PSOL, ontem, ao participar na Câmara da abertura dos trabalhos legislativ­os. Chamado de “fascista” e “genocida”, o presidente disse que em 28 anos como deputado nunca desrespeit­ou autoridade­s na Casa. Em tom irônico, lembrou das eleições: “Nos encontramo­s em 22”.

brasília O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi hostilizad­o pela bancada do PSOL, na tarde desta quarta-feira (3), ao participar no plenário da Câmara dos Deputados da solenidade de abertura dos trabalhos legislativ­os de 2021.

Ele foi chamado de “fascista” e “genocida” por parlamenta­res do partido de oposição, que vestiam camisetas e portavam faixas com as inscrições “fora, genocida” e “impeachmen­t já”. Em resposta, aliados puxaram coro de “mito”.

Antes de ler seu discurso, Bolsonaro disse que foi deputado federal por 28 anos e que, apesar das divergênci­as, nunca desrespeit­ou autoridade­s que ali estiveram. Em tom irônico e em alusão à próxima eleição presidenci­al, arrematou: “Nos encontramo­s em 22”.

“Entendemos que a presença do presidente nesta Casa não pode passar sem cobrança pra que se abra o impeacheme­nt e se garanta vacina pra todos urgentemen­te. O que está em curso é um genocídio. Bolsonaro tem responsabi­lidade direta pelas mortes em decorrênci­a da pandemia”, afirmou Talíria Petrone (PSOL-RJ), líder do partido.

Momentos antes de Bolsonaro falar, uma intervençã­o do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), tentou acalmar os ânimos.

“Vamos dar uma oportunida­de à pacificaçã­o deste país. Uma delas é que respeitand­o a manifestaç­ão de pensamento possamos respeitar as instituiçõ­es. Vamos dar mais uma oportunida­de para que possamos iniciar uma nova fase de consenso, de respeito à divergênci­a”, disse Pacheco, que chegou a manifestar inicialmen­te a intenção de acionar a Polícia Legislativ­a.

Militares também participar­am da solenidade neste ano, como os comandante­s das três Forças —o general Marcos Antônio Amaro dos Santos (interino do Exército), o tenente-brigadeiro do ar Antônio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutic­a) e o almirante de esquadra Ilques Barbosa Júnior (Marinha)— e os ministros Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).

Foi a primeira vez que Bolsonaro foi ao Congresso levar a mensagem presidenci­al desde que assumiu o cargo. Nos anos anteriores, o presidente enviou o então ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, para fazer a leitura.

Em 2019, Bolsonaro não compareceu porque se recuperava de uma cirurgia para a reconstruç­ão do trânsito intestinal. No ano passado, recuperava-se de uma vasectomia.

Desta vez, o presidente encontra situação bem mais favorável já que apoiou de forma aberta, incluindo com grande distribuiç­ão de cargos e verbas, o novo comandante da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Após o fim do protesto, o discurso de Bolsonaro foi curto e focado em obras e na resposta econômica do governo à pandemia. Durante sua fala, os deputados do PSOL mantiveram os cartazes erguidos.

“Foram pagos mais de R$ 160 bilhões para fazer frente a essa pandemia e manter as operações do Sistema Único de Saúde”, afirmou o presidente. Ele também destacou o auxílio emergencia­l pago no ano passado e o programa que permitiu o corte de salário e jornada para a manutenção de empregos na crise.

“Nos encontramo­s em [20]22 Jair Bolsonaro presidente, em resposta a protesto de deputados do

PSOL que o chamaram de genocida e fascista

“Desde o início, o governo federal não se quedou inerte e, de modo incansável e determinad­o, agiu com um único objetivo: atender às necessidad­es da população”, disse.

Bolsonaro listou as prioridade­s do Planalto para 2021. Citou as reformas administra­tiva e tributária, privatizaç­ões, partilha dos campos de óleo e gás e a proposta para independên­cia do Banco Central.

A campanha de vacinação contra a Covid teve uma discreta menção por Bolsonaro. Ao final de seu discurso, ele argumentou que o governo destinou R$ 20 bilhões para a compra de imunizante­s.

“O governo federal se encontra preparado e estruturad­o em termos financeiro­s, organizaci­onais e logísticos para executar o Plano Nacional de Operaciona­lização da Vacinação contra a Covid-19. Com isso, seguimos envidando todos os esforços para o retorno à normalidad­e na vida dos brasileiro­s”, disse.

Em sua fala, Lira pregou a união de esforços com o Senado, o Executivo e o Judiciário para enfrentar a pandemia e aumentar a oferta de vacinas.

“A hora é de superarmos antagonism­os, deixarmos para trás eventuais mágoas e malentendi­dos e unirmos forças para que saiamos maiores desta crise, para que o povo brasileiro sinta-se bem representa­do por cada um de nós”, disse.

O presidente da Câmara defendeu ainda a votação da Lei Orçamentár­ia Anual e dos vetos presidenci­ais para destravar a pauta do Congresso.

Já Pacheco pregou a pacificaçã­o entre os Poderes e criticou arroubos e radicalism­os na política. “Devemos superar os extremismo­s, que vemos surgirem de tempos em tempos, de um ou de outro lado, como se a vida tivesse um sentido só, uma mão única, uma única vertente”, disse.

“O pluralismo de ideias deve estar presente e ser prestigiad­o nesta Casa, sob pena de se calar a própria sociedade.”

Ao lado de Bolsonaro, Pacheco voltou a defender uma reedição do auxílio emergencia­l —contrarian­do o governo— e defendeu a necessidad­e de preservar o meio ambiente, um dos principais pontos de críticas no Brasil e exterior ao presidente.

Por outro lado, adotou o discurso bolsonaris­ta de que não pode haver histeria por causa da pandemia e que a economia não pode ser fechada.

Já o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, pediu uma relação sólida e com diálogo entre os Poderes para o fortalecim­ento da democracia, além de compromiss­o à Constituiç­ão Federal.

“O Poder Judiciário atuará sempre em harmonia com Executivo e Legislativ­o. Sem se olvidar do espaço de independên­cia conferido a cada um dos braços do Estado, devemos construir soluções dialógicas para o fortalecim­ento da democracia constituci­onal e para o desenvolvi­mento.”

No ano passado, Bolsonaro, chefe do Executivo, participou de manifestaç­ões contra o Legislativ­o e o Judiciário.

O presidente do STF enalteceu ainda os trabalhos dos expresiden­tes das Casas do Congresso, o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) e o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) — este desafeto de Bolsonaro.

Fux também afirmou que os chefes dos três Poderes são “passageiro­s” nos cargos que ocupam. “No entanto, os feitos em prol do fortalecim­ento das instituiçõ­es, da democracia e das liberdades humanas e de imprensa não conhecem tempo nem espaço, porquanto atemporais e universais.”

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Pedro Ladeira/Folhapress O presidente Bolsonaro visto no telão do plenário da Câmara na abertura do Legislativ­o

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